- Geral
- 5 de maio de 2020
Roquistas #4 | E nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz; Gravataí terá tributo a Legião
Acho que finalmente chegou a geração de adultos que não escutou Legião Urbana. É a galera que hoje está na primeira metade dos 20, que já acha que Charlie Bronw Jr. e Raimundos são antigos, sim, eles existem. Confesso que não sei que bandas atuais podem trazer a eles o que Legião Urbana me trouxe. Para mim e para algumas gerações. Não, não estou sendo saudosista, nem dizendo que a música atual não é boa, apenas que não conheço uma paralelo contemporâneo à forma como Renato Russo dialogava, principalmente com os jovens.
Muito antes de conhecer os Ramones e tentar tocar em uma banda punk, eu não tinha muitas referências musicais. Acho que tinha uns 13 para 14 anos quando ganhei o Acústico do Legião. Tomei um soco, muito forte. Cada letra cantada por um Renato Russo acompanhado por Dado no violão e Bonfá na percussão tocou muito fundo. Adolescente, criança a ponto de saber tudo, compreendia cada metáfora, até aquelas que talvez fossem só um jogo de palavras sem necessariamente ter um significado real.
Em um show que virou disco, Renato comenta “as pessoas acham que eu tenho a resposta, eu não sei qual é a pergunta”. Mas, por mais que tentasse tirar este peso de si, mesmo após ter nos deixado, as letrar que o antigo Trovador Solitário escreveu mexeram com milhões, uma sensibilidade que eu não consigo explicar. Se o punk e o grunge conseguiram canalizar a fúria de alguns jovens, Legião Urbana também passou por aí, mas conseguiu se aprofundar em nossos segredos mais sinceros, ao passo que desafiava o instinto dissonante.
Foi aquele disco acústico, no verão de 2000 que me colocou no caminho do rock, foi a minha primeira referência musical e tenho certeza que muito da minha personalidade sofreu uma influência forte da Legião. Quando ouvi os primeiros acordes de Baader-Meinhof Blues, faixa que abre o álbum, Renato Russo já estava em um outro plano. Nunca pude ver um show dele. Felizmente, existem artistas extremamente talentosos que nos brindam com homenagens ao Renato e à Legião.
No próximo sábado, Chris Mithra, um dos caras mais talentosos da região vai nos permitir voltar um pouco no tempo. Ele é a atração deste sábado no Bar do Lado, que reabre na sexta. Quem não tiver como ir, ou não se sentir seguro, poderá acompanhar o show de Tributo à Legião pelo Facebook. Neste momento de pandemia, reabertura, incertezas, acho que ouvir aqueles clássicos novamente pode ser reconfortante.
Há quem ache Legião Urbana muito depressivo. Em alguns momentos é verdade. Ainda não encontrei nenhuma música tão triste quanto Clarisse. Mas se o mundo anda tão complicado, talvez, mais do que nunca faça sentido ouvir os versos finais de Metal Contra as Nuvens.
E nossa história não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz
Teremos coisas bonitas para contar
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe para trás
Apenas começamos
O mundo começa agora
Apenas começamos
Curta um pouco do Chris tocando Legião, ouça no volume máximo: