Polícia conclui que criança não foi retirada de escola e abusada sexualmente em Gravataí

Polícia conclui que criança não foi retirada de escola e abusada sexualmente em Gravataí
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Publicação original, feita em rede social por uma parente da criança, apresentava os fatos cometidos pelo ‘pedófilo’ com a foto do menino. Foto: Reprodução.

A Delegacia da Mulher de Gravataí remeteu nesta última semana o inquérito que investigava um suposto abuso sexual contra uma criança de 4 anos que havia sido retirada de dentro da Escola Municipal Presidente João Goulart, no bairro Morada do Vale I, em Gravataí. Após a criança ser conduzida até a mãe por uma moradora da localidade, que reconheceu o menino que caminhava pela rua, a família divulgou nas redes sociais o acontecido, informando que o garoto havia sido retirado da escola por um homem, colocado dentro de um veículo, abusado sexualmente, e deixado no entorno minutos depois.

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Além disso, a mãe do menino confirmava o abuso, já que segundo ela, a criança foi encontrada com as roupas sujas.  Imagens internas da escola, as quais a mãe teve acesso e que foram divulgadas também em páginas de Facebook, mostram o momento em que o menino sai sozinho e caminha na calçada ao lado da escola. Antes disso, uma outra câmera mostra o homem próximo do portão, que segundo a mãe, ele abre para a criança sair.

Circuito interno da escola auxiliou a polícia na elucidação do caso.

Ainda no dia do ocorrido, o Conselho Tutelar foi acionado e levou a criança para realizar exames. Uma ocorrência foi registrada na delegacia, na qual a mãe reforçou que o menino havia sofrido o abuso, praticado pelo homem em um veículo de cor branca. As imagens mostram a criança saindo de dentro da escola enquanto o homem embarca em um carro e sai, no sentido contrário ao menino. Mesmo assim, a mãe relatou na ocorrência que acreditava que o suspeito tivesse dado a volta na quadra, encontrando seu filho e o embarcando no carro.

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Os primeiros dias de investigação

Respondendo pela Delegacia da Mulher, o delegado titular da Delegacia de Homicídios, Eduardo do Amaral, começou a investigar o caso. De acordo com ele, em depoimento da mãe apresentou a mesma versão. Durante o andamento das investigações, policiais identificaram o homem nas imagens. Ele, esposo de uma vendedora de lanches que chegou na escola para vender aos professores, se apresentou na delegacia para prestar depoimento.

Conforme o delegado, o motorista do veículo relatou a rotina até a data do fato e informou que ajudou a companheira a levar os salgados para o interior da escola e não viu o momento em que a criança saiu. Após isso, embarcou em seu veículo. Dentro, seu pai lhe aguardava para que fossem ao mercado. Mais tarde, ainda segundo Amaral, câmeras do circuito interno do mercado confirmaram a versão do homem.

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“Ele prestou depoimento e através disso conseguimos comprovar que de fato, ele não tinha nenhuma participação nesta versão apresentada pela mãe. Até mesmo estava com seu pai no veículo e foram neste mercado. Também está provado”, destacou Amaral.

Versão sustentada 

Na escola, pais dos alunos, movidos também pela revolta popular das redes sociais, chegaram a realizar um manifesto em frente à instituição e cobraram providências da direção, já que por conta da negligência, um homem havia retirado a criança de dentro do pátio e abusado sexualmente. Entretanto, naquela altura, a investigação já encontrava contradições no caso.

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“O que se tinha era a saída da criança que estava caminhando na rua, em direção a sua casa. Ela ficou cerca de 20 minutos fora da escola. Entre cinco e dez ela foi localizada pela moradora que conhecia sua mãe. No depoimento da mãe já havíamos identificado que ela não estava apresentando apenas os fatos, ela apontava a dinâmica e o autor do crime”, disse Amaral.

Para a imprensa, a mãe também havia informado que o exame de corpo de delito realizado no filho daria positivo, conforme informações preliminares no Palácio da Polícia. Durante o curso das investigações, a Polícia Civil recebeu o laudo do menino, que restou negativo para o crime de estupro. Além disso, conforme o confronto no depoimento de testemunhas, todas informaram que a criança aparentava estar assustada, mas tinha as roupas limpas e não apresentava nenhum tipo de ferimento ou indícios que pudessem apontar que algo havia ocorrido.

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Delegado Eduardo do Amaral foi o responsável pela investigação.

Uma sucessão de erros, aponta Amaral 

Criminalmente a mãe não responderá por nenhum crime, já que ela acreditava na sua versão, o que é diferente da denunciação de um fato inexistente. Mesmo assim, o delegado entendeu que uma série de fatores contribuíram para o caso. Entre eles, a exposição desnecessária da criança, a divulgação precipitada da imprensa e demais meios, que ouviram apenas a versão da mãe, e a revolta de populares, promovendo uma injustiça.

“Na investigação do caso nós conseguimos constatar uma versão diferente daquela apresentada pela mãe. Ela se mostrou firme e convicta naquilo que acreditava ter acontecido com o filho. Uma série de fatores também ajudaram para que o casso fosse divulgado, prejudicando uma pessoa inocente. O primeiro fator foi a exposição da criança com foto nas redes sociais. É óbvio que isso gera uma revolta na comunidade. Além disso, a divulgação deste conteúdo e a imprensa, de forma equivocada, apenas com o depoimento da mãe, contribuíram para que a história tomasse estas proporções.

O homem acusado, quando prestou depoimento aqui, já havia se mudado para a praia pois não sabia o que podia acontecer, estava com medo. Acredito que tenha sido um choque muito grande para ele e a esposa. Ele também não possuía registro policiais, era um cidadão de bem que largou tudo aqui por conta da exposição. Foi acusado injustamente, teve sua vida pessoal, financeira abalada”, pontou.

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Amaral também lembrou que, apesar do não indiciamento da mãe, ela não está livre de responder civilmente e destaca também o prejuízo para a comunidade escolar. “Estamos falando de nossa competência. Aqui, pelo inquérito ela não será indiciada conforme falei anteriormente, mas na esfera civil ela ainda poderá responder se caso alguma das pessoas envolvidas na história se sentir lesada.

A comunidade escolar também sofre com isso, mas expõe também a questão da segurança, que deve sempre ser redobrada com as crianças. Isso serve de alerta. Quanto à investigação, foi rápida a resposta, principalmente com as secretarias de Segurança e Educação de Gravataí que prontamente se colocaram à disposição para elucidar o caso”, finalizou Amaral.

A direção

A direção da escola, em entrevista à reportagem do Giro de Gravataí também informou ter sofrido com a situação. Conforme a diretora Matza Fabiana, de 45 anos, afirma que a primeira semana do caso foi a pior, principalmente para os professores. “Foi bem complicado, mas desde o começo nós achamos estranha toda aquela situação. Quando ele voltou, já acompanhado da mãe, eu abracei ele e comecei a chorar, por óbvio, já que ele saiu da escola por uma falha nossa, e isso sempre reconhecemos. Mas depois acompanhamos que a mãe e familiares relataram o estado da criança.

Um outro ponto que chamou a atenção foi quando a mãe solicitou acesso às imagens. Logo em seguida ela indagou e posteriormente insinuou que o homem que aparece nas imagens teria pego o menino, colocado dentro do carro e abusado sexualmente. Mesmo as imagens mostrando o carro indo no sentido contrário, ela continuou sustentando esta versão. Nós até mostramos as imagens para a Guarda Municipal, que em nenhum momento fez referência ao homem, já que ele não tem nenhuma atitude suspeita no vídeo. Quando percebemos, já estávamos sendo alvo de ataques”, disse a diretora.

“Nós nunca negamos que ocorreu uma falha na escola, mas o que foi divulgado, e principalmente em páginas de Gravataí, foi isso, que havia ocorrido um suposto estupro, sem terem ido apurar realmente o fato. Muitos professores atenderam os pais, muitos revoltados, e com razão, mas na grande maioria, influenciados pelo que viram nas redes.

A nossa sorte foi que muitos pais que conhecem nosso trabalho, que sabem do nosso esforço na escola, a primeira da região das Moradas, nos apoiaram e ficaram ao nosso lado até que as coisas fossem esclarecidas. Infelizmente um homem foi lesado com tudo isso e precisou deixar a cidade. E isso quase aconteceu conosco”, destacou Matza.

Mãe contesta

A reportagem do Giro de Gravataí falou com a mãe do menino que informou que ainda não teve acesso ao laudo pericial. Ainda segundo ela, será contratado um advogado particular para tratar sobre o caso. Referente ao exame negativo, ela se disse aliviada, mas sustenta que o homem não é vítima na história.

 

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