Manuscritos guardados há mais de três décadas viram livro em Gravataí

Manuscritos guardados há mais de três décadas viram livro em Gravataí
Continua Depois da Publicidade

Considerado uma relíquia que atesta e confronta o que se sabe sobre a história de Gravataí. Os manuscritos do historiador Agostinho Martha e de Marco Bandeira Martha (seu filho) finalmente deixarão de circular de forma semi-anônima e surgirão para a vida em um livro, que reuniu quatro pessoas em encontros marcados por histórias, legados e o amor pelas raízes da cidade.

Continua Depois da Publicidade

O livro “Nossa Terra, Nossa Gente: A história de Gravataí (1730-1950)” será lançado oficialmente na próxima quarta-feira (26) em uma solenidade, em memória do historiador que foi fundamental para a curadoria e a preservação da história do município. ‘’É um evento de gala, vamos ter até um cerimonial, do jeito que o Agostinho era, um homem bem-apresentado, elegante”, lembrou a integrante do grupo Angela Maria Fonseca – filha de Antônio Fonseca, melhor amigo de Agostinho Martha.

É dela, do seu esposo Julinho Barbosa, do professor, historiador e colunista do Giro de Gravataí, Amon Costa e do jornalista Leandro Nazari, com o apoio de Pedro Martha – um dos guardiões dos manuscritos de seu pai, a missão de publicizar todas as obras deixadas por Martha.

Continua Depois da Publicidade

Reunidos para o projeto Retratos de Gravataí – livro que contará em fotos a história de Gravataí, o grupo passou a se encontrar na residência do casal Julinho e Angela, no centro da cidade. Sentados no entorno da mesa quase centenária – local onde por décadas Antônio Fonseca e Agostinho Martha discutiam os rumos da cidade, eles decidiam detalhes e aprofundavam pesquisas com moradores para o acesso a acervos particulares de fotografias.

A busca incessante por manter viva a história da Aldeia dos Anjos levou o grupo a fazer contato com a família Martha, que tinha arquivos e documentos guardados pelo patriarca, que apesar de ter vivido pouco em Gravataí, foi o grande responsável por muitas das coisas que conhecemos hoje.

Continua Depois da Publicidade

‘’Nós já tínhamos conhecimento dos manuscritos e todos aqui na cidade, os mais velhos, cresceram sabendo que Agostinho preservava todo esse acervo. O fato é que nunca oficialmente ninguém havia conseguido publicar. Por pelo menos três vezes em épocas diferentes algumas pessoas iniciaram o processo de digitalização, processo esse que foi feito pelo filho, Pedro Martha, mas nunca passou disso. Exemplares caseiros circulavam entre as pessoas, mas nada oficial. Por isso era um desejo de todos”, concordaram em falas simultâneas Julinho, Angela e Amon.

Agostinho na Itália, na Segunda Guerra Mundial. Foto: Reprodução Seguinte:

Ao fazerem contato com o filho de Agostinho, Pedro comentou sobre o interesse que tinha de ver os arquivos do pai como um livro oficial, como lembra Julinho. “Eu chamei a Angela e falei: liga lá pros Martha e vê o que eles tem para nos ajudar com o livro de fotografias. Ela ligou e ele ficou interessado sobre essa nossa reunião, que ocorria nos sábados. Ai convidamos, falamos que poderia vir, convidar os irmãos, quem ele quisesse.

Continua Depois da Publicidade

Naquela noite do contato, passado das 23 horas ele começou as despejar fotos no WhatsApp e no e-mail. E não parou mais. Eu parei de acompanhar ele perto da uma hora da manhã. No outro dia acordei e me assustei com a quantidade de fotografias e suas raridades. Era algo de outro mundo’’, lembra Julinho, um apaixonado por retratos e conhecido na cidade pelo hobby de fotografias de ângulos do município e também os eventos.

”Dizem aí que se tu pedir; eu preciso de uma foto do fulano de tal, no evento tal do ano de 2014, o Julinho tem. Ele registrou”, lembra Amon sobre o colega de projeto.

Continua Depois da Publicidade
Foto: Julinho Barbosa/Especial

No dia 04 de dezembro, o grupo se reuniu com Pedro e os irmãos. Durante a conversa eles lançaram sobre a mesa a proposta para o grupo, pedindo que levassem adiante o desejo de todos: publicar oficialmente os lendários manuscritos de Agostinho. “Primeiro nós concordamos e vimos que era bem possível, pois tínhamos a técnica necessária entre nós na mesa e quem daria o suporte através de todos os conteúdos históricos. Primeiro nós aceitamos, depois trememos de medo’’, lembrou o jornalista gravataiense Leandro Nazari, também entusiasta da história da cidade, sobre a responsabilidade do projeto.

Os documentos

Por volta da década de 30, Agostinho Martha, então com 22 anos, ainda morando em Gravataí, começou seu resgate histórico sobre a formação e habitação de nossas regiões, sobretudo na então Sesmaria Nossa Senhora dos Anjos. Segundo o grupo, a pesquisa resultou em documentos que reconfiguraram a história que se sabe sobre a cidade. Do aniversário de Gravataí aos encontros arqueológicos e fragmentos de moinhos às margens da Freeway também contemplam os documentos que enchem os olhos dos responsáveis pela primeira publicação oficial.

Além disso, a partir do estudo de documentos da Igreja Católica e cartas dos primeiros tropeiros, Agostinho aprofunda um debate que também mexeu com a história do Rio Grande do Sul, provando que os açorianos já plantavam nestas sesmarias 33 anos antes da chegada dos índios missioneiros. Outros fatos e curiosidades sobre regiões de Gravataí e suas edificações, como a Igreja Matriz, também aguçam o imaginário daqueles apaixonados por história, principalmente a nossa.

Continua Depois da Publicidade

Sobre os autores

Agostinho Martha

Nascido em Gravataí, em 28/08/1914, na infância vendia os pães caseiros que sua mãe fazia e, ao final do dia, recolhia as vacas do pequeno tambo de leite do seu pai. Teve as primeiras aulas na escola da Prof. Áurea Selli Barbosa (Didi) e completou o curso primário em 1928. O sonho de ser advogado deu lugar a outras realizações.

Em 1935 alistou-se no exército, em Santa Maria, onde permaneceu até 41, desligando-se como 3o Sargento. Quando concursado, assumiu como escriturário junto à Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS). Convocado, em 1944, fez parte da FEB, lutando na Itália, durante a II Guerra Mundial. A partir de 1951 dirigiu e organizou, no SESI-Porto Alegre, o Serviço de Cinema da Divisão de Educação.

Depois da aposentadoria, em 1971, trabalhou como secretário na Prefeitura Municipal de Gravataí e pode se dedicar com mais afinco a sua grande paixão que sempre foi a leitura e a pesquisa histórica, atividades que exerceu até sua morte, em 17/04/1991. Em 1981, a cidade onde nasceu o historiador autodidata o homenageou designando o seu nome ao Museu Municipal de Gravataí.

Marco Antônio Bandeira Martha

Primeiro filho de Agostinho Martha, advogado formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), nasceu em Santa Maria, em 20/08/1946. Iniciou seus estudos em São Leopoldo, para onde a família se transferiu em 1951, e completou sua formação em Porto Alegre, no Colégio Estadual Júlio de Castilhos e na UFRGS.

Iniciou sua vida profissional no Serviço Jurídico do SESI, estabelecendo-se, em seguida em seu próprio escritório – Bandeira Martha Advogados –, atuando, sobretudo, na prática Cível, especializando-se, posteriormente, em responsabilidade médica e medicina defensiva como consultor jurídico da Amrigs, até sua morte, em 22/07/1997. Paralelamente, dedicou-se a acompanhar o pai nas pesquisas sobre a história de Gravataí e da genealogia da família.

Ficha 

A primeira aparição oficial do livro ocorre na cerimônia do dia 26, na Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul – CAERGS, reservada a familiares, autoridades e a imprensa. Já o lançamento oficial acontece no dia 30 (sábado), das 11h às 18h no Sonho Gastronomia, que fica na Rua Cônego Pedro Wagner, 733.

Análise

Desde que me comunico pelo Giro de Gravataí, nunca escrevi em primeira pessoa. Nunca dei uma opinião por meio de uma noticia. É a pedido do colega de redação, Amon Costa, que é integrante desta produção, que escrevo de forma direta sobre a conversa que tive com os quatro na última segunda-feira (18), na mesma mesa que décadas antes Agostinho Martha e Antonio Fonseca (Pai de Angela) se debruçavam e discutiam sobre seus resgates históricos.

Tudo acontecia ali, naquela cozinha aconchegante de vó que me lembra o interior, de colheres de madeira e panelas a perder de vista, de móveis antigos que testemunharam o passar da história naquele ambiente. Foi como se Agostinho e Antônio estivessem ali reunidos conosco, envolvidos por documentos e fotos, rindo, conversando e debatendo sobre o que conhecemos por história.

Ninguém em sã consciência pode alegar que por um simples acaso da vida, por uma mera coincidência um jornalista nascido e criado em Gravataí, um professor que se tornou colunista de história no jornal local e um casal com notoriedade na sociedade gravataiense e com raízes familiares diretas aos que contam a história, se encontrassem e resolvessem criar um livro.

E se reuniram na mesma casa, na cozinha e mesa que os guardiões da nossa história promoviam suas ideias. Amon, Leandro, Angela, Julinho foram escolhidos, unidos pelo destino, por uma força maior, pelo desejo de Agostinho e Antonio. E são eles que tem a missão de continuar a apresentar a nossa história. Serão eles lembrados, juntamente com os autores, pelas próximas gerações. Julinho, Angela, Amon e Leandro entram para a história, pela história. São os novos guardiões da nossa cultura, das nossas origens, de Nossa Terra, Nossa Gente.

Continua Depois da Publicidade
Continua Depois da Publicidade

Notícias Relacionadas

Polícia desarticula ponto de tráfico de drogas em Gravataí; um casal foi preso

Polícia desarticula ponto de tráfico de drogas em Gravataí;…

  Um casal foi preso em flagrante por tráfico de drogas na noite desta sexta-feira (26), em Gravataí. A prisão foi…
Policiais do RS passarão a utilizar câmeras corporais ainda neste ano

Policiais do RS passarão a utilizar câmeras corporais ainda…

  A Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul têm a expectativa de que as forças policiais comecem…
Hospital Dom João Becker revalida certificação de qualidade pela ONA

Hospital Dom João Becker revalida certificação de qualidade pela…

  O Dom João Becker obteve a revalidação de seu certificado pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), entidade que atesta a…