- Especial
- 21 de julho de 2021
‘’Eu sei que ele foi morto’’; moradora de Gravataí vive drama com informações do local que pode estar enterrado o filho
Como um rito, quase que diariamente a dona de casa Solange Terezinha Steinert, de 51 anos, moradora do bairro Dona Mercedes, disca o número da Delegacia de Homicídios de Gravataí na esperança de ter informações sobre seu filho, Marco Aurelio Steinert, de 35 anos, desaparecido desde abril. Quando está voltando para casa, também aproveita para passar na delegacia – que fica a um quilômetro de sua residência.
Solange é mãe de outros três rapazes, e segundo ela, sempre viveu preocupada. Dos quatro, apenas Marco, mais velho, é filho de outro pai, que perdeu aos três anos de idade, quando ele foi encontrado morto por overdose de drogas em uma das ruas de Uruguaiana.
De lá pra cá, Marco viveu a vida com a mãe e seus avós maternos, até que aos 15 anos, passou a fazer o uso de maconha. Cedo, começou a trabalhar, e passava a consumir suas economias com drogas. Com isso, a família tomou uma medida drástica; mandá-lo de volta à cidade natal, como relembra a mãe. ‘’Eu morava em Sapucaia com a minha mãe na época, e ele começou a aprontar aqui, então mandamos ele de volta pra Uruguaiana, mas lá em pouco tempo também foi se incomodando, então depois disso voltou e foi mais uma duas vezes’’, relembra.
Vivência na cidade
Namorador, Marco teve inúmeros relacionamentos. Em alguns casos, quando levava o namoro a sério, logo passava a morar com a companheira. Chegou a ter um bom emprego em Uruguaiana quando virou vendedor de operadora de celular. No entanto, com altos e baixos na vida, passou a um consumo excessivo de drogas, até chegar ao crack.
Sem emprego, e com pouco estudo, Marco voltou para Gravataí e passou a fazer bico, principalmente em lavagens de carro. A essa altura, o vício passara a ser incontrolável, e mesmo de volta, o convívio com a mãe não era o mesmo. ‘’Ele tinha consciência que era usuário, tanto que começou a vender as próprias coisas, e em uma das vezes ele mesmo decidiu se internar.
Quando passou por esses abrigos ficou muito bem, inclusive em um deles foi convidado a trabalhar de forma voluntária. Ele também, nesse meio tempo, arranjou uma nova namorada, que era de Uruguaiana, então foram morar juntos. Só que ela acabou voltando e foi ai que ele se afundou de vez’’, lembra Solange.
Sempre em contato
De volta ao bairro, Marco passou a vagar pelas ruas. Por último, conseguiu alugar uma peça no mesmo bairro que a mãe e conseguiu um emprego como vendedor de flores e balas nas sinaleira. Mesmo em meio a rotina de vício, Marco buscava passar pela residência da mãe, muitas das vezes para um lanche. ‘Ele já passou aqui até pra tomar chimarrão. Ele não tinha celular na época, mas sempre ia até a lavagem e ligava de lá me avisando que estava bem. Mesmo na praia, quando foi no verão vender lá, arranjava um jeito de me ligar’’, conta Solange.
Além da rotina de falar com a mãe, uma outra não falhava; o saque do auxílio que recebia do governo. Todos os meses ia receber na agência do bairro, até que nos últimos meses não havia comparecido. ‘’Logo que ele desapareceu eu fiquei preocupada, pensei o que poderia ter acontecido, mas ainda tinha esperanças. Então sabia que ele ia receber o auxílio. Eu fiquei desde cedo até meio dia na agência, mas ele não apareceu. Na outra semana eu consegui confirmar que ele não havia retirado nem o do mês passado”.
‘’Meu filho tá morto, eu só quero enterrar ele’’
Após o desaparecido, registrado por Solange, ela viu as possibilidades do filho vivo quase escassas, quando soube por uma vizinha que ele havia ido até sua casa e pedido dinheiro emprestado. ‘Ele comentou que havia ficado devendo R$ 600 reais em drogas, e que precisava muito conseguir esse valor. Foi a última vez que tivemos notícias.
‘Depois recebi algumas informações que tinham matado ele em um bairro aqui da cidade por essa dívida e que o corpo tinha sido enterrado. Eu sei que meu filho tá morto, eu já chorei de mais, minha mãe, a vó dele, também. Então eu só quero o direito que eu tenho, de poder achar o corpo do meu filho e dar pra ele um enterro decente.
Mesmo que ele tivesse esse problema, ele sempre foi um filho bom. Nunca machucou ninguém, e todos gostavam dele. Ele nunca foi um criminoso, nunca foi uma pessoa ruim. Eu espero que a justiça seja feita, que quem matou meu filho possa pagar por esse crime’’, enfatizou.
Buscas
Logo nos primeiros meses do desaparecimento de Marco, ocorrido no mês de abril. a Delegacia de Homicídios de Gravataí realizou duas buscas no local indicado através de testemunhas. Cães do Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros participaram das ações, mas nenhum indício de corpo foi encontrado.
Mesmo assim, Solange não perde as esperanças. ”Eu tenho a certeza que meu filho está enterrado naquela área. Eu só quero que ele descanse em paz, com um enterro digno’’frisou Solange.
Informações anônimas
Solange acredita que alguém possa dar uma informação para que o corpo do filho possa ser encontrado. A Delegacia de Homicídios recebe denúncias anônimas pelo telefone 0800 642 0121. A Polícia Civil reforça que o denunciante não precisa se identificar para repassar informações.