• Luto
  • 12 de abril de 2023

Homenagem | Lisandro Paim, o Príncipe Herdeiro

Homenagem | Lisandro Paim, o Príncipe Herdeiro
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O doce gigante, um jovem griô combativo e gentil

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Numa Semana Santa, pouco antes do Dia do Jornalista, o movimento negro perdeu uma de suas maiores referências e lideranças do Sul do país. Lisandro Laércio Rangel Paim, o guardião da negritude gravataiense, “tombou em sono profundo”, como definiu sua companheira de vida, Cristiane Gomes. Lisandro, que nos deixou de forma inesperada e precoce com apenas 42 anos, entra para a história do município.

Os Paim – O Reino

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Uma espécie de líder revolucionário, assim como o aguerrido escravo Nazário do século XXI, um bastião do clã dos Paim, talvez a mais tradicional família negra da Aldeia dos Anjos. Essa foi a definição do escritor e professor de História Amon da Costa.

Aliás, o professor e eu nos reunimos, de forma informal e virtual, para tentar definir a importância do legado, a relevância e o impacto cultural que essa morte causa para a cidade e, assim, traçar, ou melhor, tentarmos decifrar o seu natural espírito de liderança, a doçura, a inteligência, a sagacidade, a cordialidade e gentileza daquele que foi o doce gigante Lisandro Paim.

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Lisandro, o Príncipe Herdeiro

Do alto dos seus aproximados 1,90m, há quem ficasse receoso numa aproximação imediata, sem conhecê-lo. Bem, mal sabiam eles que não era tarefa difícil tirar um sorriso largo, acolhedor e fraterno daquele homem negro retinto, gentil, simpático e lindo. Solícito, jamais se omitiu na ajuda das causas coletivas. E como espécie de jovem griô esteve à frente de várias lutas, sempre com o dom da palavra acolhedora e em tom apaziguador. Ao invés de promover o embate, propunha sempre a união.

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Para o professor Amon, “assim como o Pantera Negra, o jornalista negro representava uma voz poderosa na luta contra a injustiça e a desigualdade. Ele dedicou sua vida para informar e educar as pessoas sobre questões raciais e sociais, e a sua morte é uma perda imensurável para a comunidade.”

Lisandro era filho do Dr. Sandro Paim, o primeiro dentista negro da cidade, e da professora Sônia Paim (in memoriam), que foi a primeira mulher a ser secretária da Educação do município. Tendo como base de estrutura familiar seus pais, Lisandro viu desde tenra idade que a palavra luto sempre fora um verbo e, cedo, encontrou nas adversidades uma forma de fazer das suas lutas algo transformador.

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Herdeiro, bastião da família, deixa um filho, Otávio Obayomi Paim, que tem motivos de sobra pra se orgulhar da herança e do legado deixados por seu pai, nesta breve e marcante passagem pela vida.

O jovem griô com o dom da palavra – O jornalista

A juventude é uma vantagem nessa posição, pois traz novas ideias e perspectivas para a luta contra o racismo. É importante ter uma liderança que possa se relacionar com a geração mais jovem e compreender suas preocupações e necessidades. Além disso, ser um jornalista habilidoso é fundamental para comunicar as questões raciais para um público mais amplo. A capacidade de escrever e reportar sobre assuntos de forma clara e persuasiva é essencial para trazer à tona as injustiças e sensibilizar a sociedade para a necessidade de mudanças. E para tudo isso, Lisandro Paim tinha vocação.

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O legado

Sua vida e ideais também servem de exemplo e inspiração para jovens negros que desejam se envolver na luta pela igualdade social. A presença de uma liderança jovem, negra e com talento para escrever incentiva e empodera a próxima geração a combater a discriminação racial.

Para Glau Barros, cantora, atriz, servidora pública e diretora cultural do Clube Social Negro Seis de Maio, “Lisandro teve uma atuação de liderança em todas as atividades nas quais estava envolvido, principalmente nas questões negras, não só na cidade, como em âmbito estadual. Ativista de nossas pautas, foi um líder, mantendo vivo o Clube Social Negro Seis de Maio.”

Assim como grandes líderes negros mundiais, como Malcom X ou Martin Luther King, Lisandro sempre fez de sua resiliência uma virtude. Mesmo com sua imponência física sempre usou a diplomacia e a palavra como suas grandes ferramentas conciliadoras. De fala baixa, sempre fora cordial e muito educado, além de disposto a ser um bom ouvinte. Bravo e aguerrido, Lisandro viu sua estada nesta vida não ter sido uma luta em vão.

Ele foi uma das personalidades mais importantes e emblemáticas na manutenção das causas negras da cidade e do sul do país ou em que pese no trato com outros clubes negros da capital e da Grande Porto Alegre, responsável direto pela aproximação e conexão das diferentes gerações em uníssono no combate ao racismo e na promoção da cultura negra.

Lisandro Paim, eternamente presente.

Lisandro Paim, presente, Lisandro Paim para todo o sempre, presente!

Missa de Sétimo Dia

Lisandro Paim faleceu no dia 5 de abril. A missa de Sétimo Dia acontece nesta quarta-feira (12/4), às 19h, na Paróquia Nossa Senhora dos Anjos, no Centro de Gravataí.

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