Nando Rocha: Até quando as crianças serão prisioneiras?

Nando Rocha: Até quando as crianças serão prisioneiras?
Continua Depois da Publicidade
Foto: Google/Reprodução

Onze horas da noite. Quatro, cinco, seis amigos se empoleiram sobre um cinamomo. Cansados, extenuados de um dia intenso. Bicicleta, bola, corrida, taco. Tudo no mesmo dia. Uma a uma as mães começam a gritar para retornar à casa. É o fim de mais um dia daquele tempo que remontamos uma infância feita de gente. As crianças ficavam soltas.

Continua Depois da Publicidade

A rua empoeirada, de paralelepípedos, era uma extensão da casa. Só paravam se passasse um carro. Jogavam bola na chuva até alguém abrir o tampão do dedão do pé. Eu era um péssimo jogador de taco, mas um excelente jogador de chimpa. A maioria das crianças de hoje nem sabem o que é chimpa. Uma pedra precisava acertar a outra. Era uma espécie de bocha kids. Tive um carrinho de rolimã e toda vez que descia a lomba de saibro cantava mentalmente o tema da vitória do Ayrton Senna.

Meus joelhos não chegavam a cicatrizar porque volta e meia ralavam de novo num tombo de bicicleta. O máximo de tecnologia que experimentava era um Mega Drive que instalava na área quando os amigos chegavam. Até queimar o ‘batatão’. Aí a gente apelava pra sinuca. A brincadeira mais sofisticada que tivemos foi na febre do roller. Todos compraram, ganharam de presente.

Continua Depois da Publicidade

A rua ganhou um pinche, uma espécie de pré-asfalto que durou anos. E aquele era o cenário dos nossos desafios de “Hockey de rua”. Subíamos nos rollers e pegávamos nossos tacos. As goleirinhas improvisadas de chinelo delimitavam o ‘campo’. O meu roller era de qualidade inferior. Enquanto a maioria tinha rodinhas de silicone, as minhas pareciam sabão. Caí todos os tipos de tombo imagináveis. Mas adorava. Hoje eu não permito que minha filha de três anos chegue perto do portão.

Meu afilhado de sete anos nunca pisou no asfalto com uma bola, tampouco passou dois minutos empoleirado numa árvore. As brincadeiras deles se limitam ao ambiente da casa dos amigos. E não é para menos. Vivemos numa guerra, numa selva. Não sei como tudo isso vai impactar no futuro dessa geração, mas possivelmente terão dificuldades com o contraditório, com os tombos, com a frustração. A nossa infância era um micro-cenário da vida adulta. Era feita de pessoas, amigos, conhecidos, de gente, de derrotas, de sustos. Os prisioneiros que eu mais me compadeço são as crianças. Até quando?

Continua Depois da Publicidade
Continua Depois da Publicidade
Continua Depois da Publicidade

Notícias Relacionadas

Gravataí e Cachoeirinha vão receber doses da vacina contra a dengue

Gravataí e Cachoeirinha vão receber doses da vacina contra…

  O Rio Grande do Sul deve receber, nos próximos dias, um lote de 126.132 doses de vacina contra a dengue, que serão distribuídas…
Justiça determina que filhos paguem pensão alimentícia a idosa de Gravataí

Justiça determina que filhos paguem pensão alimentícia a idosa…

  Cinco irmãos terão de pagar à mãe idosa, de 88 anos, pensão alimentícia no valor de 10% do salário-mínimo nacional…
Instituições de Gravataí apoiam realização do 1º Encontro de Empreendedores

Instituições de Gravataí apoiam realização do 1º Encontro de…

  Neste sábado (27/4), a partir das 16h, será realizado o 1º Encontro de Empreendedores em Gravataí. A ação ocorrerá na…