- Esporte
- 23 de novembro de 2020
Giovani de Oliveira | Saída de D’Alessandro é o fim melancólico da diretoria perdedora de Marcelo Medeiros
Hoje é uma data histórica, disse Marcelo Medeiros no início da tarde desta segunda-feira (23). Talvez este seja um dos poucos acertos destes quatro anos em que ele esteve no comando do clube. O anúncio da saída de D’Alessandro é, de fato, um fato histórico. Para quem não viu, o camisa 10 não renovará seu contrato com o Inter. Seu vínculo termina no dia 31 de dezembro, faltando dois meses para acabar a temporada.
Há um tempo parei de escrever sobre futebol aqui no Giro de Gravataí, tomei esta decisão quando decidi assumir que torço por um clube. Desde que me conheço por gente, visto vermelho e amo o Internacional. E é como torcedor que eu falo: a saída do D’Ale, desta maneira é uma tragédia.
Não é uma tragédia por perdermos um atleta. É verdade que o argentino já não tem mais a mesma condição de ser decisivo para o Inter como em outros tempos. É trágico pelo momento, pela forma. D’Alessandro não ficará até o fim da temporada. Sairá antes, por quê? Como disse um amigo, “tem algo de muito errado na gestão do inter que não consegue manter um ídolo de 39 anos por dois meses”. Não posso discordar.
Um grupo político se apossou o Internacional nos últimos 20 anos. Este grupo teve vitórias históricas na primeira década, rachou na segunda e enquanto se revezava no poder, acumulou dez anos sem títulos de expressão, rebaixou o Inter, quebrou as finanças do clube e triturou ídolos.
Ainda em 2008, Fernandão deixou o Beira-Rio com lágrimas nos olhos. Voltou como dirigente para ser queimado novamente. Em 2011, mesmo com o título gaúcho, Falcão foi demitido três meses após ser contratado. Quantos medíocres que não representam nada para o clube tiveram mais paciência da diretoria? Não fosse o suficiente, em 2016, após permanecer com Argel, mesmo ele tendo ficado 20 rodadas com apenas uma vitória, deram apenas cinco jogos para Falcão. CINCO JOGOS!!!
No dia seguinte à demissão do ídolo, a direção apresentou o retorno de um dirigente que se intitula o maior presidente da história do Inter. Um dirigente que chegou já com um treinador, o mesmo que perdeu uma semifinal de mundial, mas é tratado com mais respeito que aquele que foi o jogador mais lendário a vestir a camisa colorada.
Naquele mesmo ano, já tinham forçado a saída do D’Ale, que foi ser campeão novamente pelo River Plate. Em 2017, D’Alessandro voltou, não mais para conquistar a América como em 2008 e 2010, mas para lutar nos campos da série B.
Falcão, Fernandão, D’Alessandro, na minha opinião, e sei que de muitos outros torcedores, os três maiores ídolos da nossa história centenária. Todos tratados com desrespeito pelos políticos do clube. Na coletiva em que anunciou que não renovará o contrato, D’Alessandro leu o tuíte de um conselheiro, que o definiu como “Gringo 171, idoso, que se arrasta em campo”. Quem é Luciano Pontes? Fez o que pelo Inter? “O Twitter é o local dos covardes”, proferiu D’Ale. O conselheiro apagou a sua conta.
Não sou avesso à política, pelo contrário, é por meio da política que lutamos pelos rumos da sociedade ou do clube. Mas, assim como acontece nacionalmente, a política do Inter é suja, rasteira, nojenta. Um bando de engravatados que nunca dominou uma bola, ou nunca assistiu um jogo em pé na Coréia, nunca abraçou um desconhecido suado para festejar um gol na arquibancada se adonou do clube e decide o rumo da uma instituição centenária, construída com o suor de um povo pobre, que não tem mais acesso ao clube.
— Sport Club Internacional (@SCInternacional) November 23, 2020
Bom, já estou entrando em outra conversar, é importante focar na questão D’Alessandro. No mínimo três vezes durante a coletiva, o recém nacionalizado brasileiro disse que gostaria de encerrar a carreira no clube. Ainda que afirme que a decisão foi dele, seu discurso e a política suja do clube o desmentem.
O cara está instalado na cidade há 12 anos, com filhos estudando em Porto Alegre, ídolo do clube, com o desejo de encerrar a carreira no Inter, não fica dois meses por “decisão pessoal”? Sério? Desculpa, D’Ale, te respeito, te admiro, sei que vou falar para os meus netos sobre ti. Mas não acredito no que tu disse hoje, sei que tu foi educado e não deu a real. Ainda mais quando tu deixas o clube falando sobre conselheiros e jornalistas que já fizeram parte da folha salarial do Inter.
O mandato do Medeiros teve como um dos marcos iniciais a volta do D’Alessandro, recebido no aeroporto, com boné, tocando tambor junto com a torcida. No dia 31 de dezembro, Medeiros deixa a presidência. Seu legado? Um clube com dívidas, sem títulos, com uma imensa dificuldade de revelar garotos, sem uma base formada e com uma saída estranha de um dos maiores ídolos.