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  • 13 de julho de 2020

Roquistas #16 | Carlos Maltz: “Acho que o rock já teve o seu tempo”

Roquistas #16 | Carlos Maltz: “Acho que o rock já teve o seu tempo”
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Carlos Maltz falou com exclusividade ao Giro de Gravataí. Foto: Reprodução

No Dia Mundial do Rock, ganhei uma oportunidade muito legal e quero dividir com vocês. Durante a organização do Primeiro Live Rock Festival, o Daniel Buzato, do Estúdio Overdrive me ajudou a marcar uma entrevista com Carlos Maltz, o lendário baterista dos Engenheiros do Hawaii. Fiz o contato ainda na semana passada para marcar, ele estava com a agenda lotada, calhou de conversarmos hoje.

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Durante uma hora, ouvi Maltz falar sobre a possibilidade de uma reunião dos Engenheiros, histórias da época e uma análise do cenário atual. Divido com o leitor o conteúdo desta conversa nas próximas linhas. Como tratamos de vários assuntos, para que poder trazer o máximo conteúdo possível, dividiremos a entrevista em três dias.

Aproveitando que hoje o dia é dedicado ao rock, abriremos com a análise de Maltz sobre o cenário atual. Amanhã, não perca o que ele falou sobre os 10 anos em que esteve com os Engenheiros, a relação entre eles, a separação da banda e muito mais.

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Acho que o rock já disse a que veio”

Roquistas: Como tu vê a cena do rock hoje?

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Carlos Maltz: Eu não sou a melhor pessoa para falar deste assunto, eu não estou acompanhando as bandas novas. Acho que o Rock já teve o seu tempo. Se você for hoje em Nova York, você vai ver que tem uns botecos subterrâneos onde tem uns caras tocando jazz praticamente igual ao que se tocava na década de 20. Aí você vai dizer, “o Jazz da década de 20 continua vivo”. É continua vivo, tem uns caras lá tocando. Mas obviamente ele não tem mais o impacto que teve na década de 20.

O rock teve um impacto no mundo nos anos 50, 60, 70. Depois, nos anos 80, ele deu uma renascida com o punk rock e com o new wave. No Brasil a gente pegou esta onda. tivemos a primeira, então a gente pegou a onda dos anos 80 com toda aquela demanda reprimida do que não tinha acontecido aqui.

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Esta geração dos anos 80 foi uma exceção no Brasil. Primeira vez, e acho que vai ser a única em que o rock foi mainstream; Não sei se será novamente, acredito que não.

Mas é inevitável, a gente pode até achar ruim. Se eu fosse um cara de 20 anos, não sei se estaria tocando. Os instrumentos, principalmente a bateria, evoluíram muito nos últimos 20 anos. Os caras tocam muito mais do que se tocava. Mas, são outros estilos. Acho que o rock já disse ao que veio.

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Roquistas: E tu continuas tocando bateria?

Carlo Maltz: Voltei a tocar a partir de 2017. No final de 2016, eu tive um problema de saúde muito sério, que eu quase dancei. Problema de aorta, tive que fazer cirurgia. Depois dali, eu voltei a tocar, até para sobreviver. Toco diariamente. Estou tocando muito mais do que tocava na época, tecnicamente falando. Na época eu não tinha uma rotina de estudo como eu tenho hoje que é tocar diariamente duas, três horas por dia.

Roquistas: Em qualquer vídeo com músicas dos Engenheiros que assistirmos hoje, encontraremos comentários do tipo: “Antigamente é que a música era boa, hoje tudo é ruim”. Como tu vês a música atual, além do rock?

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Carlos Maltz: Sem dúvida nenhuma, não só a música, tudo, a nossa civilização está no bueiro. A literatura, o teatro, o cinema, tudo. A nossa cultura está em decadência.  Para quem estuda os ciclos astrológicos, como é o meu caso, a gente está no fim de uma era. Então, a gente está descendo a ladeira.

Embora, como estou te falando, do ponto de vista técnico, instrumental, os caras estão tocando muito mais hoje em dia do que tocavam antes. Eu vejo meninos, meninas, velhos. Esse dias mandaram um vídeo de uma menininha chinesa, deve ter uns 12 anos de idade tocando Good times, Bad Times, do Led Zeppelin arrebentando,

Do ponto de vista da difusão da informação a gente evoluiu. A gente tá tocando muito mais. Eu mesmo estou tocando muito mais. Mas algumas coisas se perderam a inspiração, o brilho, a graça, a nossa civilização não tem graça, é uma tristeza, as pessoas se conformarem e chamarem isso de novo normal. Tem algumas coisas novas de dar dó da humanidade. O que se chama de artista hoje é de dar dó.

Roquistas: A gente vê hoje muita gente citando Engenheiros do Hawaii.No último período, muita gente dizendo que “o fascismo é fascinante e deixa a gente ignorante fascinada”. Embora atual, Toda a Forma de Poder tem 35 anos. Tu acredita que falte gente para falar da atualidade?

Carlos Maltz: É tão ruim o que está acontecendo na realidade que as pessoas resolveram falar das nuvens, do amor dos passarinhos. Os poetas se tornam realistas em época de abundância. Mas em épocas de carência, as pessoas vão falar do mundo encantado, não querem saber da realidade. Por que a realidade é muito desagradável. Entendo as pessoas querendo falar de coisas mais escapistas, faz sentido.

Há uma decadência geral, não só na música, cultural política. Ideias que nos anos 60, nos anos 80 tinham um brilho estão na lata do lixo.

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