- Esporte
- 7 de junho de 2020
Gravataiense entra para história do esporte brasileiro com façanha na neve
“O trio subia pela encosta do vale Eyjafjarðarleið com dificuldade, quando uma tempestade assolou a expedição. O dia virou noite. Ventos de 70km/h cobriram a visibilidade. O GPS indicava o caminho seguro. Os trenós pesados dificultavam a progressão. O implacável inverno islandês mostrava sua força e trazia à tona a inevitável pergunta – o que estou fazendo aqui?”
A citação é parte da abertura do relato de André Arand. Engenheiro, ele nasceu e cresceu em Gravataí. Hoje, por questões de trabalho, mora em Sorocaba, no interior de São Paulo; e por uma paixão por superar limites, se tornou o primeiro brasileiro a fazer a travessia invernal, na Islândia. A jornada aconteceu em janeiro, época em que o país apresenta apenas cinco horas de sol por dia e a temperatura varia entre 10 e -30°, com ventos que superam 150km/h.
Praticante de montanhismo, André já havia vivido outras aventuras no gelo, participando de uma prova na Finlândia e outra no Alasca. Quando decidiu encarar o desafio de atravessar a Islândia no inverno, convidou seu amigo Tomaz Paniz, com quem encara jornadas já 20 anos, e recebeu um sim como resposta. O plano era percorrer 300km entre o norte e o sul da Islândia em 12 dias, em janeiro de 2020. Para isto, a equipe ganhou um novo integrante, André Ely.
O desafio teve início no dia 6 de janeiro, em Akureyri, começando em uma estrada de asfalto o que dificultava para carregar os trenós que acabaram quebrando e atrasando a equipe logo no início. A caminhada só reiniciou após comprarem dois trenós de um aventureiro canadense e improvisarem um terceiro com uma prancha de snowboard
O atleta de Gravataí lembra os perigos enfrentados. “A gente enfrentou ventos de até 150 km/h o que foi o mais perigoso da travessia. Quebraram os trenós no final do primeiro dia e tivemos que improvisar e conseguir novos. Também travessias de rios parcialmente abertos e perigo de quedas e avalanches nos fechos mais íngremes. Tivemos que racionar um pouco a comida e dormir muito pouco durante vários dias para avançar e buscar abrigo e assim escapar das tempestades”, relatou, confirmando que este foi o desafio mais difícil que já enfrentou.
Nas últimas 24 horas, o grupo precisou percorrer 80km. Para conseguir concluir a expedição eles abandonaram os trenós e os equipamentos mais pesados. No dia 18 de janeiro, às 20 horas, sob uma chuva fina que disputava espaço com a neve, os três brasileiros chegaram a cidade de Hella e entraram para a história do esporte como a primeira equipe do pais a concluir a travessia invernal da Islândia.
André conta que chegou a pensar que não conseguiria. “Em vários momentos. Quando quebraram os trenós, quando pegamos uma tempestade e tive muito gelo no rosto e tivemos hipotermia. E também por conta das tempestades que estavam na previsão e faltava uma distância quase impossível de ser percorrida para alcançar o abrigo”.
Mas o gravataiense gosta de superar desafios. Em 2019, estava inscrito para as 100 milhas (160 km) da Ultrafiord, que é a prova mais fria de corrida de montanha na América do Sul. Por conta do tempo ruim, o trajeto foi reduzido para 35km. No entanto, ele não queria fazer menos do que o proposto. “Como eu já tinha corrido por lá em 2016 e conhecia um pouco o terreno, resolvi fazer ela por conta”, revelou.