- Especial
- 13 de maio de 2021
Morador de Gravataí precisa provar que está vivo
A pandemia do novo coronavírus tem trazido mudanças na vida de todos, principalmente na economia familiar. No caso do gravataiense Rodrigo Flores da Silva, de 35 anos, a situação se agravou ainda mais. Operador de máquinas em uma das sistemistas do complexo da General Motors (GM) em Gravataí, ele teve o contrato de trabalho suspenso, medida que reduz o salário dos funcionários, mas que evita demissões, conforme o sindicato.
Readequando a economia em casa, onde vive com a esposa e os três filhos, de três, cinco e 11 anos, ele aderiu ao programa bolsa qualificação, do governo federal, direcionado a funcionários em lay-off nas indústrias. Se não bastasse a mudança abrupta na condição de vida, um outro problema, ainda mais grave tem causado transtornos. Rodrigo precisa provar que está vivo.
Foi no dia 6 deste mês que ao preencher o cadastro do sistema, seu CPF foi invalidado, constando no sistema do Ministério da Economia a condição de “falecimento do trabalhador”. A essa altura, os colegas de serviço já se preparavam para receber o auxílio, que segundo Rodrigo seria a única forma de renda da família.
Entendendo tratar-se de um erro no sistema, Rodrigo foi até o Sine para consultar seu documento de identificação, que no órgão estava em situação normal. Em contato com o cartório, ele foi informado que uma certidão de óbito havia sido expedida em seu nome. O erro aconteceu por conta da morte de um outro homem, também chamado Rodrigo Flores da Silva. No entanto, o problema não era apenas a coincidência de nome. A certidão de óbito tinha todos os dados do gravataiense, informações do estado civil e até mesmo informações complementares, incluindo o nome da mãe.
O desenrolar no Hospital
Considerado morto, Rodrigo conseguiu informações sobre o registro do óbito. O documento de origem havia sido atestado no Hospital Vila Nova, na Capital. No entanto, a essa altura, com prestações atrasadas, incluindo de água e luz da residência, ele precisou pedir ajuda para ir até o hospital e verificar a situação. “Aí, eu já tive que pedir ajuda pra ir até lá, não tenho dinheiro, tô com as contas atrasadas já. A família depende de mim. Chegando lá, fui informado da minha ficha de óbito”, contou ele.
O documento confirmava a morte de Rodrigo Flores da Silva, com os dados do operador de máquinas, no entanto, a condição colocada no atestado era de que o morto estava em situação de rua, e que o óbito havia ocorrido em dezembro de 2020. Uma certidão encontrada no bolso da vítima morta atestava seu nome: Rodrigo Flores da Silva, mas de 30 anos.
Conforme apurou a reportagem do Giro de Gravataí, o erro pode ter ocorrido na troca de informações para o preenchimento do laudo. Conforme o morador de Gravataí, até mesmo uma foto sua, consultada pelo sistema da Polícia Civil, foi apresentada como se fosse a do morto.
Notando traços semelhantes, e sem consultar outros dados, que mostrariam, apesar do mesmo nome, tratar-se de duas pessoas diferentes, o responsável pela digitalização do óbito acabou registrando Rodrigo, o vivo, no lugar do falecido. Presente no Hospital, a direção informou a Rodrigo que o corpo de advogados da casa de saúde acompanharia o caso afim de regularizar a situação do gravataiense.
“Não é pouco caso, eu não consigo dormir, to comendo pouco, não é pelo nome, é porque com essa restrição não consigo retirar o dinheiro, não posso pagar conta, tenho filhos pra sustentar. Vou fazer o que agora? To na ânsia de resolver isso tudo, minha família depende de mim, preciso viver”, destacou ele.
A reportagem do Giro de Gravataí busca contato com a direção do Vila Nova.