Orgulho gaúcho em Gravataí | Recordações de quem vive o tradicionalismo

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Os mais saudosistas recordam com carinho da grande mobilização que ocorria por conta dos desfiles temáticos de 20 de setembro em Gravataí, eventos que perderam a regularidade, porém não foram extintos, considerando que alguns CTGs promovem seus próprios cortejos. O Giro de Gravataí conversou com dois tradicionalistas que ajudam a preservar a memória do movimento na cidade, o narrador de rodeios e desfiles Valdemar Vicentini e o patrono dos Festejos Farroupilhas 2023, Jairo Bitello.

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Aos 81 anos, Vicentini mantém o hábito de pesquisar sobre o tradicionalismo e guarda registros importantes da história local. Foto: Giro de Gravataí/Especial

A voz dos rodeios e desfiles

Um dos tradicionalistas mais conhecidos da região, Valdemar Vicentini, de 81 anos, tem muitas histórias para contar quando o assunto é valorização das tradições na cidade. Ele foi narrador em rodeios por três décadas. Sua voz também foi ouvida por milhares de pessoas que iam assistir aos desfiles no município. “Fui narrador dos desfiles por 20 anos. Em Gravataí, assim como em outras cidades do Rio Grande do Sul, o desfile de 20 de setembro era muito esperado pelo público. O que juntava de gente! Chegamos a colocar 600 cavalos num desfile”, lembra o tradicionalista, explicando que a atividade atraía muitos espectadores, tanto na Dorival Cândido Luz de Oliveira como na Avenida Brasil.

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Durante 30 anos, o gravataiense narrou rodeios pelo RS. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Segundo o locutor, a mobilização que deu origem ao primeiro CTG de Gravataí surgiu na década de 50, quando a professora Verônica Dai Prá ministrou aulas de dança no Ginásio do Dom Feliciano, o que resultou na formação de um grupo. Nessa época, começou a crescer o interesse da comunidade pelas tradições gaúchas.

Vicentini relata que o destaque que o movimento tradicionalista vinha ganhando em Gravataí foi notável no desfile de 7 de setembro de 1955, que reuniu cerca de 40 cavalarianos. Surgiu a oportunidade de que tradicionalistas da região participassem da apresentação de 20 de setembro, em Porto Alegre (ainda não eram realizados desfiles farroupilhas em Gravataí). Treze cavalarianos daqui aceitaram o convite e desfilaram representando o Aldeia dos Anjos mesmo antes do CTG ser instituído oficialmente junto ao MTG, o que ocorreu em janeiro de 1956.

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“O Aldeia não tinha sido fundado, mas já havia um grupo, nome para o CTG e foi criada uma bandeira para o desfile. A primeira bandeira do Aldeia dos Anjos foi desenhada por Danilo Pelizzoni e confeccionada por uma senhorita que era conhecida como Mocinha Miranda”, conta o narrador. Após a instituição do centro de tradições gaúchas, alguns integrantes do grupo de danças criado no Ginásio do Dom Feliciano formaram a primeira invernada da entidade. O primeiro desfile farroupilha em Gravataí, após a fundação do Aldeia, aconteceu em 1958.

Vicentini no desfile de 1957, que foi realizado no dia 5 de setembro. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

O narrador recorda com alegria bons momentos vividos junto ao CTG mais antigo da cidade. “Fui o primeiro professor de dança com diploma. Dancei no grupo e toquei violão quando o Aldeia conquistou seu primeiro título em rodeio. Também fui pioneiro na realização das rondas”, ressalta. Interessado em pesquisas sobre o tradicionalismo, da Argentina e Uruguai também, Vicentini sugeriu a realização do 1º Xixo do Aldeia, evento que veio a se tornar um dos destaques do calendário anual da instituição.

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Invernada que conquistou o 1º troféu para o Aldeia dos Anjos, no Rodeio de São Francisco, no final dos anos 70: Elizete e Francisco Valim, Rosa e Pedro Valim, Maria da Graça e Valdemar Vicentini, Noemi e Manuel Valim. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Valdemar Vicentini e a esposa, Maria da Graça, foram professores de dança. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
No 3º Rodeio do Aldeia dos Anjos, em 1979, o narrador também entregou troféus para os campeões. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Hoje em dia, mesmo aposentado das narrações, Vicentini não abre mão de prestigiar a programação das entidades tradicionalistas, seguir pesquisando sobre o tema e registrando tudo em textos, que guarda junto a centenas de fotografias.

Carreteiro, colecionador de antiguidades e memórias

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Jairo emprestou peças de sua coleção e fez figuração no filme “Senhores da Guerra”. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Quando se refere à cultura gaúcha, todos carregamos alguma lembrança, seja de desfiles, eventos, piquetes, apresentações que participamos ou presenciamos. Para o atual patrono dos Festejos Farroupilhas de Gravataí, Jairo Bitello, as memórias, nesse caso, são muitas. Apaixonado pelo tradicionalismo e por antiguidades desde criança, o gravataiense se tornou um colecionador de peças que remetem ao folclore regional.

“Desde pequeno, eu sempre gostei dessas coisas. Gosto de manter os costumes e preservar os utensílios típicos da lida campeira, que já foram, aliás, expostos em eventos da cidade. É até difícil listar tudo o que tenho, são centenas de peças, que vão desde balanças e lampiões até carretas e placas de veículos de tração animal”, explica.

Item do acervo: carteira de condutor de tração animal. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Conforme o colecionador, o que mais lhe chama à atenção é a história por trás de cada item. Há utensílios como uma faca de bainha prateada que tem mais de 100 anos e um debulhador de milho utilizado na década de 1930. Porém, dentre tantos objetos, um carrega um fato bastante curioso para Jairo: a carteira de condutor de tração animal.

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“Quem viajava para Porto Alegre levando produtos, assim como meu pai na década de 1950, precisava pagar uma taxa para atravessar a Ponte de Cachoeirinha e ali tinha um posto de fiscalização, onde o condutor precisava mostrar a carteira de tração animal para não ser multado. Era bem como funciona com os carros hoje. Além disso, a carreta tinha que ter uma lanterna a querosene, pois não era permitido entrar na cidade, à noite, sem esse candeeiro funcionando”, relata.

Casa do patrono dos Festejos Farroupilhas de Gravataí 2023 já foi cenário de eventos tradicionalistas. Foto: Divulgação

Com tantos itens e objetos históricos que remetem à cultura gaúcha, a casa de Jairo já foi palco de alguns eventos, como o Dia de Campo organizado pela Subcoordenadoria do Vale do Gravataí e a transmissão de uma live da Comissão Gaúcha de Folclore. Filmes, também fazem parte da história do local. Além de ter servido de cenário para o “Cachoeirinha, uma história que se conta dançando”, muitas peças do colecionador também integraram o longa-metragem “Senhores da Guerra”, gravado em 2010, no qual o patrono foi um dos figurantes.

“Foi muito emocionante poder ver toda minha família e as minhas coisas servindo para contar as histórias do Sul. Isso me dá mais ânimo para continuar o projeto que tenho”, afirma. Atualmente, o tradicionalista promove o “Carreteando, Brincando e Aprendendo”, que compõe um acervo de livros e revistas interativas dentro de uma carreta de bois, formando, assim, uma biblioteca, onde as crianças podem aprender sobre os costumes gaúchos de uma forma divertida.

Carreta utilizada em projeto realizado com as crianças. Foto: Divulgação

Apaixonado pelo tradicionalismo do Rio Grande do Sul, Jairo Bitello sonha, ainda, em transformar o local e o interesse pelas antiguidades, em um museu da cultura gaúcha, a fim de que as famílias possam ter acesso à história daqui e serem, cada vez mais, intencionais nas construções de suas memórias.

Registros fotográficos

Para a produção desta reportagem, o Giro de Gravataí contou ainda com a colaboração de Júlio Barbosa, Jorge Tafras e Lúcio Motta (Tchê Clic Produções), que cederam fotografias de eventos tradicionalistas.

Grupo de cavalarianos na Semana Farroupilha do ano 2000. Foto: Júlio Barbosa
Desfile Farroupilha em Gravataí. Foto: Júlio Barbosa
Participação das crianças sempre encantou o público nos desfiles. Foto: Júlio Barbosa
Nos rodeios e Semana Farroupilha, a culinária típica atrai muita gente aos eventos. Foto: Júlio Barbosa
Manoel Farias Lopes, o Maneca Gaiteiro, foi um dos músicos mais conhecidos da região. Foto: Reprodução
Exposição em Festival de Folclore de Gravataí, fez referências a símbolos do RS. Foto: Reprodução
Cavalarianos de Gravataí mantêm a tradição de buscar a Chama Crioula. Foto: Tchê Clic Produções
Foto: Tchê Clic Produções
Foto: Tchê Clic Produções

Foto de capa – Oficialmente, o primeiro Desfile Farroupilha em Gravataí, após a instituição do Aldeia dos Anjos, ocorreu em 1958. Teodolindo Costa desfilou com a bandeira do Brasil e Generino Rosa com a do RS. À frente da comitiva também estavam Luiz Coruja, Oliveira Lopes e Valdemar Vicentini. Reprodução/Arquivo Pessoal

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