Nando Rocha | Um milagre de Natal: da leucemia ao diploma

Nando Rocha | Um milagre de Natal: da leucemia ao diploma
Continua Depois da Publicidade
Marilda Rocha, a mãe do Nando | Foto: Reprodução | Divulgação

Natal de 2001. Sinos e passos de botina invadem os corredores do Hospital Conceição, ala de oncologia. Dezenas de voluntários fantasiam-se de Papai Noel e visitam pacientes alojados no quarto andar. Entre os pacientes, a minha mãe, diagnosticada com leucemia há cerca de 45 dias. Nosso mundo estava desmoronando. Nunca pensamos que pode acontecer conosco. Criada por uma família humilde que fazia questão de preservar a tradição natalina, sobretudo a figura do Papai Noel, a visita do bom velhinho ao seu leito remeteu a mãe à sua infância, aos pedidos e lembranças de natais felizes. – Ho ho ho! Feliz Natal! – sorriu o Papai Noel segurando a mão de cada paciente.

Continua Depois da Publicidade

Quando passou pela mãe, ela segurou firme sua mão e, com lágrimas nos olhos, suplicou: – Meu desejo é que essa máquina da quimioterapia apite antes da meia-noite de Natal – pediu, pegando o voluntário de surpresa. – Tenha fé, acredite, os teus desejos se realizarão! – respondeu o Papai Noel. A previsão do término da segunda sessão de quimioterapia era para o fim daquele escaldante mês de dezembro. Na época – não sei se continua assim – a máquina de quimioterapia, que ficava ao lado do leito, apitava ao fim de cada sessão, que durava dias e poderia ser prolongada caso houvesse algum contratempo. E a mãe teve todos.

Derrame cerebral, medula sem produzir, infecções. Aquele pedido ao Papai Noel o moveu nos dias que vieram na sequência. Era uma questão simbólica. Não queria estar sob tratamento de quimioterapia na meia-noite do Natal. No entanto, era inviável, improvável e quase impossível que findasse antes do fim do mês. Cada médico ou enfermeiro que chegava perto do seu leito, ouvia o mesmo questionamento: – Vai apitar antes da meia-noite do dia 25, né? Dia 24 de dezembro de 2001. Nos reunimos em casa numa celebração melancólica. Eu tinha 16 anos, meu irmão, 13. Meus pais no Hospital.

Continua Depois da Publicidade

A mãe como paciente, o pai como acompanhante. Faltando cinco minutos para a meia-noite, toca o telefone residencial. Do outro lado da linha, euforia, gritaria, choro. Às 23:53 daquela noite, a máquina apitou. Era o fim da segunda das seis sessões de quimioterapia que a mãe passou. A equipe médica de plantão, alguns pacientes e acompanhantes, que acompanharam o desejo da mãe, celebravam, se abraçavam e comemoravam aquela pequena, porém, icônica conquista.

Foto: Divulgação | Reprodução

Quatro meses depois dessa noite, a mãe estava curada. A doença nunca mais incomodou. Voltou a trabalhar como professora de educação infantil e, em 2013, aos 57 anos, retornou às salas de aula para cursar pedagogia. E, mesmo com todas as dificuldades, empecilhos, limitações de tempo, financeiras, de tecnologia e habilidade para as cadeiras EAD, há dez dias, quatro anos depois do primeiro dia de aula, pisou na Ulbra como estudante pela última vez. Em março de 2018 é a sua formatura.

Continua Depois da Publicidade

Sonho que alimentou com a mesma intensidade e dedicação que desejou o fim daquela sessão de quimioterapia numa longínqua noite de Natal de 2001. E a nova pedagoga da família, que completou recentemente 60 anos, já escolheu o local da festa pós-formatura: um pub! Essa é apenas a história da minha mãe, Marilda, mas que, perfeitamente, poderia ser da Maria, da Clara, do José, do Antônio, e de tantos outros batalhadores e batalhadoras que têm fé, acreditam e perseguem seus sonhos. E essa é a mensagem que quero deixar a todos os amigos leitores do Giro nesse Natal: enfrente seus problemas com dedicação, viva a vida com intensidade e comemore no lugar e do jeito que bem desejar, afinal de contas, o mundo já é muito pesado para sermos vítimas de nós mesmos.

Continua Depois da Publicidade
Continua Depois da Publicidade

Notícias Relacionadas

Gravataí e Cachoeirinha vão receber doses da vacina contra a dengue

Gravataí e Cachoeirinha vão receber doses da vacina contra…

  O Rio Grande do Sul deve receber, nos próximos dias, um lote de 126.132 doses de vacina contra a dengue, que serão distribuídas…
Justiça determina que filhos paguem pensão alimentícia a idosa de Gravataí

Justiça determina que filhos paguem pensão alimentícia a idosa…

  Cinco irmãos terão de pagar à mãe idosa, de 88 anos, pensão alimentícia no valor de 10% do salário-mínimo nacional…
Instituições de Gravataí apoiam realização do 1º Encontro de Empreendedores

Instituições de Gravataí apoiam realização do 1º Encontro de…

  Neste sábado (27/4), a partir das 16h, será realizado o 1º Encontro de Empreendedores em Gravataí. A ação ocorrerá na…