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- 24 de fevereiro de 2023
Especial Santa Tecla | Memórias e legado das famílias
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Hoje (24/2), o Giro de Gravataí publica a segunda reportagem da série sobre a Santa Tecla, contando um pouco da história de algumas famílias que contribuíram para o desenvolvimento da região.
A Santa Tecla é uma das regiões de Gravataí com mais histórias para serem contadas. São muitas as pessoas que ajudaram o local a se desenvolver. São várias as famílias que, mediante trabalho árduo, dedicação e persistência, trouxeram prosperidade ao lugar e fortaleceram o significado de viver em comunidade. Nem tudo é perfeito na região, como contam alguns moradores, mas a riqueza histórica e cultural desse distrito, ninguém contesta.
Na estreia da série, o Giro de Gravataí destacou a atuação do construtor Cristiano Muller e sua família, que conduz até hoje um alambique para a produção artesanal da cachaça. Residentes na Santa Tecla relatam que um dos principais responsáveis pela qualidade da inigualável aguardente é Renato Bitelo Muller, bisneto de Cristiano e irmão de Eloi, citado na matéria anterior.
Hoje, a reportagem traz histórias dos Wulff, Closs e Schuch, representando todas as famílias de descendência alemã que deixaram legado, preservaram tradições e fizeram o local crescer.
A referência dos Wulff
O primeiro descendente de alemães da Família Wulff a vir morar em Gravataí foi Marcos, conforme relatado à reportagem. Ele se casou com Elvira, com quem teve quatro filhos, Erna, Willy, Emílio e Bruno. Um dos netos de Marcos Wulff, Ivo Pacheco, de 93 anos, revela que o avô produzia farinha de mandioca e tinha plantação de fumo. Manteve ainda um armazém. Seu Ivo recorda muito bem das vezes em que andaram de carreta transportando as mercadorias pela região. “Meu avô também era músico”, salienta o filho de Erna Wulff e Darci José Pacheco.
Segundo o morador da Santa Tecla, Marcos era um músico talentoso, tocava trompa com muita habilidade. A banda dele animava as festas da comunidade. E o povo de descendência alemã gosta de uma boa festa, do convívio social e diversão! A região já foi palco de diversos bailes Kerb.
Orgulhoso de pertencer à Família Wulff, Ivo tem uma trajetória de muito trabalho – foi professor, atuou em escritórios de contabilidade e como corretor de imóveis, além de ter se formado em Direito. E essa, certamente, é uma das marcas dos Wulff. Para perceber isso, basta considerar a contribuição de Marcos, que começou com “uma rocinha”, mas deixou de herança para os familiares mais de 80 hectares, de acordo com o neto.
Bruno Wulff também foi muito ativo nessa comunidade, teve comércio e se dedicou ao ofício de barbeiro. Casado com Lony Bier, teve quatro filhos, Vera, Gladis, Helma e Luiz Marcos. Vera, residente na Santa Tecla, conta que o pai sonhava com um filho homem e chegou a fazer uma promessa para pedir essa bênção. “Se tivessem um menino, iria vir do campo do Internacional até aqui, a pé. E veio”, comenta a filha. Contudo, apesar da ligação do caçula de Marcos Wulff com o Colorado, Luiz é torcedor do Grêmio!
Segundo Vera, Bruno, que ficou surdo após uma forte gripe, era muito querido na região. “Ajudou muita gente”, frisa ao explicar que o pai, diversas vezes, vendeu fiado e utilizava o caderninho para facilitar o pagamento dos moradores no armazém e padaria. O ofício de padeiro, aliás, ele aprendeu no estabelecimento de Frederico Afonso Becker, o primeiro do ramo na região. Comandando o próprio negócio, em 1949, se especializou na produção de doces, principalmente na panelinha de coco, que até hoje é famosa na cidade.
As panelinhas de coco são uma receita de família. Nos últimos anos, Vera e o esposo, Darci Kuhsler, comandaram a fabricação, porém, agora a expectativa é de que um dos netos, Guilherme, seja o responsável por dar continuidade à tradição. Em eventos da Santa Tecla, a iguaria é um sucesso. Nessas ocasiões, vendem facilmente mais de 500 panelinhas.
Uma lei municipal de 2013 alterou oficialmente o nome de uma das principais estradas do distrito, a Quebra-Dente, para Bruno Wulff, em homenagem a trajetória dele na comunidade.
Lembranças de bons tempos
O Giro de Gravataí perguntou ao carismático Ivo Pacheco quais as melhores lembranças que possui da jornada na Santa Tecla. Ele admite que são muitas, mas a fase da adolescência é a que recorda com um carinho especial. O senhor diz que um grupinho de guris e gurias costumava sentar em um banco comprido de madeira, na estrada, e ficava jogando conversa fora. “Não sei onde encontrávamos assunto para tantas gargalhadas”, brinca. A animação dos jovens, que “perdiam a hora” às vezes, incomodava parte da vizinhança, que queria silêncio nos momentos de descanso. O impasse foi resolvido: “cortaram o banco”, diz o aposentado com bom humor.
Conforme o filho de Erna Wulff, outros momentos especiais eram as serenatas. A garotada chegava a ir de casa em casa, cantando uma música para cada família, que retribuía com comes e bebes. Da infância, uma lembrança marcante para Ivo é a dedicação da professora Nelda Closs, que começou a lecionar aos 14 anos em substituição ao educador que deixou à escola por ter conseguido outra oportunidade de trabalho. Ela dedicou à vida ao ensino.
A união da Família Closs
A principal estrada da Santa Tecla, que cruza vários bairros, iniciando na ERS-118 e seguindo até Lomba Grande, em Novo Hamburgo, recebeu o nome de Henrique Closs, em 1982. O homenageado era filho de Júlio e Luiza Closs, que estão entre os primeiros moradores da região. Henrique nasceu em 1894 e faleceu aos 68 anos de idade. Teve dois filhos, Paulo e Nelda, frutos do casamento com Olga.
Henrique Closs, apelidado de Ricus, atuou como comerciante e juiz de paz. Seu armazém abastecia toda a região. O caderno utilizado no estabelecimento para registro das compras é considerado uma relíquia para os descendentes. “Era o armazém que mais vendia. Não faltava nada! E ele era uma pessoa maravilhosa, sempre ajudava os outros”, afirma a sobrinha Dinorá Tecla Bitelo Dias, relatando que o tio não hesitava em dar descontos ou mesmo não cobrar de quem estava em dificuldade financeira.
Dinorá, que auxiliava Henrique no comércio, lembra que uma vez por semana havia uma feira, que atraia grande público ao local. “O pessoal vinha de carretas, carroças, gente a pé e alguns de carro”, salienta. O filho de Júlio e Luiza também gostava de futebol, tendo fundado um time na Santa Tecla.
Grande parte da Família Closs, que se mantém unida, mora até hoje nesse distrito gravataiense, na mesma casa. Paulo se casou com Araci Dihl e teve três filhos, Carla, Cláudia e Júlio. A irmã dele, Nelda, não teve filhos, no entanto dedicou à vida para seus alunos, na Escola Joaquim de Santa Úrsula (hoje Santa Tecla). Ser professora era uma vocação que desenvolvia com muito amor. “E foi também uma tia muito dedicada, um exemplo, tanto que minha irmã e eu nos tornamos professoras”, ressalta Carla Closs, que lecionava História e agora está aposentada. Cláudia foi professora de Português e Júlio é arquiteto. A geração atual dos Closs inclui dois bisnetos do juiz de paz, Gabriel e Pedro Henrique, e um tataraneto, Gonzalo.
O verdadeiro tesouro de Lino Schuch
O descendente de alemães Lino Schuch foi uma das pessoas que mais contribuiu para o desenvolvimento da região, a partir do seu conhecimento em serraria, carpintaria e ferraria. Em 1910, ele abriu a primeira serraria movida a vapor da Santa Tecla. De acordo com o historiador Nelson Bitelo, a dedicação aos ofícios foi de extrema importância para a construção de carretas, arados e outros implementos fundamentais na lida de quem morava na área rural. Hoje ainda, esses são elementos presentes no dia a dia de famílias da região.
O negócio da Família Schuch teve continuidade nas gerações seguintes, principalmente com os filhos, Zildo e Rudin. A casa onde ele morava está em ruínas no terreno em frente à Escola Santa Tecla. Ao lado fica uma praça que precisa de revitalização. Nelson destaca que o lugar atrai curiosos às vezes e já gerou um episódio inusitado. Alguns jovens já foram vistos escavando perto da residência e utilizando aparelhos que detectam metais. Provavelmente achando que encontrariam um tesouro em vez de resquícios dos materiais utilizados na oficina de Lino.
O historiador antecipou ao Giro de Gravataí que há intenção de buscar apoiadores para um projeto de transformação das ruínas da casa de Schuch em um espaço para resgate e preservação da cultura alemã. “Um museu, uma biblioteca, uma Casa do Colono, algo assim”, comenta.