- Coronavírus
- 24 de junho de 2020
Filha de caseiro do Cerâmica ficou sabendo que seu pai faleceu com covid-19 pelo motorista da funerária
Adrielle, filha do caseiro do Cerâmica, Luiz Gustavo Herreira Morel, de 49 anos, que faleceu na tarde de segunda-feira (22) por conta da covid-19, só ficou sabendo que o pai havia contraído a doença no fim da tarde do dia 23. Ela recebeu a informação pelo motorista da funerária que buscou o corpo do “Uruguaiana”, como era conhecido pelos amigos e pessoas com quem trabalhou.
Ainda na manhã de terça (23), a Prefeitura de Gravataí divulgou que a cidade registrava a oitava morte por coronavírus. Após a publicação, o Giro de Gravataí e outros veículos de notícias da cidade noticiaram a situação e o telefone de Adrielle não parou de tocar. Conhecidos começaram a associar Uruguaiana com o paciente relatado. Com o atestado de óbito em mãos, emitido antes do resultado do exame, para possibilitar o encaminhamento das questões funerárias, ela acreditou que não tratava-se do seu pai.
Sem saber que também poderia estar com o coronavírus, por conta da convivência com o pai, Adrielle passou o dia resolvendo questões burocráticas, andando pelo centro de Gravataí. Ela ainda pediu ajuda de amigos para levantar fundos que a possibilitassem ir para Uruguaiana, onde o pai seria velado.
Com os inúmeros questionamentos sobre a causa da morte do pai, Adrielle buscou confirmações no Hospital Dom João Becker, e, diversas vezes, recebeu a resposta que a instituição não poderia lhe passar informações. “A gente praticamente fez plantão no hospital, pedindo informações e eles não nos deram”, relatou.
Resposta definitiva veio apenas no final da tarde
A jovem só obteve uma resposta definitiva após às 18h, pelo motorista da funerária. Ela ainda lembra o que o trabalhador disse. “O teu pai estava dentro de um saco, em um container”, revelou. Segundo Adrielle, o profissional ainda disse que por protocolo, não haveria velório.
Nervosa, a moça novamente questionou funcionários do Dom João Becker até que finalmente recebeu a confirmação e teve acesso ao exame do pai. O laudo, emitido às 18h08 mostra que o resultado foi liberado às 9h55.
Adrielle informa que conversou com um homem, que seria da administração do Hospital Dom João Becker, mas de quem ela não recorda o nome. Segundo ela, o profissional reconheceu que houve um erro na comunicação, que ela deveria ter sido informada antes e recomendou o resguardo “Ele me disse que até aquele momento, se eu estivesse infectada, eu não poderia ser responsabilizada, mas que agora era para ficar no isolamento. Depois, a Vigilância Sanitária também entrou em contato comigo, orientando a quarentena”, contou.
Contraponto
Questionada pela reportagem sobre a demora para em informar à filha que o paciente tinha sido confirmado com coronavírus, a assessoria de imprensa do Hospital Dom João Becker respondeu por meio de nota. No texto, a instituição afirma ter seguido o padrão para este tipo de caso e que a notificação deve ser feita pela Vigilância Sanitária.
“A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, mantenedora e administradora do Hospital Dom João Becker, ciente da repercussão do falecimento de L. G. H. M., informa que cumpriu todos os procedimentos padrão para este tipo de ocorrência. No tocante à notificação do óbito por Coronavírus, cabe à prefeitura municipal, por meio da Vigilância Sanitária, entrar em contato com a família para questões de protocolo técnico. A Santa Casa segue sua política de não tornar público informações pessoais de seus pacientes”.
Nossa equipe entrou em contato com a coordenação da Vigilância Sanitária do município, que informou que só poderia responder aos nossos questionamentos com autorização da Secretaria de Comunicação. Até o fechamento desta matéria, os esclarecimentos não haviam sido autorizados.