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- 12 de maio de 2022
Polícia Civil de Gravataí investiga a Trading Connect, esquema de pirâmide que lesou dezenas de pessoas na cidade
A Polícia Civil de Gravataí investiga um esquema de pirâmide que vitimou milhares de pessoas em todo o Brasil, sendo, pelo menos, algumas dezenas no município. Com a crise econômica, muitas pessoas buscam alternativas para complementar a renda. Neste contexto, a Trading Connect surgiu prometendo lucros que superavam os 100% do valor investido já no primeiro mês.
Com um site na internet, a falsa empresa afirmava ser de Singapura e trabalhar com a restituição de impostos. O esquema apresentado era simples: as vítimas eram convidadas a investir em mercadorias compradas na plataforma. Os produtos seriam revendidos e os impostos seriam restituídos e uma parte do lucro seria devolvida à vítima, no caso “investidor”.
“Eu estava estudando marketing digital e o mercado financeiro. Buscava algo para me capitalizar porque a crise pós-pandemia estava muito difícil”, relatou à reportagem do Giro de Gravataí uma vítima que pediu para não ser identificada.
Na realidade, não eram apenas os produtos que não existiam. A própria empresa não possui CNPJ no Brasil ou qualquer outra espécie de registro. Para alguns usuários, os golpistas apresentaram o registro de uma empresa com o mesmo nome, no interior de São Paulo, que trabalhava com importação de painéis solares e não possuía qualquer relação com a plataforma.
Como um típico esquema de pirâmide, a plataforma prometia ao usuário, também, uma parte do lucro daqueles que ele indicasse. Em Gravataí, uma das vítimas chegou a organizar um jantar com mais de 100 usuários da plataforma, no final de abril, em um restaurante do centro da cidade.
O evento reuniu pessoas que já estavam há dois ou três meses na plataforma, que funcionou aproximadamente quatro meses, e outras que haviam conhecido o sistema pouco tempo antes. Antes que todos pudessem saborear o buffet, os mais experientes contavam suas histórias e davam conselhos aos novos.
Uma senhora, alegre com a mudança de vida que acreditava estar perto, aconselhava o recrutamento de familiares. “Esse negócio de colocar a família é muito bom. Nós ajudamos a nossa família e eles nos ajudam a crescer”, disse ela, antes de receber sonoros aplausos.
“Entrei com 120 reais, chorando. Pensei, em uma janta, a gente gasta mais que isso. Convidei a minha família, eles foram convidando também. Fui crescendo, cresci muito rápido. Sem colocar nenhum tostão a mais, estou operando com 7 mil. Tem gente na minha equipe que já está com 41 mil”, relatou outro.
O sonho, no entanto, começou a ruir na última semana, quando os usuários começaram a ter problemas para retirar o dinheiro que tinham investido, até que o site saiu do ar, deixando milhares de pessoas no prejuízo. Mesmo entre aqueles que chegaram a lucrar com a plataforma, muitos acabaram com saldo negativo. “Tudo que eu ganhava eu reinvestia”, contou outra vítima do esquema.
Nossa reportagem apurou que uma das vítimas da cidade chegou a alugar um escritório de onde planejava estruturar os investimentos, mas com o fim da plataforma, sem conseguir retirar o dinheiro investido, encontra dificuldades para arcar com o prejuízo.
Entre as pessoas ouvidas pelo Giro de Gravataí, além da revolta pelo dinheiro perdido, o sentimento de vergonha é muito forte. “Tenho caráter, nunca tirei nada de ninguém. Mas trouxe amigos, trouxe família e todos ficaram no prejuízo. Me sinto culpado. Fico muito constrangido”, revelou um rapaz.
O caso está sendo apurado pela Polícia Civil de Gravataí, no entanto, os investigadores não comentam para não atrapalhar os trabalhos, mas recomendam que aqueles que se sentiram lesados façam o registro em uma delegacia.