Padre Fabiano | ‘Não olhe para cima’: não há como ficar neutro

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Durante os dias em que estive descansando no litoral – acreditem, padre tira férias – resolvi me atualizar nas séries e filmes. Assim, entre outros, que com certeza darão assunto para outras colunas, assisti o tão comentado Don´t look up (Não olhe pra cima), filme produzido pela Netflix e estrelado por Leonardo Di Caprio e Jennifer Lawrence. O filme conta a história de dois astrônomos que fazem uma descoberta assustadora – um cometa de 9 quilômetros de diâmetro está em rota de colisão com a Terra, e o tempo de impacto é de seis meses! Isso mesmo, a vida na Terra está com os meses contados – e são apenas 6.

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O que dizer desse filme? Faz pensar. Antes de assistir o filme, li alguns comentários, que afirmavam ser um filme de crítica ao negacionismo, àqueles que põem em xeque as descobertas da ciência; alguns comentários chegavam a afirmar que trata-se de uma clara crítica a governantes como Trump e Bolsonaro. Depois de ter assistido o filme, penso que não se trata de uma crítica somente ao negacionismo, ou a um tipo de negacionismo – sim, porque penso que existem diversas formas de negacionismo. Entendo que o filme é uma crítica a uma série de atitudes diante de uma crise mundial.

Eu identifiquei no filme cinco personagens principais: o cientista sênior, interpretado por Di Caprio; a jovem cientista, interpretada por Lawrence; a presidente dos EUA, interpretada por Meryl Streep; o CEO da Bash Celulares; e a repórter, interpretada por Cate Blanchet. Cada um destes personagens é uma caricatura de atitudes diante de uma crise mundial, como um meteoro em rota de colisão com a terra… ou um vírus.

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Di Caprio é o cientista que, no início, está firme na luta pelo que acredita ser a verdade. Contudo, aos poucos, vai sendo seduzido pelo sistema, pelo poder, pela fama, e começa a abrir mão de seus princípios para manter a fama. A repórter representa aquela mídia que não está interessada na informação, mas no poder e fama que a informação traz, e não tem escrúpulo em distorcer a informação, transformando a catástrofe em entretenimento. A jovem cientista é aquela que, talvez pela juventude, que traz na sua natureza o idealismo, fica firme até o fim no que acredita, mesmo diante das ameaças e do fim de sua carreira acadêmica.

A presidente dos EUA… bom, essa representa o poder político que está mais preocupado… com o poder, e faz de tudo para mantê-lo, até mesmo usar uma crise mundial em benefício próprio. No filme, num primeiro momento, a presidente ignorou a descoberta feita pelos cientistas. Somente no instante em que sua reeleição estava em risco, devido a um escândalo moral, ela chama os dois e usa o eminente desastre para ser a líder mundial e ganhar a simpatia do mundo.

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Por fim, mas não menos importante, o CEO da Bash Celulares. No meu entender, ele representa todas a Big Techs que não estão nem aí pra ideologias, pra direita, esquerda, capitalismo, comunismo, ou o que quer que seja; elas querem… poder e dinheiro. E para obter isto, fazem de tudo, inclusive manipular informações, alterar planos governamentais em benefício próprio, e utilizam de dados confidenciais pessoais para chantagear.

Durante a crise pandêmica que enfrentamos vimos todas essas atitudes: os políticos mais interessados em defender a própria ideologia e o próprio poder; alguns setores da mídia, também mais interessados em poder e fama, mesmo que para isso tenham que distorcer a informação; as Big Techs, cujo interesse é o quanto de lucro que a pandemia pode trazer para seus negócios; e até aquele que dogmatizaram a ciência, e negam um princípio básico da ciência: ela não só pode como deve ser questionada, mesmo as verdades consagradas há décadas ou séculos. Aliás, a ciência só evoluiu na base de questionamentos, dúvidas, provas e contraprovas.

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Uma tese já “dogmatizada” é colocada em cheque, defendida por um grupo de cientistas, questionada por outros, e deste debate saudável chega-se ou a uma síntese ou a uma nova descoberta. Assim, o negacionismo não é uma simples negação da ciência. Todas essas atitudes descritas no filme são negacionismos: os personagens não negam que os cientistas fizeram uma incrível descoberta; eles tem os dados, fotos, cálculos. Eles estão certos. Mas cada um tem um interesse maior que a própria verdade, e em nome desse interesse, preferem mascarar a verdade, ou até negá-la.

E nós, simples mortais, no meio de tudo isso. Cada um de nós tem suas convicções, seu entendimento da situação, e não há como ficar neutro. Assumimos um lado, defendemos esse lado. Mas não esqueçamos: talvez quem eu esteja defendendo, não esteja preocupado com minha saúde nem com minha vida, mas tem um outro interesse, e para defender esse interesse, esteja gritando pra mim: Não olhe pra cima!

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