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  • 14 de junho de 2020

Padre Fabiano | Fernandos e Antônios

Padre Fabiano | Fernandos e Antônios
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Estamos no mês das festas juninas, que são, a meu ver, tão populares quanto o Carnaval. Eu, pessoalmente, não troco uma boa festa de São João por uma noite de Carnaval. Não fosse o isolamento social, com certeza estaríamos preparando, de norte a sul do Brasil, nossas barracas de pinhão, pipoca, quentão, as bandeirinhas e os chapéus de palha. Embora hoje sejam realizadas fora do âmbito religioso, as festas juninas nasceram no ambiente católico, porque, em sua origem, celebram os principais santos católicos do mês de junho: Santo Antônio, São Pedro e São Paulo, São João Batista e São Luiz Gonzaga.

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No dia 13 de junho, celebramos Santo Antônio, “o santo casamenteiro.”  É o dia em que muitos solteiros colocam a imagem do santo de cabeça pra baixo num balde com água, ou que lhe tiram a imagem do Menino Jesus, e assim permanece até que o tão sonhado príncipe encantado – ou princesa -apareça. Mas quem foi Santo Antônio de fato?

Nascido em Lisboa em agosto de 1195, filho de uma família da nobreza, seu nome de batismo era Fernando de Bulhões. Aos dezenove anos entrou para o Mosteiro de Santo Vicente dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, onde morou por dois anos. Foi transferido para Coimbra, onde completou seus estudos e onde foi ordenado padre. Tinha o dom da oratória, tornando-se um grande pregador entre os monges.

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Na cidade de Coimbra, conheceu a recém criada Ordem Franciscana, fundada pelo italiano Francisco de Assis. Padre Fernando sentiu-se atraído pela radicalidade evangélica dos irmãozinhos de Assis, por seu cuidado e amor aos pobres. Não teve dúvidas, saiu do Cônegos Regulares e tornou-se franciscano, adotando o nome de Antônio. A troca do nome simbolizava mudança radical de vida. Pediu para ir para o Marrocos pregar o Evangelho, no que foi autorizado, porém problemas de saúde o forçaram a retornar para Portugal.

Na viagem de volta, o barco é desviado e vai para a Itália, especificamente para a Sicília, onde acontecia um grande encontro, com mais de 5 mil frades franciscanos. Aí, Antônio conheceu Francisco de Assis. Após um período de 15 meses de vida eremítica no monte Paolo, Antônio foi encarregado por Francisco da formação teológica dos franciscanos.  Estudou Teologia a fim de estar melhor preparado para essa missão, e colocou toda a sua eloquência a serviço do ensino da doutrina católica.

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A oratória de Antônio logo chamou a atenção do Papa. Gregório IX, que à época governava a Igreja.  Tornou-se um conhecido pregador da Palavra de Deus. Segundo alguns registros, chegou a reunir 30 mil pessoas que acorriam para ouvir seus sermões. Ganhou a alcunha de “martelo dos hereges”, porque combateu a heresia cátara somente com a palavra, tendo convertido muitos cátaros para o cristianismo com a força de seus sermões.

Antônio faleceu em Pádua, em 13 de junho de 1231, aos 36 anos. Por ter morrido nessa cidade e aí estar sepultado, ficou conhecido como Santo Antônio de Pádua. Foi canonizado em 1232 pelo Papa Gregório IX. Foi declarado Padroeiro de Portugal em 1934.

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Como amante da poesia que sou , não posso esquecer de outro Fernando e outro Antônio no dia de hoje, separado do outro por quase sete séculos: Fernando Antônio Nogueira Pessoa, ou simplesmente, Fernando Pessoa, ou Alberto Caeiro, ou Ricardo Reis, ou…Nascido em 13 de junho de 1888, também em Lisboa, foi um dos grandes nomes da poesia do século XX. Faleceu aos 47 anos, em 30 de novembro de 1935, tendo publicado um único livro, Mensagem. Seus poemas foram divulgados pela revista Presença. Outro Fernando, outro que sabia usar as palavras.

Fernando Pessoa escrevia sob heterônimos, sendo os principais Alberto, Ricardo Reis e Álvaro Campos, cada qual com biografia e estilo próprios. Não são pseudônimos, pois não se tratam nomes diferentes para uma mesma personalidade; são personagens distintas entre si, que escreviam poemas com estilos muito diferentes. Por isso são heterônimos.  Algo que somente um gênio pode fazer. Soube como poucos traduzir na poesia o mundo multifacetado no qual viveu, bem como suas angústias pessoais, algo muito característico dos poetas.

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Na semana em que recordamos dois Fernandos – Antônios, encerro essa coluna com uma poesia do Pessoa, escrita sob a alcunha de Alberto Caeiro:

 

Quando eu não te tinha

Amava a natureza como um monge calmo a Cristo…

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Agora amo a natureza

Como um monge calmo à Virgem Maria,

Religiosamente, a meu modo, como dantes,

Mas de outra maneira mais comovida e próxima.

Vejo melhor os rios quando vou contigo

Pelos campos até à beira dos rios;

Sentado a teu lado reparando nas nuvens

Reparo nelas melhor

Tu não me tiraste a natureza

Tu não me mudaste a natureza

Trouxeste-me a natureza para o pé de mim.

Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,

Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,

Por tu me escolheres para te ter e amar,

Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente

Sobre todas as coisas

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