- Especial
- 23 de março de 2021
Falta constante de energia elétrica altera a rotina de famílias e produtores da área rural de Gravataí
Quando o tempo se arma para chuva, uma certeza paira na comunidade de produtores rurais na localidade de Vira Machado, próximo à Morungava: vai faltar luz!. Problema que mudou há anos a rotina das famílias da região, mas que ainda causa transtornos e ameaça a fonte de renda de muitas.
Isso porque, segundo o relato de moradores, não precisa o tempo estar para chuva ou a espera de um temporal para que as quedas aconteçam. Mesmo com dias ensolarados e sem ventos, o problema persiste.
Aos 61 anos, o produtor rural Ildo Lodi Ressini tem dividido suas tarefas entre cuidar da propriedade da família, na comunidade, e se pendurar ao telefone cobrando explicações da RGE. Ildo mostra as anotações de dias entre os meses de dezembro e janeiro que ficou sem luz na propriedade, destacando o dia 18 de janeiro, quando uma queda de luz deixou a família por 43 horas sem energia.
“É uma situação que cansa. Nós já fizemos de tudo, já ligamos, enviamos e-mail, mas a equipe que mandam é minúscula. Eles vem aqui, avaliam as condições e dizem que vão retornar, e fica sempre desse jeito. O que parece é que eles não têm interesse de resolver nossa situação, estamos esquecidos por sermos da área rural, afastados da região central”, reclamou Ildo.
Ingresso na justiça
Se não bastasse o problema, uma das interrupções afetou um evento que era organizado pela família, em comemoração ao aniversário da companheira de Ildo. Por conta da queda de luz, bebidas e alimentos que haviam sido comprados ficaram sem refrigeração. A situação foi o estopim para a família entrar com uma ação na Justiça contra a companhia de energia.
Gasto em dobro
Sem poder contar com o serviço contínuo de energia, muitos dos produtores investiram na compra de geradores, que custam em média R$ 15 mil reais. A medida foi a única solução para aqueles que têm produção leiteira, como no caso do gravataiense Luis Batista Gomes, de 49 anos, também morador da Vira Machado.
Segundo ele, são produzidos na propriedade quase 500 litros por dia, tirados pela parte da manhã e noite de mais de 35 vacas leiteiras da propriedade. Ainda segundo Batista, o gerador foi a solução encontrada, mas não garantida, para que o leite não seja desperdiçado.
“Esse último mês (fevereiro) foi uma loucura de tanto que faltou luz. O problema é ligar pra lá, porque quando tu liga é porque já voltou a energia, então não tem muito o que fazer. Aqui, eu precisei comprar o gerador pra funcionar as ordenhadeiras (sistema de tiragem de leite) se não não tem jeito. O problema é ainda maior pela armazenagem né, o leite precisa ficar resfriado aqui. E não teve jeito, o leite a gente precisa tirar da vaca, todos os dias, e corre o risco de perdermos. E eu te falo isso só do leite, olha o restante de coisas que temos que fazer que dependemos da energia”, disse o agricultou em sua propriedade.
Ameaça à produção
Há cerca de um quilômetro, a família de Gionei Meny Diogo, de 57 anos tem a produção de leite ameaçada e diz já ter sido notificada para que possam fornecer uma rede elétrica adequada à conservação do leite, vendido para a Piá, sob o risco de rompimento de contrato. O produtor, que tira diariamente a média de 400 litros de leite, precisou aderir ao gerador, que na propriedade funciona com a ajuda do trator, tendo o diesel como gasto para manter o sistema de ordenha funcionando.
“O gerador é mais para lidar ali com as vacas mesmo. Mas é necessário, a gente precisa tirar o leite, continuar a produção. É triste ficar nessa situação, já que não tem dia nem horário pra dar queda de luz. Fora o que já queimou dentro de casa”, disse o produtor.
A reportagem do Giro de Gravataí entrou em contato por e-mail com a RGE, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno.