Integração e mudança de atuação; o novo perfil da BM no combate ao crime em Gravataí

Integração e mudança de atuação; o novo perfil da BM no combate ao crime em Gravataí
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Comandante revelou as mudanças no policiamento na cidade. Foto: Gabriel Siota Ganzer/Giro de Gravataí

Após meses com redução nos índices da criminalidade, uma sequência de quatro homicídios em poucos dias ligou um alerta em Gravataí. A maioria dos crimes têm características parecidas, como, por exemplo, as vítimas terem os pés e mãos amarrados. Por outro lado, os dados da Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul mostra a queda no número de assassinatos na cidade ao longo dos últimos anos na cidade.

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Entre 2020 e 2021, por exemplo, a redução ficou em 36%. Como consequência, Gravataí foi destaque no programa RS Seguro, do governo do Estado. Na última quinta-feira (17), o comandante do 17º Batalhão de Polícia Militar, responsável pelo policiamento ostensivo no município, tenente-coronel Daniel Araújo, e o delegado titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa, Daniel de Queiroz Cordeiro, foram chamados a apresentar ao governo gaúcho as boas práticas realizadas.

Para entender este contexto em que crimes contra a vida acontecem em sequência e indicadores apontam um crescimento da segurança na cidade, a reportagem do Giro de Gravataí conversou tenente-coronel Daniel Araújo. O comandante falou sobre os principais assuntos envolvendo a segurança pública e as ações da Brigada Militar em Gravataí, confira.

Foto: Brigada Militar/Divulgação

Giro de Gravataí: A sequência de homicídios recentes preocupa a Brigada Militar?

Ten. Cel. Daniel Araújo: Primeiro, a gente tem que contextualizar o tipo de delito com o que está vivendo a cidade de Gravataí hoje. Claro que ascendeu a luz vermelha, foram quatro homicídios em um intervalo de 14 dias. Isso é atípico para a cidade de Gravataí. Por isso dá uma sensação de que alguma coisa está acontecendo. Mas a realidade, dentro de um contexto, é que foram quatro homicídios de pessoas com antecedentes criminais. Este último encontrado na ERS-118, tinha saído agora do presídio, era envolvido com facções. São pessoas oriundas do mundo do crime. E nós sabemos qual é o fim que essas pessoas acabam tendo, seja pelo aspecto policial ou pelas relações deles.

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Giro de Gravataí: Então, a situação está sob controle?

Ten. Cel. Daniel Araújo: O que eu tenho para dizer para a cidade de Gravataí é que o município está tranquilo em relação a este tipo de delito. O que seria um delito que agravaria esta situação? se nós tivéssemos um latrocínio. Uma pessoa vindo do trabalho. O que aconteceu na LOG, onde sim, poderia ter acontecido um homicídio de um trabalhador. Isso para nós tem um peso diferente. Por quê? É melhor ou pior? Não, mas são pessoas que estão fora deste mundo do crime, onde o risco de acontecer algo que atente contra a vida deles deste modo é muito menor, e aconteceu. Então, as forças de segurança tem que tomar uma medida diferente.

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Em relação a essas mortes que tivemos agora. Temos que celebrar a relação entre a Brigada Militar e a Polícia Civil, não só aqui no município. Naquele primeiro homicídio, do Nissan Versa, já conversamos com o delegado Daniel, e já estipulamos diretrizes de trabalho para buscar informações, isso ajuda muito o trabalho. Somos mais fortes quando trabalhamos juntos para deixar a sociedade tranquila, que é o caso de Gravataí.

Giro de Gravataí: Os resultados deste trabalho em conjunto chamaram a atenção do governo do estado, correto?

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Ten. Cel. Daniel Araújo: Quando as cidades são destaques nos índices de criminalidade, que foi o nosso caso em Gravataí, temos uma reunião. Aconteceu no dia 17, onde nós falamos, tanto eu, quanto o delegado Daniel, quais foram as boas práticas adotadas pela Brigada Militar e Polícia Civil para que a gente conseguisse esses índices tão bons, principalmente nos crimes violentos letais intencionais, roubo a pedestre e roubo de veículos. Fomos chamados a explicar o que estamos fazendo e qual o trabalho que está sendo desenvolvido na cidade de Gravataí.

São quase 300 mil pessoas que residem em Gravataí, uma cidade que tem um comércio pulsante. Isso atrai o criminoso, temos estabelecimentos bancários, lotéricas, shoppings, comércio, empresas. Ou seja, para o delinquente, isso é um nicho fértil, mas não se cria aqui. Isso é fruto de um trabalho conjunto da Brigada Militar e da Polícia Civil.

Foto: Brigada Militar/Divulgação

Giro de Gravataí: E como a Brigada Militar tem atuado para alcançar estes índices?

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Ten. Cel. Daniel Araújo: No que tange a Brigada Militar, ao policiamento ostensivo, nós mudamos algumas coisas, tentando adequar para a realidade de Gravataí. Embora tivéssemos números ideais em relação às estatísticas e ao que o RS Seguro prevê, a gente conversava com os comerciantes ouvia “Aqui tá horrível”. Aí perguntava, “quantas vezes o senhor foi assaltado?”. “Não, nenhuma.”Quem foi assaltado?” “O lá da ponta, já faz tempo, mas a gente fica meio assim”. Não pode não ter problema e a pessoa se sentir mal. Então fomos ver o que estava acontecendo.

Uma das coisas que para mim foi crucial é justamente no que tange a estarmos presentes na nossa comunidade. Hoje o policial é muito mais um intermediador, uma pessoa para resolver conflitos, do que realmente um soldado para acabar com uma guerra, vencer um inimigo.

Para isso, o primeiro passo é conhecer o ambiente em que o policial está. Como vou resolver um problema entre udas pessoas se eu não conheço os costumes, não sei como vivem, que problemas têm? Conversei com meus oficiais, tudo que fazemos aqui é formado a várias mãos. Tenho policiais que estão aqui no 17 há 30 anos, conhecem a comunidade.

Tomamos medidas para sanar a necessidade que a população de Gravataí e Glorinha tinha em se sentir segura. Os dados estavam dentro de um padrão, mas precisávamos de algo mais.

Giro de Gravataí: Que medidas são essas?

Ten. Cel. Daniel Araújo: Primeira coisa, o coração da cidade é o centro. Aqui em Gravataí, diferente de outras cidades, aqui, nós temos três Centros. Temos a região central e temos também a Avenida dos Estados e a Alexandrino, que eu considero outros centros. São áreas comerciais fortes, com estabelecimentos bancários, movimentação de dinheiro, circulação de pessoas.

Como nos fazer presentes? Eu tenho que olhar lá, ver como as coisas funcionam. Peguei uma viatura e fui de Glorinha e fui até Cachoeirinha. De fato, a visibilidade da Brigada era quase nula. A gente não enxergava a Brigada. Mas o pessoal estava trabalhando, todos os dias eram muitas prisões. Ao mesmo tempo, eu tinha roubo a estabelecimentos comerciais, roubo a pedestres, roubo de veículos. Estava controlado. Notei que a gente precisava estar mais presente, ser referência para o cidadão. Então, tínhamos que marcar território e não recuar.

Primeiro fomos para a área central, onde tudo converge. A Praça do Quiosque é emblemática. Era um lixão. Fomos atender a uma ocorrência em que moradores de rua estavam brigando na frente do Hospital. Isso não pode acontecer. Na Praça da Bíblia, no lugar mais central, as pessoas não podem se sentir inseguras para pegar um ônibus e voltar do trabalho. As pessoas têm que saber, se acontecer alguma coisa, para quem recorrer e onde está essa pessoa.

O pensamento do vagabundo também é assim. Ele sabe que ali fica ruim porque ali tem um policial.

Foto: Brigada Militar/Divulgação

Giro de Gravataí: E como foi feito este trabalho?

Ten. Cel. Daniel Araújo: Elencamos alguns pontos. Começamos com a área central. Uma das coisas que nos ajudou bastante foi que conversei com todos os soldados. Fui aos locais onde eles ficavam. Tive alguns relatos. “Bá comandante, achei que não fosse resolver, mas são inúmeras as pessoas que chegam aqui, nos agradecem por estarmos aqui”.

Dentro do possível, mantemos os mesmos policiais, para as pessoas criarem vínculos. No simples fato de conhecer o cara do bar da esquina, só no olhar, na maneira de cumprimentar, o policial já sabe que tem alguma coisa estranha no local.

Vocês não imaginam como conhecer a realidade facilita na troca entre a comunidade e o policial.

Giro de Gravataí: E vocês sentiram este retorno da comunidade?

Ten. Cel. Daniel Araújo: A resposta que tivemos de que foi realmente importante ter feito este trabalho, nos últimos quatro meses foram zerados os roubos a pedestres no Centro. Não colocamos policiamento a mais. Claro, fizemos outras coisas. Antes não tinha a ronda ostensiva com o apoio de motocicletas, hoje temos dez motos. Fizemos treinamentos, cursos. A mobilidade que tem uma motocicleta é maior que com uma viatura. Com motos, fazemos Glorinha, Centro, Avenida dos Estados e Alexandrino. Elas fazem um serviço de saturação, depois se dividem.

Também colocamos o policiamento de bicicleta. O ideal seria ter policiais a pé em todos os pontos. Não tenho isso. Mas com a bicicleta, eles conseguem fazer uma grande abrangência, área central, shopping, Parque dos Anjos. A mesma coisa na área da 2ª Cia. Consigo ter uma abrangência melhor. Até para a resposta. Na Dorival, por exemplo, ele não tem muito o que fazer, se estiver indo no sentido Cachoeirinha, até fazer o retorno, vai ser difícil. Já de bicicleta, ele consegue dar essa resposta.

Foto: Giro de Gravataí/Especial

Giro de Gravataí: Mas Gravataí tem uma área muito extensa. E como fazer este trabalho nos bairros mais distantes?

Ten. Cel. Daniel Araújo: Como a gente conseguiu esta resposta, além dos dados, a reposta que eu tenho é a Praça do Quiosque. Mudou o ambiente, é outra praça, não tivemos mais ocorrências. Demonstrou que a presença policial traz desenvolvimento para a sociedade.

Eu conseguindo fazer essa aproximação, eu trago a tranquilidade que a polícia está aqui. Tenho ainda a Rocam e a Força Tática. É uma tropa com maior emprego de força, de armamento diferenciado, que vai dar uma resposta em força maior que a viatura do patrulhamento normal.

Eu não preciso esperar o telefone do 190 tocar e a ocorrência acontecer. Temos que fazer a prevenção. O trabalho repressivo é feito pela força tática. Numa viatura com mais homens, no mínimo três a quatro policiais, com armamentos e também equipamento menos letal. Eles têm treinamento para atuar como choque rápido. Eles estão na área de maior conflito. Vão fazer abordagens.

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