- Especial
- 3 de agosto de 2021
Delação revelou assassinatos e tentáculos de facção na contravenção e na política em Cachoeirinha e Gravataí
Uma organização criminosa criminosa bem organizada, com tentáculos nas mais diferentes atividades econômicas, que iam desde o tráfico de drogas, exploração de jogos de azar, até mesmo financiamento de campanhas políticas. Era assim avaliada a facção ‘Bala na Cara’ em Cachoeirinha liderada pelo criminoso Tiago da Silva Soares, de 38 anos, conhecido como Pequeno.
Desde cedo ligado a atividades criminosas, ele foi ganhando notoriedade no grupo a partir da expansão dos negócios do tráfico de drogas, incluindo os ataques a banco, no qual Tiago já havia sido preso, em 2013. Anterior a isso ele havia sido condenado por outros três crimes a instituições financeiras.
Preso desde março pela Delegacia de Homicídios de Gravataí, Pequeno viu ruir seu grupo criminoso, mas o abalo nas estruturas ocorria meses antes de sua prisão – feita em um apartamento de luxo em Meia Praia, Santa Catarina. Com a ajuda de uma delação premiada a polícia apontou a facção de Pequeno como a responsável por 31 assassinatos ocorridos em Gravataí, Cachoeirinha, Porto Alegre, Guaíba, Eldorado e Taquara. Além disso, foram identificadas 79 pessoas ligadas ao grupo.
O homem, que não teve a identidade revelada, participou de pelo menos dez destas execuções, e hoje encontra-se no Programa Protege – de proteção a testemunhas. De acordo com a investigação, o grupo não só viu a oportunidade de eliminar a vida dos rivais, mas também fez negócios a partir disso, premiando os matadores com maiores responsabilidades, como a gerência de pontos de tráfico de drogas.
Núcleos
Embora formada por um notório criminoso (Pequeno), a facção, com base na Vila da Paz, não possuía empreendimentos que pudessem ser utilizados para lavagem de dinheiro, sendo preciso criar tentáculos em outras atividades. Uma delas, segundo a investigação, foi a contravenção, que se resumia em bingos e casas de máquinas caça-níqueis. Antigos proprietários destes locais passaram a dividir seus lucros, já que vinham sofrendo represálias e ameaças de morte.
A atividade rendia a facção muito mais lucro que o tráfico de drogas, além de uma administração menos violenta, sem que o bando de assassinos precisasse entrar em ação. Durante a operação desta manhã, policiais civis cumpriram ordens judiciais na Rua Botafogo, no bairro Vila Branca – reduto das jogatinas em Gravataí.
Uma característica do grupo criminoso era a ostentação bélica e a tortura a seus rivais. Em pelo menos duas investigações paralelas de outras delegacias foi comprovada a ordem de Pequeno para tais execuções. A mais recente delas em Mostardas, quando cinco pessoas foram mortas e pelo menos outras cinco ficaram feridas. O ataque, conforme a investigação, teria ocorrido por uma desavença na divisão do tráfico de drogas.
Política
Para uma parcimônia nas atividades ilíticas, o grupo também criou tentáculos na política. Além da investigação da Polícia Civil, o Ministério Púbico (MP) já vinha investigando o financiamento de campanhas eleitorais com o dinheiro oriundo da facção. No entanto, o candidato era o irmão de Pequeno, Juca Soares, eleito em 2020 pelo PSD de Cachoeirinha.
Conforme revelou a investigação, a campanha de Juca, além de ter sido financiada por dinheiro ilícito, foi envolvida por ameaças e e violência contra seus opositores, além de troca de favores em comunidades carentes da cidade, todas elas sob o domínio da facção do irmão. Durante a investigação para prender Pequeno em março, policiais revelaram que Juca tentava achar um local seguro para irmão, procurando sítios e casas no litoral.
Em uma coletiva de imprensa, na presença do delegado Ricardo Milesi, responsável pela investigação, a polícia anunciou a prisão de 22 pessoas. Aguarde novas atualizações.