Amon Costa | Salve o rio que nos dá vida e todo povo que mora ali

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Na estrofe do Hino oficial da cidade de Gravataí temos a frase: “Salve o rio que nos dá vida e todo povo que mora ali”. Ode esta, composta pela Célia Jachemet e pelo Maestro Agostinho Ruschel; são numerosas as reportagens e registros jornalísticos sobre a importância das águas da bacia do Rio Gravataí para toda uma região, mais de um milhão (1.000.000) de habitantes depende das suas águas para sobrevivência.

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Seus afluentes são: Banhado Grande, os arroios Miraguaia, Chico Lomã em Santo Antônio da Patrulha; Passo Grande em Glorinha; Passo do Pinto na divisa Glorinha – Gravataí; bem como os arroios Sanga da Porteira, do Vigário e Alexandrina em Viamão. Tal local guarda inúmeras histórias de caçadores e pescadores em meados dos anos 1920-1930-1940 nos acampamentos de caça e pesca.

O rio tem características muito marcantes de um rio de planície, cheio de sinuosas curvas e áreas de alagamento; compondo assim, 89 Km de água que começa em Santo Antônio da Patrulha, Glorinha, Gravataí, Alvorada, Viamão, tendo sua foz em Porto Alegre.

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Clube Caça e Pesca – Gravataí 2013. Foto: Andrei Fialho
Saudoso Seu Veco Barcelos (in memoriam) na tradicional festa de Nossa Senhora dos Navegantes na procissão no Passo das Canoas.

O porto do Passo das Canoas é, sem sombra de dúvidas uma das localidades mais importantes e históricas de nossa cidade, na chegada dos indígenas missioneiros em meados do século XVIII, foi ali que a vila da Aldeia dos Anjos nasceu com seus armazéns, moinhos e engenhos. Comprovadamente foi o lugar de chegada e saída de muitos produtos e pessoas, com suas canoas simples e um século depois com as embarcações chamadas de Gasolinas, entre os anos de 1950-1960 o Passo das Canoas também era o lugar ideal de encontros românticos.

Em meados do século XIX (1854) os moradores da Aldeia dos Anjos já reclamavam para a Câmara de vereadores de Porto Alegre, sede administrativa de Gravataí, que algumas providencias fossem tomadas, pedindo que algumas pedras fossem retiradas do rio para que a navegação pudesse ocorre com tranquilidade entre o mercado público no centro de Porto Alegre até o porto do Passo dos Negros em Gravataí. Essas pedras faziam parte de uma formação rochosa que em alguns momentos do verão e seca do rio impedia a navegação comercial, este lugar ganhou o nome de Passo da Cachoeira e mais tarde apelidado de Cachoeirinha.

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Em 1835 foi iniciada a construção de uma Ponte de Pedra pelo Coronel João Batista Soares da Silveira e Souza, uma nos mesmos moldes da Ponte dos Açorianos em Porto Alegre, a ponte de pedra do Passo da Cachoeira durou até 1921 sendo substituída pela famosa ponte de ferro da Cachoeirinha e em 1920 houve a dinamitação das pedras do Passo da Cachoeira, fazendo sumir a cachoeirinha e facilitar a navegação no rio.

Com a construção da primeira estrada de concreto do estado em 1934, ligando Porto Alegre, Cachoeirinha e Gravataí o eixo do transporte fluvial mudou, deixando paulatinamente de ser feito pelo Rio Gravataí e suas Gasolinas.

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Passo da Canoas 1951

Nas margens do Rio Gravataí surgiram as primeiras plantações de arroz do estado do Rio Grande do Sul. Em Cachoeirinha, especificamente na Granja Progresso em 1906 ( hoje IRGA). Nos anos 1950 o cultivo de arroz se espalhou por todas as bacias do Gravataí, principalmente nas áreas de várzea e banhado. Foi no governo de Borges de Medeiros que começaram os estudos para abertura de canais navegáveis até o banhado grande atravessando Glorinha. Assim, chegando muito perto de Santo Antônio da Patrulha a drenagem do banhado e a construção de canais tiveram seu início.

Abertura de canal de drenagem anos 1970. Foto: Facebook APN-VG
Seca histórica de 2005 – Passo das Canoas. Foto: Facebook APN-VG 

O extinto Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), no ano de 1962, retificou parte do curso do rio principal a partir da construção de um canal que percorre 25 km na calha original do rio. Esse fator acarretou, através dos anos, em um aumento da velocidade da água pela descida rápida favorecendo o processo erosivo do Banhado Grande, uma tragédia ambiental, secas enormes no verão e enchentes no inverno.

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Nomes como: Paulo Muller, Sérgio Cardoso, Lia Ciarelli, Tânia Peixoto , Antônio Carlos Fialho Gomes, Edgar Alves, Claudio Wurlitzer, padre Sérgio Fritzen, Marcelo Domingos e muitos outros foram os responsáveis pela paralisação das drenagens do Rio Gravataí, são os fundadores da APN-VG (Associação de Preservação da Natureza do Vale do Gravataí) que em 1980 realizam uma procissão ecológica e ecumênica, em uma época que não tinha interne. Juntaram-se os pescadores, os estudantes, as escolas, os sindicatos, as igrejas, as associações, quase 10.000 envolvidos em um movimento que acabou com as drenagens.

Nestes mais de 40 anos de luta em prol do meio ambiente a APN–VG, foi fundamental em inúmeras conquistas. Houve uma mudança muito forte na fiscalização das empresas poluidoras, avanços na legislação, criação do Comitê da Bacia do Rio Gravataí, os debates entre APA do Banhado a respeito do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Banhado Grande; destacam-se ainda a proteção e a causa ambiental como processo educativo com o projeto Rio Limpo como algo mais legal que aconteceu nestes últimos tempos.

Nos últimos dias, o Rio Gravataí voltou a ocupar os jornais, sites e reportagens televisivas por conta da estiagem e o nível baixíssimo das suas águas, nos anos 80 cansei de ver na Tv reportagem falando do Rio Gravataí e a sua poluição, a frase martelada nos bordos jornalísticos era: O segundo rio mais poluído do Brasil!

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Canal de drenagem DNOS. Foto: Andrei Fialho;
Captação da água para irrigação da lavoura do Arroz- Glorinha 2013. Foto: Andrei Fialho

Em 2013 eu e o meu amigo Andrei Fialho fomos lançados a pesquisar e documentar os dilemas da população ribeirinha, nascendo em 13 de agosto de 2013 o documentário Gravataí, um rio em minha vida (disponível através do link: https://www.youtube.com/watch?v=qbxoTHCL7WA; distribuímos DVDs, exibimos em escolas e o nosso filme passou na TV aberta! Um sonho! Foi naquele momento que de fato entendi os dilemas e as reais preocupações com o rio, as disputas pela cada vez mais rara água, o saneamento básico e o risco eminente de entrarmos em colapso no abastecimento de água na nossa cidade.

O Rio Gravataí é ator fundamental da nossa construção histórica, das pessoas mais simples à empresa mais tecnológica, todos necessitamos de suas águas. Salve o rio que nos dá vida!

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