- Especial
- 28 de julho de 2021
Há 71 anos, queda e explosão de avião entre Sapucaia e Gravataí matou todos os passageiros
Foi há exatos 71 anos que os moradores dos arredores do Morro do Chapéu, na divisa de Gravataí com Sapucaia, presenciaram um ensurdecedor estrondo, e em seguida uma única explosão, tornando o fatídico dia 28 de julho a data da maior tragédia da aviação já registrada na América do Sul, até então.
A Copa do Mundo daquele ano, 1950, disputada no Brasil e foi vencida pelo Uruguai, ainda tinha reflexos na economia local. Já que muitos dos turistas que vieram ao país para acompanhar os jogos permaneceram em hotéis ou viajaram para as mais diversas cidades do país.
O tráfego aéreo seguiu nos mesmos moldes, aumentando os horários de voos devido às andanças dos estrangeiros. Um dos aviões que manteve rotas frequentes durante estes dias era o Lockheed Constellation. O modelo havia sido fabricado cinco anos antes e pertencia a uma companhia norte-americana, mas foi enviado diretamente a sua subsidiária, a Panair do Brasil.
O primeiro voo do gigante metálico, de design arrojado, foi em outubro de 46, entre o Rio de Janeiro e Roma, com escalas em Recife, Dakar e Lisboa. Após isso, passou a ser utilizado nos chamados voos domésticos, em território nacional. Com capacidade total de mais de 50 pessoas, o avião logo passou a fazer uma rota fixa de viagens, saindo sempre do Aeroporto do Galeão.
A última viagem
Com pouco mais de seis horas de atraso, devido à falha em um dos motores da aeronave, que precisou ser substituído, o comandante Eduardo Martins de Oliveira apontou, às 15h47, o avião Panair do Brasil 099 – PP-PCG, na pista do Galeão. A previsão de chegada, na então chamada Base Aérea de Gravataí (hoje Canoas), era às 18h40.
Boletins meteorológicos assinalavam que uma frente fria estagnada entre Porto Alegre e Florianópolis vinha causando turbulências nos voos da rota, além de uma chuva leve que caia no eixo sul do país. Por volta das 18h45, o Constellation da Panair se preparava para o pouso na Base Aérea quando precisou arremeter.
Em uma segunda tentativa, o voo, com 44 passageiros e seis tripulantes, tentara novamente uma aproximação, mas as condições climáticas eram desfavoráveis no momento. O gigante teve uma nova arremetida e perdeu o contato com a torre. Em seguida, o piloto traçou a mesma rota para tentar uma terceira vez o pouso na Base, quando por volta das 19h25, o avião passou rasante pelos arredores de Sapucaia e Gravataí, colidindo contra o Morro do Chapéu. Em milésimos, a explosão formou uma grande nuvem de fumaça e um cenário catastrófico, ainda vivo na memória dos moradores.
Corpos no morro
Foi como se o sol tivesse retornado daquele dia que já havia ido. O intenso incêndio após a explosão do avião deixava tudo muito claro naquela noite. Porém, a chegada até o local dos destroços demorou, já que além do fogo que se alastrava pela vegetação do morro, a área era de difícil acesso. Bombeiros de todas as regiões, socorristas e até mesmo moradores realizaram incursões até chegar na clareira.
No local, estavam 51 corpos, muitos deles mutilados ou carbonizados. Buscas ainda foram realizadas, mas sem sucesso. Foram dias de corpos retirados de baixo de destroços, até serem levados para a planície com o auxílio de juntas de bois, cedidas por estancieiros da região.
Candidato a governador do Rio Grande do Sul, Joaquim Pedro Salgado Filho, aos 62 anos, recebeu a notícia da queda do avião, mas ficou incrédulo. Por falta de lugar, ele não conseguiu embarcar no voo Panair que cairia no RS.
No entanto, o destino de Joaquim era a morte. Dois dias depois, 30 de julho, ele embarcou no bimotor Lockheed L-18 Lodestar de prefixo PP-SAA, que chocou-se com o morro Cerro dos Cortelini no Rincão dos Dornelles, segundo distrito de São Francisco de Assis. Em dois dias os gaúchos eram enlutados por dois desastres aéreos.
*Não se tem informações da conclusão de investigação da aeronáutica sobre as circunstâncias que levaram os dois aviões a colidirem.
Lista dos passageiros:
Guarany Frota 14 anos
Maria Antonieta Frota 40 anos
Rosa Yara Frota 18 anos
José Carlos Berta 38 anos
Julia Blessmann Berta 12 anos
João Rocha Fernandes 47 anos
Carmem Rothfuchs Fernandes 40 anos
Carmem Silvia Fernandes 18 anos
Mara Helena Fernandes 14 anos
Iliana Amália Fernandes 13 anos
Maurício Zaducliver 46 anos
Luiza Zaducliver 42 anos
Yeda Zaducliver 15 anosJosé Luiz Blessamann Berta 12 anos
Ilse Krause Dietrich 34 anos
Yara Krause Diedrich 9 anos
Yone Krause Diedrich 5 anos
Thucidides Lopes 43 anos
Teodora Lopes 34 anos
Balduino D’Arrigo 31 anos
Cecy D’Arrigo 26 anos
Coracy Prates da Veiga 39 anos
Alice Veiga 32 anos
Pedro Gay 61 anos
Maria Gay 56 anos
Edmundo Pereira Paiva 64 anos
Valentina Pereira Paiva 62 anos
Manoel Maltz 58 anos
Zenir Aita 29 anos
Adília Passos da Cunha 34 anos
Valdomiro Graeff 25 anos
José Maia Filho 37 anos
Brasiliano de Moraes 37 anos
Ligia Dorneles Franciosi 31 anos
Otávio José da Silveira 43 anos
Vitória Fabret 35 anos
Shirley Tavares 12 anos
Ítalo Vitório Nocchi 21 anos
Silvia Giacconi 35 anos
Irma Valiera 45 anos
Francisco Buny 45 anos
Sady Maysonave 40 anos
Iver Taachl 20 anos
Ralph Monthley 48 anos
Tripulantes
Eduardo Henrique Martins de Oliveira – comandante
Domenico Sávio Girlanda – co-piloto
Alonso Tavares de Araújo – mecânico
Alfredo Fernandes Soares – mecânico
Paulo Figueiredo de Ramos – rádio telegrafista
Derose Viote Pinheiro – comissária de bordo
Maria Helena Murray Ribas – comissária de bordo