Padre Fabiano | Democracia é isso, é contraponto, é opinião, é debate, é decisão

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Ontem (15), a Proclamação da República completou 131 anos, e nosso colunista Padre Fabiano Glaeser enviou um texto refletindo sobre a data. Por conta das eleições, não conseguimos publicar esta coluna no dia que ela celebra, mas entendemos a importância deste conteúdo, por isso, publicamos hoje na íntegra. 

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Gosto de a cada quatro anos ouvir os candidatos a Presidente, refletir, votar,  e, após quatro anos, mudar de opinião se for possível

Há exatos 131 anos, na manhã de 15 de novembro de 1889, o Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, liderando cerca de 600 soldados, entrou no Quartel General do Exército situado no Campo de Santana, no Rio de Janeiro, onde estavam reunidos o ministério do Império, e, colocando-se como líder de um movimento revolucionário, demitiu todo o ministério, liderado pelo Visconde de Ouro Preto. Era dada a largada para a troca do regime monárquico, que vigorou no Brasil por 67 anos, para a República.

Nada das pompas e heroísmo que alguns quadros tentam nos passar, onde imaginamos o altivo Marechal tirando seu chapéu e dando vivas à República. Nada disso. Deodoro, aos 62 anos, estava enfermo, passara os últimos dias com uma forte crise de dispnéia, e alguns republicanos temiam que ele não sobrevivesse até o dia 15 – a ideia inicial era proclamar a República no dia 20 de novembro, no dia da reunião ministerial onde D. Pedro II proferiria a Fala do Trono. Ao demitir o ministério, o Marechal disse que uma lista com nomes seria apresentada ao Imperador – ou seja, ele não tinha convicção de proclamar a República, mas sim, a nomeação de um novo ministério.

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O evento proclamação da República foi, na verdade, um golpe militar, do qual participaram cerca de 600 soldados. Havia no exército brasileiro um clima de descontentamento com relação ao governo imperial, iniciado após a Guerra do Paraguai (1865 – 1870), mas cujo ápice se deu entre os anos de 1886 e 1887, numa série de conflitos que ficaram conhecidos como Questão Militar, que levou ao golpe contra a Monarquia.

O republicanismo não era unanimidade entre os militares, somente entre a mocidade militar, alunos da Escola Militar da Praia Vermelha, instituição onde predominava a filosofia positivista de Auguste Comte, por intermédio do tenente-coronel Benjamin Constant, positivista e republicano. O que a maioria dos militares queria era um tratamento melhor por parte do governo imperial. Era o que pensava Deodoro. Mesmo sabendo dos planos republicanos de Benjamin Constant e de outros líderes revolucionários do 15 de novembro, e concordando em parte com eles, na hora H não proclamou a república.

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Benjamin Constant comunicou a Aníbal Falcão que a República não fora proclamada. Este correu até a redação do jornal Cidade do Rio, de propriedade de José do Patrocínio, e ali, em companhia do próprio patrocínio e de outros dois líderes republicanos, redigiu a única proclamação formal da república naquele dia: Era necessário um movimento popular, audaz e rapidamente organizado a fim de que, antes de qualquer deliberação do governo (…), fosse proclamada a República.

Na verdade, não foi um movimento popular, mas um golpe, organizado por uma elite intelectual e levada a termo por alguns soldados do Exército. Seria essa a origem da instabilidade do nosso sistema republicano, que já passou por diversos golpes ao longo de seus 131 anos? Os últimos 30 anos foram os mais estáveis, sem nenhuma ruptura democrática – não, o impeachment da Presidente Dilma não foi golpe!

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Tentei contar sucintamente a história da “proclamação da República”. Indico duas obras para consulta: 1889, de Laurentino Gomes, e D. Pedro II, a história não contada, de Paulo Rezzutti.

Hoje celebramos o aniversário da República. Nos últimos anos tem ganhado força novamente o monarquismo. Tenho visto nas redes sociais muitos grupos defendendo a volta da Monarquia, alegando a estabilidade do regime imperial, a tradição, a perenidade desse sistema. Não tenho opinião formada sobre a superioridade de um sobre outro, apenas acho legítimo, num sistema democrático, que grupos defendam esse ou aquele regime de governo.

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Como estudioso do Brasil no século XIX, posso afirmar que a Monarquia, como a República, tinha seus prós e seus contras, e não era tão estável assim, tanto é que passou por um grande desgaste até cair. Penso que não tivesse ruído em 1889, mesmo que a Princesa Isabel tivesse se tornado imperatriz, a monarquia não teria durado muito. Em Portugal, cuja monarquia era também encabeçada pela dinastia Bragança, a coroa caiu no início do século XX.

Monarquia estável temos na Inglaterra, na Espanha, Dinamarca, Países Baixos, Noruega, Suécia, Mônaco, Luxemburgo e Liechtenstein. Posso dizer, eu que nunca vivi sob a monarquia, que gosto de a cada quatro anos ouvir os candidatos a Presidente, pensar, refletir, decidir em quem votar, acompanhar, e, após quatro anos, mudar de opinião se for possível. Mas, como disse, não tenho opinião formada se a Monarquia seria melhor. Ainda…

Nesse dia de aniversário da República, os brasileiros irão às urnas para eleger os prefeitos e vereadores nos milhares de municípios. Que seja um dia de celebração da democracia, do debate, da troca de opiniões. Mas que, ao final do dia, as famílias não estejam divididas nem tenhamos amizades desfeitas por causa de ideologia política. Democracia é isso, é contraponto, é opinião, é debate, é decisão. É mais justa forma de governo que poderia haver, na opinião do Papa Pio XII na radiomensagem de Natal de 1944.

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