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  • 21 de abril de 2021

Dona Márcia enfrentou a covid-19, ficou três meses na UTI e hoje está em casa, com a família em Gravataí

Dona Márcia enfrentou a covid-19, ficou três meses na UTI e hoje está em casa, com a família em Gravataí
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Em meio ao cenário da UTI que atende pacientes com covid-19, no Hospital Dom João Becker. Quem vê enfermeiros, técnicos, médicos e outros profissionais da saúde lutando para salvar vidas, pode não reparar no mural com informações. Talvez nem o observador mais atento perceba o bilhete rosa, ali fixado, que conta a história de uma das mais longas e vitoriosas lutas contra o coronavírus.

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Começando com um carinhoso “Oiee”, seguido por coraçõezinhos, as 35 linhas demonstram o amor de uma filha por sua mãe e o agradecimento a todos aqueles trabalhadores que, naquele momento, lutavam devolver Márcia Cristina Tenedini, de 54 anos, aos braços de seu esposo, Sérgio, e seus filhos, Filipe e Letícia. A batalha durou três meses. No bilhete, Letícia dizia acreditar que a mãe iria se recuperar, “ela tem muita vontade de viver”, escreveu.

A filha estava certa e hoje a família ajuda Márcia a se recuperar dos problemas deixados pela doença e também pelo tempo em que ficou internada.

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O diagnóstico inesperado

Uma noite, às vésperas das eleições municipais de 2020, Márcia começou a tossir muito. Era o primeiro capítulo de sua saga contra o coronavírus. Naquela madrugada de quarta para quinta-feira, os primeiro sintomas da doença começavam a se manifestar.

“Para nós é um mistério como ela se contaminou. Meus pais têm um comércio, desde 1998, na parada 66. É um mini-mercado. Ela estava se reservando mais, ficando em casa, mesmo. Meu pai estava mais exposto, que fica na linha de frente do mercado, mas em momento nenhum ele teve sintomas nem foi contaminado, sendo que ficou cuidando dela”, contou Letícia Tenedini.

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Nos dias que seguiram, o estado de saúde da comerciante piorou, mas ela pensou que fosse uma gripe. Até que no sábado foi consultar em uma clínica de seu convênio, onde agendaram para o início da semana seguinte o teste para detectar a covid-19, que seria confirmada.

A semana seguinte foi enfrentando dores no corpo, falta de apetite e tosse. Também naqueles dias, Letícia descobriu ter passado por um aborto espontâneo, que interrompeu uma gestação ainda em estágios iniciais. No final da semana, Márcia piorou na noite de sábado. “Fiquei triste com a perda do bebê, mas muito mais preocupada com a minha mãe”, lembrou Letícia.

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Naquela noite, uma equipe do Samu foi chamada para atender Márcia, que estava com a oxigenação extremamente baixa e tendo delírios. A ambulância levou a empresária ao Hospital de Campanha, de onde foi transferida para a UTI do Hospital Dom João Becker no dia seguinte. “Ela passou o tempo todo no Samu dizendo que não queria ir para o hospital, que não queria ser intubada”, contou a filha.

A espera diária por uma ligação

Por conta da alta demanda por atendimento, a equipe do Becker só mantinha contato com os familiares uma vez por dia. O que aumentava a ansiedade, já que os pacientes não podem receber visitas nas áreas de atendimento à covid-19. No primeiro contato, o médico pediu autorização para realizar a intubação.

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“Aí começou a batalha. Nesses longos dias, ela ficou intubada. Nós somos muito ligadas uma a outra. Lógico que tem também o meu irmão. Mas deixei o meu contato. Meu pai ficava muito tenso, eles são casados há quase 35 anos”. Letícia lembra que durante os quase 100 dias em que a mãe esteve internada, umas dez vezes, não recebeu a ligação esperada. “Mas eu ligava direto para a UTI. O pessoal até já conhecia ‘é a filha da Márcia’. Tinha dias que eram de intercorrências que a gente não conseguia falar com o médico. Nossa, era para derrubar, por mim, eu queria informação de hora em hora.”

Por rotina, o contato era feito no início da noite, mas houve momentos em que as ligações aconteceram durante a tarde, o que assustava a família. “Quando tocava o telefone e era um número desconhecido, meu coração ia na boca. Só de lembrar chega a dar um calafrio. Eles sempre nos deixaram ciente do risco que ela corria. Assim como tinha chances de se recuperar, tinha chances de ir a óbito.”

Todos os protocolos foram utilizados

Enquanto à família só restava torcer e esperar, na UTI do Hospital Dom João Becker, o trabalho era incessante. Ao longo do período da internação, foram necessários diversos tipo de tratamentos.  “A dona Márcia precisou passar por todos os procedimentos indicados”, comentou a supervisora de Enfermagem da UTI Covid do Hospital Dom João Becker, Graciela Wendt.

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Após um mês intubada, Márcia precisou de duas traqueostomias, a primeira de plástico, a segunda de metal. Diabética, hipertensa e com alergia à dipirona, a paciente precisou de inúmeros medicamentos, usando entre 12 e 15 antibióticos. Também precisou de dezenas de sessões de hemodiálise.

“Quando a pessoa está na UTI, a transferência para outro setor, para realizar algum procedimento, pode ser muito perigosa. Então, no Becker, nós temos a hemodiálise beira-leito. A traqueostomia também foi feita assim. A Márcia não precisou sair da UTI, foi montada toda a estrutura para que os procedimentos fossem realizados sem que ela fosse retirada do leito”, revelou Graciela.

A supervisora de Enfermagem lembra que em diversos momentos, a equipe quase perdeu a paciente. Mesmo diante das dificuldades do quadro, a equipe da UTI se manteve incessante na busca pela recuperação da comerciante. “É importante destacar isso. Já li pessoas dizendo que priorizamos apenas pacientes jovens ou com um quadro mais leve. Não é verdade. A dona Márcia é um exemplo, lutamos muito por ela e por todos os pacientes”, explicou a enfermeira.

Amigos, fé e oração

Outro fator destacado por Graciela à reportagem do Giro de Gravataí sobre o caso de Márcia foi a fé da família. “Eles sempre mantiveram a fé e a esperança”, relembra. Já Letícia, agradece, e revela que os amigos, vizinhos e conhecidos também se engajaram em pedidos pela recuperação de sua mãe.

“Tivemos correntes de oração muito fortes. De todas as religiões que se possa imaginar. Gente torcendo por ela em São Paulo, no Rio de Janeiro. Muitos vizinhos nossos, clientes, amigos”, contou, lembrando que também se ajoelhava e orava pela mãe todos os dias. “Só o que eu queria para 2021 era a vida dela. Era ela. Foi o primeiro Natal, o primeiro Ano Novo que passamos longe dela”.

Os pedidos foram atendidos, na quarta-feira de cinzas, Márcia Tenedini deixou a UTI e foi transferida para o quarto. O susto aconteceu quando soube o tempo que ficou internada. “Minha filha perguntou: ‘tu sabe em que mês nós estamos?’ Eu fui para o hospital em novembro. Já era fevereiro”, narrou a comerciante.

Os pedidos pela saúde de Dona Márcia foram atendidos.

Alta planejada e tratamento em casa

Com a perspectiva do retorno de Márcia para casa, o hospital deu início ao processo de alta planejada. “Envolvemos toda uma equipe multidisciplinar, com fisioterapeuta, psicólogo, assistente social. Tudo para ajudar ela nesta alta, avaliar as condições, auxiliar a família também”, explicou a supervisora de Enfermagem, Graciela Wendt.

Na noite do dia 23 de fevereiro, Dona Márcia entrou na ambulância que a levou para casa. Ainda muito frágil, por conta da doença e também pelo período em que esteve inconsciente. Ela perdeu massa muscular, desenvolveu uma lesão na região do glúteo, no tempo em que ficou deitada. Quando chegou, ainda precisava usar uma sonda para se alimentar. Mas com a ajuda da família e o trabalho de profissionais da saúde, vem se recuperando a cada dia.

“Ela já não usa mais a sonda para a alimentação. Está comendo comida mais pastosa, mas já come até uns pedacinhos de carne”, comemorou Letícia. Como a mãe ainda tem pouca mobilidade, a filha segue ajudando em tudo. “É difícil ver ela passar por esta situação. Ela está muito lúcida, é jovem, e precisa de ajuda para tudo. Mas eu sei que é uma fase, que logo ela estará bem”, projetou.

Ao hospital, Márcia e Letícia são uníssonas no agradecimento. “A equipe da UTI foi genial. Preciso que tu coloque aí o meu agradecimento a eles”, pediu a ex-paciente da UTI.

Dona Márcia contrariou todos os prognósticos, exceto um, aquele da Letícia, sobre a certeza que a mãe se recuperaria, pelo trabalho dos profissionais e pela sua “vontade de viver”.

Márcia se recupera em casa, com a ajuda do marido e dos filhos.
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