Amon Costa | O Caminho da praia

Amon Costa | O Caminho da praia
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ERS-030 -Ano 1946 – Buraco da Veia, altura da parada 108 de Gravataí.

Podem separar as pedras para jogá-las em mim. Imbé é bem melhor que qualquer praia de Floripa! Mariluz é muito mais divertido que Garopaba! Tramandaí é a maior praia do Sul do Brasil. Antes das pedradas, explico: a minha família toda por parte de mãe (Professora Rose Freitas) é de Florianópolis, sempre nas férias escolares de Dezembro até o final de Fevereiro, veraneava na Ilha da Magia.

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Ao voltar das férias e encontrar os amigos nos primeiros dias de aula aqui em Gravataí, todos estavam eufóricos e eu entediado, os antigos 3 meses de férias em Santa Catarina eram um suplício, um tédio sem fim para mim, mas para os meus amigos e a galera, era o momento mágico do ano, eles se encontravam aos bandos em Santa Terezinha, Mariluz, Tramandaí Sul e Capão da Canoa, contando inúmeras histórias, jogos intermináveis no fliperama, clássicos do Bolamar, reuniões dançantes e quase sempre o primeiro beijo deles era com alguma vizinha da praia, e eu?

-Nada para contar!

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Essa fissura pelo litoral gaúcho tem um cunho histórico muito forte, bem antes da construção da Freeway; os gaúchos e, principalmente os gravataienses moviam o mundo para passar um tempo no retilíneo e achocolatado mar do sul.

Na virada do século (1900), eram organizadas caravanas em direção ao litoral, com juntas de bois que levavam até 2 dias de viagem, abrindo porteiras pelos caminhos de Viamão até o Balneário Pinhal, chegando na praia montavam acampamentos estilo lona de circo, levavam de tudo: galinhas, animais domésticos, vaca leiteira, utensílios de cozinha, etc. Era uma aventura, sem dúvidas.

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Com o começo do século XX e a popularização dos automóveis, o traçado mais interessante para ir à praia era a charmosa estrada velha, a ERS -030 que foi construída pelo DAER-RS em 1938, atravessava Cachoeirinha, Gravataí, Glorinha, Santo Antônio até Osório, dali para chegar a rainha das praias, Tramandaí, ainda tinha um trecho de areia bem precário.

Beira da praia Tramandaí em 1950.

O trajeto Gravataí, Glorinha e Santo Antônio até chegar na praia, era muito charmoso, em suas curvas sinuosas; na beira da estrada se vendia de tudo para os que por ali passavam: bergamotas, roscas, pães, queijo, mel, cachaça, abóbora, aipim, conservas, havia de tudo. A população de Gravataí vinha para beira da estrada apreciar o movimento para as praias, vender seus produtos ou simplesmente para sentar, conversar e observar o movimento dos carros. No final dos anos 1930 e começo dos 1940 eram poucas as casas nos balneários gaúchos, quando se alugava uma casa tinham que levar de tudo, era como se fosse uma mudança carregada pelos caminhões abertos.

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“Meu avô Mário Sarmento e o seu Juvenil Alves, faziam excursões de caminhão de carga, saindo à meia noite de Gravataí até Tramandaí, chegando por volta das 5 horas da manhã e se levava de tudo pra comer, pão, café, galinha com farofa não podia faltar! Era uma alegria sem tamanho quando chegávamos na beira do mar […]” Moacir Fonseca

A parada oficial das excursões, ônibus, caminhões e carros era em Santo Antônio da Patrulha para comer um sonho e tomar um café no restaurante do seu Modesto, ao chegar em Osório, tinham os fiscalizadores de velocidades que eram controlados pela Polícia Rodoviária Estadual através de um carimbo em cartões.

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“[…] No verão éramos destacados para organizar o trânsito em pontes que só passava um carro por vez, controlávamos os carimbos de velocidade e ajudávamos nos carros estragados, era uma loucura […]”- Ararê Machado Medeiros Policial Rodoviário Estadual

Posto de fiscalização da Polícia Rodoviária Estadual – ERS-030

Outra lembrança são as corridas de carro (Carretera) que aconteciam todos os anos pela RS 030, de Porto Alegre até à praia de Capão de Canoa, pela Estrada Velha. Como a corrida passava exatamente pelo que é hoje o centro de Gravataí, os jovens e a população se acotovelavam para conseguir um lugar seguro e de boa visibilidade para a passagem dos carros; a gurizada perdia o sono nos dias que antecediam a corrida de tanta emoção.

As disputas aconteceram de 1953 a 1968, registrando vários rodopios nas curvas de Glorinha e pegas memoráveis nas retas da Miraguaia, entre os grandes nomes da época, se destacavam: os irmãos Andreatta, José Asmuz, Raffaele Rosito, Breno Job Freire, Ismael Chaves Barcellos, Henrique Iwers, Raul Fernandes, Aristides Bertuol, Haroldo Dreux, Aldo Costa, Bica Votnamis, Bird Clemente dentre outros pilotos.

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Largada da prova XIII Antoninho Burlamaque. De Porto Alegre, Cachoeirinha até Capão da Canoa 1968.

Em praias que já tinham toda uma estrutura de cidades como por exemplo Tramandaí dos anos 1950, os carros ficavam estacionados à beira mar, onde se jogava voleibol, futebol e o disputadíssimo jogo de bocha; os tradicionais churrascos de domingo, muita pescaria e o vento que sempre foi um personagem histórico dos gaúchos.

Recomendo aos curiosos que assistam no youtube duas raridades postadas pelo Eduardo Wilkens, intitulados: “Tramandaí uma praia do Atlântico Sul ano 1950” e “Uma visita à praia de Pinhal RS ano 1955”, vídeos produzidos pela Produtora Wilkens Filmes, dos irmãos Carlos e Heitor Wilkens. Os vídeos retratam um pouco do cenário vislumbrados pelos gravataienses que se deslocavam até as praias, viagens estas que, para muitos era feita através de carona nas filas intermináveis de carros que se alinhavam até o litoral.

Com a construção da primeira autoestrada brasileira, a Freeway, inaugurada no dia 26 de setembro de 1973, tudo mudou, a nova rodovia foi construída exatamente para mudar o trânsito em direção ao litoral norte do estado, o trecho entre Porto Alegre e Osório era percorrido em 1h, o que desviou quase que por completo o fluxo de carros da estrada velha. (ERS- 030)

Dia da abertura da Freeway em 1973.

A Freeway com certeza foi uma grande obra, mas encerrou uma época de ouro da peregrinação ao litoral, da mesma forma a nova rodovia esmagou o bairro do Passo das Canoas, no documentário: “Gravataí um rio em minha vida” o morador mais antigo do bairro seu Veco Barcelos comenta:

“… aqui era lindo, tínhamos açougue, salão de baile, escola, lojas de roupa, armazém, ai a Freeway cortou nóis, bem onde tem o retorno para entrar na ERS-118 tinha a nossa igreja que foi demolida, o mais triste é que eu trabalhei como servente de pedreiro para erguer a nosso igreja, no fim virou em nada…” comenta o saudoso Geraldo Barcelos (Tio Veco).

Trabalhadores vindos de todas as partes do estado para construção da Freeway- Geraldo Hunter em 1971.

Dos anos 70 em diante tudo mudou, Gravataí ficou sem o vai-e-vem dos carros, mas o litoral norte ganhou muito com a Freeway; as praias se modernizaram, vários foram os empreendimentos imobiliários que possibilitaram a classe média ter sua casa no litoral. Às vezes, essas pequenas casas continuam a se parecer muito com aquele acampamento de 100 anos atrás, no veraneio surgem amigos e parentes que nem sabíamos que existia.

Num próximo momento, e após coleta de mais dados poderei revelar o porquê Mariluz se transformou, sem sombra de dúvida, no balneário de conterrâneos: a praia dos gravataienses.

Deixe nos comentários as suas memórias de veraneio até o litoral norte!

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