Orgulho gaúcho em Gravataí | A emoção que inspira causos, poesias e declamações

Orgulho gaúcho em Gravataí | A emoção que inspira causos, poesias e declamações
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Devoção à cultura gaúcha

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Declamadora conhecida em Gravataí e na região, Tania Fonseca coloca em suas apresentações todo o amor e respeito que tem pela cultura do Rio Grande do Sul. Ao ser perguntada pela reportagem sobre a ligação com o tradicionalismo, ela deixa evidente a admiração que sente. “No meu caso, eu não diria ligação, mas devoção à nossa cultura gaúcha. É um elo muito forte, de sentimento muito arraigado”, afirma.

O talento e a dedicação de Tania à cultura gaúcha, seja por meio das declamações ou participação em outros projetos de valorização às raízes, são reconhecidos pelos tradicionalistas da cidade. No ano passado, ela foi eleita por unanimidade patrona dos Festejos Farroupilhas de Gravataí. Também foi agraciada com o troféu Mulher Gravataiense e a Comenda João de Barro, em Espumoso.

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Natural de Gravataí, a tradicionalista está inserida no movimento desde 1956, através da lida campeira, atividades artísticas e culturais. Tania conta que ainda na infância integrou o grupo de dança tradicionalista do Clube de Mães São José, no Barro Vermelho. Ao longo da trajetória, também desempenhou funções de liderança em entidades tradicionalistas. Foi, por exemplo, diretora cultural do CTG Laço da Amizade, entre os anos de 2011 e 2014. Esteve à frente da Subcoordenadoria do Vale nos anos de 2015 e 2016 e foi diretora artística e cultural do CTG Sentinela do Rio Grande, de Glorinha.

No ano passado, Tania Fonseca foi a patrona dos Festejos Farroupilhas de Gravataí. Foto: Divulgação

Membro do Clube Literário de Gravataí, a patrona dos Festejos Farroupilhas em 2022 costuma participar de tertúlias nos CTGs da região. Nos eventos, o público pode perceber o profundo sentimento pelas tradições gaúchas. “É fundamental que haja emoção em tudo na vida e não seria diferente na arte de declamar. São horas de estudo na colocação da voz, no decorar estrofes, sentir-se íntima daquela poesia, apropriar-se dela com uma digital única e transportar no som de cada palavra a emoção aos ouvintes”, destaca.

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Na entrevista ao Giro de Gravataí, Tania descreveu ainda como é ser declamadora. “É como se eu tatuasse no coração esse ofício, me comprometendo com o desafio de explorar toda a inspiração que meus sentidos podem provocar e transformar em total emoção o que estou declamando. E nesse momento, se torna leve, porque a nossa tradição é ímpar, recheada de excelentes e talentosos poetas”, comenta.

Foto de capa: Giro de Gravataí/Especial

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Elder Rocha Medina representa o Aldeia há 20 anos. Foto: Divulgação

O sentimento em cada verso

Nas modalidades literárias, Gravataí conta com diversos talentos. Um deles é Elder Rocha Medina, de 51 anos, membro do CTG Aldeia dos Anjos há duas décadas. O massagista e técnico de enfermagem se destaca na produção de poesias, contos e causos e já conquistou premiações como declamador. Seu amor ao tradicionalismo abrange, todavia, outras modalidades, como as danças tradicionais, chula e gaita de boca.

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Foi após a visita de um CTG à escola onde estudava que Elder decidiu conhecer o movimento tradicionalista. Desde então, esse vínculo com as tradições só fortaleceu. “Lá conheci a Chama Crioula e dei meus primeiros passos de dança. Através de um colega meu, que fazia parte do grupo de danças, acabei entrando. Um ano depois, virei instrutor deste grupo. Conforme o tempo foi passando, fui adquirindo mais habilidades”, relata.

Segundo o representante do Aldeia, nas declamações sua inspiração é o estilo campeiro do amigo poeta e pajador Pedro Júnior da Fontoura. “E também o saudoso Jaime Caetano Braun”, acrescenta.

Tempo perdido

Poesia de Elder Rocha Medina

Na retina dos teus olhos enxerguei o meu futuro.

Meu coração disparava como fletes, campo afora.

Quantas vezes, mateando na varanda, balbuciei teu nome pensando que tu chegaras.

Foi sempre assim, desde o primeiro dia em que te vi.

Fazia questão de eu mesmo ordenhar as vacas, só pra te esperar mateando na varanda, e vê-la adiante atravessar a porteira, pra vir buscar o leite pro café da manhã.

Linda como um dia de primavera, olhos da cor do céu, cabelos como os campos de trigais, e o perfume das flores, que só de lembrar sinto seu cheiro.

Como eu queria ser um beija-flor só pra provar o seu néctar.

Quando criei coragem, olhei no fundo de seus olhos e disse:

– Um dia serás minha…

Jamais imaginava o que estava por vir.

– Me vou pra cidade buscar mais cultura, ter mais recursos, talvez ser doutor.

– Pra que nossos filhos não sofram igual ao pai, abaixo de chuva, de frio e calor.

– Voltarei com a guaiaca recheada, pra construir nosso rancho de amor.

Juntei as malas e me fui.

Deixei para trás, acenando da cancela, aquela que me dava forças para seguir em frente, e bons motivos pra voltar.

Na grande cidade tudo era diferente.

Não tinha aquele:

– Buenas, chegue pra diante.

– Amarre o pingo e venha tomar um mate…

Uma multidão andando na rua, e ninguém se olhava.

Quanta tristeza me deu, em pensar que deixei meu rancho, pra vir pra um lugar onde ninguém sequer me dá “bom dia”.

Vendi meu cavalo, paguei faculdade, fiz tudo aquilo que eu prometi.

Pra dar bom futuro pra minha família, nos bons momentos que haverão de vir.

Passei tantos anos buscando cultura, que o tempo passou e eu nem percebi.

Quando voltei pro rancho, trouxe nas mãos um buquê de flor.

Pensando na amada, que ali me esperava, com aquele sorriso repleto de amor.

Na sombra de uma figueira, estava ela brincando com alguém que dizia:

– Mamãe…

Ao seu lado, um pai de família que não era eu.

Roubando um sonho, que tanto sonhei.

Quanta ilusão pensar que teria um amor eterno.

Soluçando, nervoso, em prantos chorei.

A vida e seus mistérios. Sou um eterno aprendiz.

Por ilusão, sem maldade, buscando a felicidade esqueci de ser feliz.

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