André Valdez | Um porta-garrafa, dois garfos, três boêmios: novos rumos na vida noturna de Gravataí

André Valdez | Um porta-garrafa, dois garfos, três boêmios: novos rumos na vida noturna de Gravataí
Continua Depois da Publicidade

 

Quatro dias antes de celebrar o aniversário, o jornalista compartilha com o Giro de Gravataí a 46ª música da série “As 50 canções que embalaram meus 50” – “Eles asfaltaram a rua do meu amor”, de Tiago Ramos. O gravataiense também conta a história que impulsionou o investimento dos bares da 79 em música ao vivo.

 

Um porta-garrafa, dois garfos e três amigos boêmios mudaram os rumos da vida noturna de uma cidade. Disse um certo e desconhecido compositor: “acato a saudade e dispenso essa dor, troque o seu divã por uma mesa de bar […]” Que me perdoem os psicólogos, mas, a verdade seja dita ou ingerida em generosas doses, com a devida moderação, claro.

Continua Depois da Publicidade

Reitero a condição de irredutivelmente dizer que a vida é mesmo um porto de chegadas e partidas. No meu timão sem rumo desses 50 anos, muita gente desembarcou antes mesmo de navegarmos em mares brandos, mas outros tripulantes foram se juntando a essa embarcação que busca tão somente não naufragar e repele veementemente a cobiça e a ganância. Novos amigos foram embarcando e ficando num leme apaziguador e musical à deriva, porém seguro.

Teimo em dizer: “eu nunca fiz amigos bebendo leite”, como dizia o saudoso poeta Vinícius de Moraes. Você que frequentava ou ainda frequenta a icônica 79 ou a famosa “Goethenove”, sabe como teve início a música ao vivo naquela região? Não? Então, sem problemas, eu posso te ajudar, contando essa história…

Continua Depois da Publicidade

Um talentoso músico chamado Tiago Rosa fazia considerável sucesso na Aldeia, tocando em diversos lugares da cidade e na capital gaúcha. Mas era sempre no inesquecível e saudoso Bar do Gringo que, ao término do seu trabalho ao final da noite, ele era visto fazendo seus últimos acordes e tomando a clássica saideira (ou pé na bunda), com uma legião de fãs e amigos, antes de retornar pra sua casa.

E foi numa dessas passagens do músico pelas mesas do icônico bar que nos questionamos, digo: eu, o tirocínio Stanis e próprio artista. Afinal, por que não reproduzir o trabalho musical feito em toda a cidade ali, lugar este que chamávamos carinhosamente de nosso QG?

Continua Depois da Publicidade

Numa dessas noites, depois de cumprir seu compromisso, tocando em outro espaço, Tiago ingressa com seu típico caminhar no bar, sem saber que iria mudar a história da vida boemia de Gravataí. Eu não lembro a data oficial, mas foi nos idos de 2007.

Ele estava em posse do seu violão e um microfone. Foi o suficiente pra pensarmos rapidamente: o bar possuía uma caixa amplificada, o cantor tinha os cabos P10 que poderíamos conectar violão e microfone. Neste caso, já teríamos som capaz de invadir todo o espaço da casa. Mas ainda faltava algo pra selarmos de vez aquela noite, como sendo a primeira com som ao vivo naquele local.

Continua Depois da Publicidade

Depois de nos revezarmos segurando o microfone para o artista, já que não havia pedestal, vimos um incrível potencial numa camisinha e/ou porta-cerveja, e dois garfos. Descobrimos que tais utensílios possuem muito mais que só as atribuições que lhes são imputadas. Assim, nasce a música ao vivo na Goethenove, movimentando toda a cena musical que inevitavelmente passa pelos bares de lá.

Tudo que precisamos foi um violão, um microfone, uma caixa amplificada de dois garfos, um porta-garrafas térmico, três cabeças pensantes, a vontade de escutar Música Popular Brasileira, a inquietude da amizade, um músico talentoso e a aprovação da boemia. Depois desta histórica noite, os bares do entorno passaram a aderir a música ao vivo.

Continua Depois da Publicidade

É indiscutível a importância da ocasião e do cantor e compositor – hoje Tiago Ramos – para a cena musical da cidade. Após aquele evento, diversos comerciantes passaram a contratar diversos artistas, dos mais variados gêneros musicais. Quem vivenciou as noites de terça de MPB no Bar do Gringo, comandadas por Tiago, onde havia sempre uma enorme mesa, farta de muitas cervejas e amigos, entre sorrisos largos e conversas paralelas, certamente sente saudade. Aquilo mudou a vida noturna gravataiense e inegavelmente reflete até hoje, em cada bar lotado da 79.

Para ilustrar esse período de nossas vidas e coroar nossa amizade, ninguém melhor que o próprio cantautor para ser a trilha sonora desta inesquecível época. “Tanta gente mente que vive tão contente, tentando só pisar neste concreto plano, pintado feito um pano pronto pra rasgar… É pra quem suporta tudo ao revés” […] A música “Eles asfaltaram a rua do meu amor” integra o repertório do EP “Os becos da sala de estar” (2006). Dito isso, teimo em dizer: ouça em alto e bom tom, pois atesto e dou fé.

Continua Depois da Publicidade
Continua Depois da Publicidade

Notícias Relacionadas

André Valdez | No Live Rock Festival de Cachoeirinha, artistas deram show de empatia

André Valdez | No Live Rock Festival de Cachoeirinha,…

  A terceira edição do Live Rock Festival foi realizada no último domingo (27/8), em Cachoeirinha. Foi o primeiro evento presencial…
André Valdez | Cine Victoria: Memórias afetivas e a sétima arte como ferramenta de inclusão

André Valdez | Cine Victoria: Memórias afetivas e a…

  Afinal, o que são as reminiscências, se não cheiros, paladares, gostos pessoais, sabores, imagens, palavras proferidas que jamais serão esquecidas?…
Em comemoração aos 50 anos, gravataiense lança série sobre a trilha sonora de sua vida

Em comemoração aos 50 anos, gravataiense lança série sobre…

  “É como se os corações batessem no mesmo compasso. Como se as almas vibrassem na mesma frequência, como se cantássemos…