Denúncia de racismo gera revolta em escola de Gravataí

Denúncia de racismo gera revolta em escola de Gravataí
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Uma acusação de racismo no CIEP Morada do Vale, em Gravataí, gerou revolta na comunidade do bairro. Uma aluna informou à direção e aos colegas que uma outra estudante estava fazendo piadas e comentários. A denúncia resultou em um protesto e no cancelamento das aulas da última quarta-feira (15).

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“Terça-feira (14) eu fiquei sabendo que a menina da minha sala sempre falava do meu cabelo. Que era sujo e coisas racistas, várias pessoas já me alertaram e não era a primeira vez que ela fazia isso”, comenta uma das estudantes que está buscando respostas para o ocorrido. Ela diz que quando confrontou a colega que a estava ofendendo, ouviu apenas negações do ato.

A mesma estudante que havia informado à vítima sobre os comentários racistas, contou aos colegas que outro menino havia também sido alvo de falas discriminatórias. “Fomos toda a turma para a frente da direção querendo respostas pois ninguém estava nos ouvindo”, comenta a vítima sobre a mobilização realizada pelos colegas.

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A mãe desse menino relata que ele recebeu a informação dos atos racistas durante a discussão entre a acusada e acusadora. Ele teria ido à direção para contar o que ouviu, mas segundo a mãe, elas não tomaram nenhuma iniciativa no momento. “O que mais me assustou nessa história foi a falta de posicionamento da escola”, conta.

De acordo com a mãe da vítima, apenas as mães das duas envolvidas nessa discussão teriam sido comunicadas pela escola. “Eu só fiquei sabendo quando cheguei em casa, depois do expediente, porque meu filho ficou com medo de me preocupar no meu trabalho”. No dia seguinte ela foi chamada à escola para conversar sobre o assunto.

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Ela ainda comenta que a reunião com a escola seguiu um tom em que parecia mais preocupada em defender a acusada do que dar satisfação às vítimas. “Pedi horário para atendimento na escola após saber que a situação foi encarada apenas como uma brincadeira de adolescentes pela diretoria”, aponta.

Saindo desta reunião, a mãe entrou em contato com a Coordenadoria de Educação e lá ficou sabendo que a escola não havia ainda notificado nenhuma autoridade sobre o acontecimento. “Para mim, ficou parecendo que tentaram abafar o caso, mas perderam o controle”, reflete. Ela lembra que foi através dela que a Coordenadoria ficou sabendo da história na íntegra, porque até então, nos contatos com a escola, foram apenas informações dispersas que impediam criar uma linha de raciocínio.

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Ela completa dizendo que amanhã (21) terá uma nova reunião com a diretoria da escola e espera já ter alguma resolução do caso. “Hoje nem deixei meu filho ir à escola por medo de como poderia ser a reação dos colegas”. A mãe do menino registrou um policial na 1ª DP de Gravataí, está com horário marcado com um advogado e busca contato com o Conselho Tutelar para saber de que forma proceder nesta situação.

Neste sentido, o líder comunitário e integrante do movimento negro do PSB Iberê Freitas pede que os responsáveis pela jovem respondam pelo que aconteceu. “Não estou dizendo que eles são racistas, mas ainda assim, eles precisam responder, porque ninguém nasce racista”

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Resposta da direção

À reportagem do Giro de Gravataí, a diretora Carmem Hermann contou a aluna denunciada por racismo foi a primeira a procurar a direção, dizendo estar sendo acusada de atos que não havia cometido.

A diretora chamou também a jovem que havia denunciado os atos racistas aos colegas. Em conversa da coordenação com as duas, segundo Carmem, ficou acordado que as mães das duas seriam chamadas para resolver o problema e que a acusada ficaria na sala da diretoria até o fim do dia.

Durante o recreio, relata a diretora, os ânimos se alteraram e a situação tomou proporções que não deveriam. A jovem que acusou a colega, começou a mobilizar os outros estudantes para que fossem à sala da diretoria cobrar satisfações. “Ela disse aos amigos o que a acusada tinha feito e ainda disse que nós não estávamos fazendo nada, que estávamos levando na brincadeira”, conta.

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“Sendo que na frente das duas, na nossa conversa na sala da direção, nós explicamos que isso não era brincadeira, que não tinha graça, que era ato de racismo”, complementa Carmem. Ela ainda diz que a abordagem da escola foi fazer pelos meios considerados corretos, com cautela, evitando expor os envolvidos e avaliar a situação antes de tomar qualquer decisão.

A diretora relata que à noite, no dia do ocorrido, um áudio dela conversando com a acusadora foi compartilhado em redes sociais. “Ela espalhou como se aquele áudio fosse uma conversa minha com a vítima, quando na verdade eu ainda não havia contatado nenhuma das vítimas”, responde Carmem.

Sobre a demora para algum tipo de iniciativa ser tomada por parte da escola, como aponta a mãe de uma das vítimas, a diretora comenta que pelo fato dos atos terem acontecido há mais tempo, a prioridade era apurar a situação e resolver o conflito entre as duas alunas, que foi o estopim de toda a confusão.

“A gente tem um currículo anti-racista. Te confesso que fiquei bastante impactada. Claro que é uma questão séria.Fiquei impressionada com a questão de não quererem ouvir. Estávamos tentando explicar quais seriam as nossas ações”, relata.

Carmem ainda ressaltou o papel da escola na formação dos jovens. “A escola é um lugar de aprendizado, não vamos só punir, vamos educar, ensinar, que as pessoas podem mudar. Eles têm 14, 15 anos, ainda têm muito para aprender, para mudar”.

O caso ainda segue em andamento e levantamento de fatos. Quando perguntada pela reportagem qual é o estágio atual das apurações, a diretora conta que foram à coordenadoria e receberam a orientação da realização de ações pedagógicas. Ela afirma que estas atividades serão divulgadas conforme acontecerem.

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