- Especial
- 6 de julho de 2021
Moradores sitiados pelo medo após sequência de assassinatos em bairro de Gravataí
Não se fala em outra coisa. Nos portões das residências, nas esquinas das pequenas ruas sem asfalto do bairro, até mesmo na conversa de dois pedreiros desmontando uma casa de madeira. Todo o assunto tratado na manhã de hoje (06) era por conta da noite silenciosa do entorno do campo do Caveirense – tradicional clube do bairro Padre Reus, que foi interrompida por gritos, passos na viela entre as casas e o campo até os três disparos que contabilizaram mais um assassinato no bairro.
No portão entreaberto de uma das casas da esquina do campo, no qual é também um bar – utilizado nos dias de jogos, a vítima, ainda não identificada pela polícia, chegou pedindo socorro, mas caiu ao solo entrando em óbito. Com os filhos pequenos em casa, a moradora relembra o medo que o homem ingressasse na residência e iniciasse algum tipo de tiroteio no interior do imóvel.
O retorno do medo
Pouco se sabe da dinâmica do crime. Na estreita passagem que atravessa o campo por trás da goleira e que liga a Rua Murilo Furtado ao loteamento Breno Garcia, a vítima passou, já que duas moradoras ouviram os passos apressados do homem, que agonizava, já baleado.
Aos poucos, durante a conversa, vizinhos da inexistente cerca que dividia a comunidade do início do Breno Garcia, eles vão lembrando do crime, mas falam baixo, e a cada movimentação na rua, interrompem a fala com medo. Ali mesmo, em uma das paredes da casamata do campo, que invade a calçada do lado do Breno, a inscrição ATB – pichada sobre a sigla anterior, BNC – reforça aos moradores os motivos para permanecerem em silêncio, reprimidos aos mandos e desmandos das organizações criminosas que promovem a sangria da região.
‘’Bairro irreconhecível’’
‘’A gente já tem que pensar em vender tudo aqui e pular fora. Tá ruim demais. Moro há mais de 20 anos e não lembro a ultima vez que o bairro foi violento. Depois que instalaram o Breno aqui já era, veio gente de tudo o que é lado’’, disse uma moradora – que por questões de segurança preferiu o anonimato. não se identificou.
Incomum em bairros com facções criminosas atuando, os furtos e assaltos nas redondezas também foram registrados por moradores, aumentando a sensação de insegurança. ‘’Esses dias roubaram uma senhora que saiu do mercado ali na Sertório. Aqui em casa já levaram algumas coisas. É que os casos muitas vezes não são registrados, mas tá acontecendo bastante’’, revelou a moradora, apontando para as grades de ferro que acabara de instalar.
Mortes
Três assassinatos com o uso de arma de fogo foram registrados nos últimos 90 dias, na comunidade. No dia 3 de maio, Cristian da Silva Santos de 26 anos foi executado a tiros quando caminhava pela Avenida Sertório – principal via de ligação à comunidade. Testemunhas informaram que dois homens em uma motocicleta, caracterizada como velha, teriam cometido o crime. O caso segue sendo apurado pela Delegacia de Homicídios.
A segunda vítima que deu sequencia à crescente de medo da violência foi há poucos metros do crime da noite anterior. Willian Maieski Jardim de 17 anos dormia em sua casa, na Rua Nilo Wolf, quando por volta das três da manhã criminosos invadiram a residência e o executaram. A vítima foi atingida pelo menos cinco vezes, três dos disparos foram na cabeça. O caso também segue sendo investigado.
Desde então, as crianças que brincavam no campo, já não aparecem com frequência. Se antes ficavam até a madrugada nas ruas, hoje são recolhidas mais cedo pelo pais. “A gente tem que se cuidar. Antigamente nós podíamos deixar eles a qualquer hora, hoje eu tenho medo que o meu fique na rua quando escurece. Não se sabe se algum louco vai chegar atirando. Sabemos que muitos dos casos é envolvimento com o tráfico, mas sempre sobra para os moradores de bem”, destacou uma líder comunitária.