Padre Fabiano | Casos recentes expõem “uma chaga na sociedade; o problema do racismo não foi resolvido”

Padre Fabiano | Casos recentes expõem “uma chaga na sociedade; o problema do racismo não foi resolvido”
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Scott Olson / Getty Images

O assassinato de George Floyd nos Estados Unidos no último dia 25 de maio despertou uma onda de protestos, não só no país, mas em todo o mundo, contra o racismo. As timelines encheram-se da noite pro dia com a hashtag #blacklivesmatter, vidas negras importam, o lema do movimento antirracista.

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Não é a primeira vez que vemos notícias de negros mortos com brutalidade pela polícia norte-americana. Em 2014, Eric Garner foi morto em Nova York da mesma forma que George Floyd: uma chave de braço, que não parou mesmo após ele afirmar onze vezes que não conseguia respirar. (https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2020/06/14/interna_mundo,863640/brasil-e-eua-negros-correm-mais-risco-de-ser-mortos-pela-policia.shtml). Há notícias desse tipo em solo brasileiro. Ano passado, David do Nascimento, 23 anos, negro, saiu de casa, na favela do Areião, em São Paulo, para usar o wifi de um bar na vizinhança. Foi colocado dentro de um carro da polícia e apareceu morto, com marcas de tortura. Em novembro desse ano, Wemerson do Nascimento Santos morreu na periferia de Belo Horizonte; trabalhava capinando um terreno, quando policiais que faziam uma operação no bairro deram-lhe uma rasteira e um mata-leão. Como essas, há muitas mais.

Segundo algumas estatísticas, um negro estadunidense tem 2,9 vezes mais chance de ser morto por policiais. No Brasil, os negros têm 2,3 vezes mais chances de serem assassinados por policiais. Segundo a revista Exame, Brasil e EUA compartilham números desproporcionais de assassinatos de negros pela polícia. ( https://exame.com/brasil/no-brasil-e-nos-eua-negros-correm-mais-risco-de-ser-mortos-pela-policia/). E as estatísticas continuam, mas o objetivo dessa coluna não é encher o leitor de números. Esses estão disponíveis na internet.

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De forma alguma quero colocar todo o fardo na polícia. Foram apenas exemplos da temática. Na questão de George Floyd, não faltaram informações sobre sua vida pregressa, sobre possíveis crimes já cometidos, sobre a possível resistência à prisão que ofereceu. Da mesma forma no Brasil, não faltam os que argumentam sobre a vida criminosa dos afrodescendentes assassinados.

A questão é, porque um número elevado de afrodescendentes, tanto no Brasil quanto nos EUA são absorvidos pelo mundo do crime? E isso justifica um uso desproporcional de força? Não há como assistir o vídeo da prisão de Floyd e não ficar estarrecido com a truculência do policial que colocou o joelho em seu pescoço. Se ele era um criminoso, isso abranda o fato do policial ter asfixiado ele com o joelho?

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Isso expõe uma chaga em nossa sociedade; o problema do racismo não foi resolvido com a campanha de abolição da escravidão negra iniciada pela Inglaterra no século XIX. Tampouco no Brasil, o 13 de maio de 1888 não pôs fim aos rótulos inferiorizantes colocados nos africanos, nem a exacerbação do carnaval, da capoeira e o “incentivo” dado às religiões de matriz africana significam que no Brasil a questão do racismo está resolvida.

Os negros têm menos acesso à educação, a uma saúde de qualidade, a oportunidades no mercado de trabalho, estão nas classes mais baixas. Isso é resultado da maneira como foi feita a abolição da escravidão no Brasil. Não houveram programas sociais para os libertos no 13 de maio. Eles foram simplesmente libertos: da noite pro dia estavam livres. Mas livres onde? Viver onde? Trabalhar onde? Não era responsabilidade dos fazendeiros. Eles foram simplesmente jogados na sociedade, sem nenhuma política social por parte do governo. Aí está a raiz de tudo.

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O #BLACKLIVESMATTER não significa que somente as vidas negras importam. Não gradação na importância da vida. Vidas negras, vidas chinesas, vidas muçulmanas, vidas de embriões, todas as vidas humanas importam, e todas devem ser protegidas. Contudo, em certos momentos algumas vidas tornam-se mais vulneráveis que outras, e, em cada contexto histórico, temos que olhar com mais carinho para aquelas vidas mais vulneráveis naquele momento.

O momento agora nos exige que pensemos com profundidade no tema do racismo. Não podemos permitir que a cor da pele seja motivo de discriminação. É um absurdo. Aos leitores do Giro que são cristãos, lembro que, ao contrário das tradicionais imagens europeias que mostram Jesus loiro e de olhos azuis, ele era palestino, por isso, de pele bem morena e olhos escuros.

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