Especial Santa Tecla | Unidos pela fé e propósitos em comum

Especial Santa Tecla | Unidos pela fé e propósitos em comum
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A Igreja Luterana, uma das vertentes do protestantismo, é o templo mais antigo da Santa Tecla. Foto: Giro de Gravataí/Especial

Na quarta reportagem sobre o distrito, o Giro de Gravataí traz o histórico das igrejas locais católica e protestante. Também destacamos a prática da filosofia Seicho-no-ie.

No contexto histórico de Santa Tecla, a religião é um dos temas mais importantes. Das primeiras famílias a povoarem a região até hoje, a maioria é ligada à Igreja Católica ou Luterana. As duas instituições foram construídas a partir da mobilização dos moradores e, segundo relatos, sempre houve muito respeito e cooperação entre quem segue o catolicismo e o protestantismo. A reportagem de hoje (10/3) traz um pouco da história dessas igrejas e do vínculo da comunidade com o cristianismo.

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Com doações e mutirões da comunidade, a Igreja Católica de Santa Tecla foi construída em dois anos. Foto: Giro de Gravataí/Especial

Igreja Católica de Santa Tecla

O historiador Nelson Bitelo, residente nesse distrito de Gravataí, conta que a construção da Igreja Católica de Santa Tecla iniciou em 1929, mas bem antes disso já era notável a ligação da comunidade com a religião. Cita um exemplo: o construtor e fundador de um dos tradicionais alambiques do lugar, Cristiano Muller, cedia espaço em sua propriedade para a realização das missas, antes dos católicos ganharem a capela na estrada hoje denominada Henrique Closs. Nessa época, o padre Pedro Wagner vinha a cavalo para conduzir a cerimônia.

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A iniciativa de construir a igreja, bem como os recursos para a obra, foram de alguns moradores. Uma comissão foi criada para cuidar da construção, tendo como lideranças Lino Schuch, Artur Muller e Ozório de Oliveira Bitelo. Hoje em dia, uma placa na entrada da instituição relembra momentos importantes dessa história, como a inauguração, que ocorreu em 1931, quando a capela era vinculada à Paróquia Nossa Senhora dos Anjos.

A área onde foi construída a Igreja Católica de Santa Tecla foi doada por Albino Cristiano Petry, bisavô de Nelson. O morador que teve papel fundamental para a construção não pôde, contudo, ver a obra concluída. Albino morreu aos 56 anos de idade, em 16 de dezembro de 1930, meses antes da inauguração. Como o local não dispunha de um cemitério e também para homenagear Petry, a comunidade se uniu, mais um vez, e construiu o espaço. O bisavô do historiador foi o primeiro sepultado nesse cemitério, que fica ao lado da capela católica e atualmente é de responsabilidade da Prefeitura de Gravataí.

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Albino Petry, que doou o terreno para construção da capela, foi o primeiro sepultado no Cemitério de Santa Tecla, em dezembro de 1930. Foto: Giro de Gravataí/Especial

Em 1950, Nelson Bitelo, o Nelinho (pai do historiador), contribuiu para a arborização da área no entorno à igreja. Vinte e dois anos depois foi construída a torre. Na década de 70, a instituição era vinculada à Paróquia Nossa Senhora de Fátima e o vigário era o sacerdote Nicolau Kuhn. Há oito anos, a Igreja de Santa Tecla passou por uma restauração, custeada por membros da comunidade. Desde então, pertence à Paróquia Divino Espírito Santo, de Cachoeirinha. O pároco atual é Gilberto Pacheco, sucessor de Erni Reckenwald.

Comunidade e histórias com a capela

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A Capela de Santa Tecla mantém, ainda hoje, um forte vínculo com a comunidade. É um local que reúne dezenas de famílias, unidas pela fé e a identificação com os valores pregados pelo cristianismo. Todos os católicos que frequentam a instituição têm recordações de momentos marcantes ali vivenciados. Este é o caso de Luis Cristóvão Rosa, atual presidente da Comunidade Católica de Santa Tecla e um dos organizadores da grande festa, promovida anualmente pela igreja. A próxima edição do evento, aliás, acontece neste domingo (12/3), conforme noticiamos na reportagem anterior da série.

Luisinho, como também é chamado na região, revela que sua ligação com a igreja local vem desde o nascimento. “Minha mãe, Cleosa Rosa, foi catequista por muitos anos. Há décadas está na diretoria e atualmente é a catequista de Batismos. Fui criado no seio da família Bitelo, sendo tratado como filho pela professora Eva, que, por quase toda a vida esteve ligada às atividades religiosas, sendo catequista e ministra da Eucaristia. Ela nos tratava com muita rigidez quando o assunto era religião, mas, sempre foi um prazer acompanhá-la em todas as atividades e missas”, relata o gravataiense, que trabalha como coordenador de estoques na Mineração Vera Cruz, uma das maiores empresas situadas nessa região de Gravataí.

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Luis com a professora Eva e Cleosa. Foto: Divulgação

Conforme o presidente da Comunidade Católica, a trajetória recente da capela inclui momentos difíceis, como a perda de Silso Corrêa, um dos membros mais ativos nas ações paroquiais. “Quase perdemos também um de nossos presidentes mais longevos e importantes, João Paulinho Lussani. Quase fraquejamos com nossa missão. Recebi do padre Erni Reckenwald a tarefa de retomar as Festas de Santa Tecla junto com a comissão festeira. Em 2019, retomamos o evento. Em uma de nossas reuniões, com o intuito de elevar o ânimo dos companheiros, declarei: seremos nós a geração que irá falhar com a missão de manter tudo aquilo que foi construído com tanta fé e dedicação? Nossa geração não precisou doar terras, não precisou construir uma capela e nem buscar um sino em outra cidade. Temos a obrigação de ao menos manter esses prodígios! Amigos, não seremos nós derrotados pelos vieses da vida. Juntos manteremos e melhoraremos tudo aquilo que nossos antecessores fizeram”.

Muitos residentes na Santa Tecla foram batizados, fizeram a Primeira Comunhão e a Crisma, casaram nesta igreja. Os católicos que moram no distrito não medem esforços para manter viva a história da instituição religiosa e fazem isso com união e fé. “Há um engajamento incondicional da comunidade. E sem essa participação não conseguiríamos”, frisa Luis.

O atual pároco é Gilberto Pacheco. Foto: Divulgação

A padroeira

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O Dia de Santa Tecla é celebrado em 23 de setembro. As referências quanto ao seu histórico indicam que não se sabe exatamente qual a terra natal. Cogita-se Isaúria ou Licônia, na Turquia. Não há dúvidas, no entanto, de que foi uma das figuras mais importantes dos tempos apostólicos, sendo muito celebrada entre os gregos.

Ao ouvir uma conversa sobre o valor da castidade entre o apóstolo Paulo e seu anfitrião Onesíforo, Tecla decidiu que não se casaria, porém havia sido prometida a um jovem chamado Tamiris. Familiares e o noivo tentaram demovê-la da ideia, mas ela estava convicta da missão. Com isso, Tamiris agiu para a prisão e tortura de São Paulo. A atitude não a afastou dos ensinamento de Cristo. A jovem foi, algumas vezes, ao cárcere para dar apoio e solidariedade ao apóstolo. O gesto deixou o ex-noivo ainda mais irado e ele a denunciou, sendo que ela foi sentenciada à morte na fogueira. No dia da condenação, as chamas não a queimaram.

Um tempo depois, em outro julgamento, foi decidido que Tecla seria atirada às feras, diante do povo no circo. Mais uma vez, a condenação não se cumpriu, pois os animais a rodeavam mansamente, permitindo, inclusive, que ela os acariciasse. Tecla também foi jogada dentro de uma escura caverna, com serpentes venenosas, porém nada lhe aconteceu.

Santa Tecla morreu aos 90 anos de idade, após cumprir sua missão de converter muitos pagãos. É considerada a padroeira dos agonizantes e também solicitada para interceder por eles contra problemas de visão.

A Igreja Luterana foi construída na mesma área onde está situado o mais antigo cemitério de Santa Tecla. Foto: Giro de Gravataí/Especial

Igreja Protestante

A Igreja Luterana, uma das vertentes do protestantismo, é o templo mais antigo da Santa Tecla. A instituição foi inaugurada em 1916 pelo pastor, professor e jornalista Wilhelm Rotermund, que nasceu em 1843 na Alemanha, onde estudou Teologia. De acordo com uma biografia do alemão apresentada pelo portal Luteranos, aos 30 anos de idade, ele foi trabalhar como secretário do inspetor da Sociedade Missionária Renania, Friedrich Fabri, que foi quem lhe pediu para atuar no Rio Grande do Sul, organizando a vida eclesial das comunidades luteranas.

Rotermund fundou a instituição protestante local. Imagem: Reprodução

Ao chegar no estado, o pastor se direcionou à cidade de São Leopoldo, onde, inicialmente, teve dificuldades para conseguir a confiança da população. Porém, persistiu e, com o passar do tempo, acabou se tornando líder dos cristãos evangélicos-luteranos de toda a região. Ele também escreveu muito sobre a fé e as crenças através dos jornais, o que, de certa forma, acabou expandindo seu contato com outras pessoas e cidades. Wilhelm Rotermund tinha 73 anos quando fundou a Igreja Protestante desse distrito gravataiense. Segundo alguns moradores da região, era a cavalo que o alemão vinha, semanalmente, de Lomba Grande até o bairro, para os cultos.

Darci Kuhsler, atual responsável pela Igreja Luterana, conta que o terreno para a construção do templo foi doado por Marcos Wulff, avô de sua esposa, Vera. A instituição religiosa foi construída ao lado do cemitério onde foram sepultados vários alemães e descendentes que contribuíram para a formação de Santa Tecla. Algumas lápides, inclusive, contêm frases em alemão, idioma que, foi praticado por várias famílias, mas hoje em dia, não é comum na cidade. Antes da construção do Cemitério de Santa Tecla, os católicos também eram enterrados no local.

No local onde foram enterrados Júlio e Luiza Closs, a lápide traz uma frase em alemão que significa “a memória do justo permanece em bênção”. Foto: Giro de Gravataí/Especial

Como o pastor Rotermund não morava em Gravataí, Marcos era o responsável pela segurança e manutenção da igreja, atribuições exercidas posteriormente pelo filho caçula, Bruno Wulff. Vera, que é filha de Bruno, recorda que o sino da igreja tocava todos os dias às 11h30 para anunciar a proximidade do meio dia. O sinal alertava os agricultores que estava na hora de voltar para casa, almoçar e descansar até o retorno às atividades no campo. Eram os alunos da escola local os responsáveis por tocar o sino.

Em conversa com o Giro de Gravataí, Seu Darci e o historiador Nelson Bitelo destacaram que a Igreja Luterana tem muitas peças originais, porém precisa de restauração, o que é um obstáculo, considerando a dificuldade em angariar fundos junto à população. Os protestantes residentes na região reclamam, inclusive, que a igreja está fechada desde o início da pandemia porque não há pastores para atuar no local. Há expectativa, todavia, de que um pastor seja designado em breve para a retomada dos cultos.

Porta e maçaneta são algumas das peças originais conservadas na Igreja Luterana. Foto: Giro de Gravataí/Especial

Academia de Santa Tecla

Quando se fala sobre histórias que unem pessoas com propósitos em comum e que compartilham crenças, é importante mencionar também a presença da Academia de Treinamento Espiritual Seicho-no-ie na Santa Tecla. A instituição tem 40 anos de atuação na localidade. Trata-se da segunda academia deste segmento no país.

Na década de 70, o professor Podalírio de Oliveira recebeu uma cura com a prática espiritual e decidiu presentear o grupo que o auxiliou com um terreno. Como os adeptos à filosofia Seicho-no-ie do RS precisavam viajar até São Paulo para participar dos retiros e seminários e visto que esse já era um desejo antigo do descendente de japoneses Masatugo Kuamoto, iniciou a instalação em Gravataí.

A inauguração oficial da Academia de Santa Tecla foi realizada no dia 2 de julho de 1982. Desde então são realizados retiros espirituais, seminários, orações, entre outros projetos. Atualmente, a unidade contempla todo o estado e parte de Santa Catarina. Uma das ações tradicionais ocorre em setembro: um seminário na língua espanhola, evento que recebe pessoas de vários países.

O movimento Seicho-no-ie está presente na Santa Tecla há 40 anos. Foto: Divulgação
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