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- 24 de outubro de 2017
Felipe Jardim | Cismando…
Uma chuva mansa cai, lá fora, molhando o telhado.
Aqui dentro o violão encostado na parede me convida a timbrar suas cordas e buscar pensamentos que estão escondidos entremeio a dores e saudades…
Há quem fale que o peito de um gaúcho serve para pensar só em mulher e cavalo!
Tolos…!
O gaúcho tem em seu coração muito mais poesia do que a quantidade que os livros podem abrigar em suas páginas!
A vida na campanha é um poema por si só!
O ato de levantar, ainda escuro, preparar “as cosa” e partir para cumprir suas obrigações no campo com uma dedicação singular já é argumento para fazer do gaúcho um herói que vence as intempéries do tempo, pois ama aquilo que Deus e a vida os presenteiam a cada novo dia…
Cuidar do campo é cuidar da alma, viver no campo é viver o simples e aprender a enxergar, de verdade, tudo àquilo que está a nossa volta…
Não nasci no campo, como meus pais, porém agradeço a Deus por ter me concedido a honra de poder conhecê-lo e não me acostumar com a loucura da cidade!
Não consigo entender porque muitos “amam” o cotidiano louco de arranha-céus cortando a cidade e fachadas cinzentas que tiram o resto de vida que possa existir entre os vãos que as percorrem, vãos esses que chamamos de “ruas”…
Não vejo beleza no cinza, não vejo beleza na “correria” de andar em uma “Rua da Praia”. Para mim, a beleza é poder sentar contemplando a uma laranjeira florescida enquanto um cusco acoa longe…
Um dia de carneação, por exemplo, é festa! Família reunida é sinal de alegria! Sempre tem umas brigas, se não perde a graça, mas o que importa é que elas se apagam no momento em que a chaleira chia avisando que o momento sagrado de tomar um café com leite mesclado a pão, linguiça e torresmo, chegou!
A simplicidade me encanta e creio ser isso que povoa o coração do gaúcho.
Não há nada mais belo que ouvir o canto dos pássaros enquanto o sol, sem pedir permisso, adentra entre as frestas da janela povoando de luz cada pedaço desta casa…
Porque uns amam viver na loucura do se viver no “povo” e outros são tão simples encontrando beleza nas gotas de sereno que regam o potreiro e, por isso, às vezes são chamados de loucos?
Indagação que não tenho a resposta, mas a certeza que tenho é que meu coração sonha e verseja de forma simples e insistente, com o violão em meus braços, amores e agradecimentos a Deus por viver neste pequeno pedaço de paraíso…