- Especial
- 10 de abril de 2022
Amon Costa | Gravataí: a capital nacional do Xis
O hambúrguer com carne moída chegou ao Brasil em 1952, com a instalação da primeira lanchonete americana do BOB’s ao Rio de Janeiro, a II Guerra Mundial criou um novo estilo de alimentação, tinha que ser rápida, industrializável e de produção em série; é neste contexto de fast food que nascem os famosos hambúrgueres. O gaúcho que é muito inventivo na culinária logo adaptou o pequeno cheeseburger americano à sua nova versão bagual: o Xis!
Nos anos 70 e 80, a cidade de Gravataí recebeu uma explosão habitacional e aumentando muito a demanda por serviços de alimentação; porém, essa nova massa populacional, advinda das classe mais populares, um casamento perfeito aconteceu: o Xis e o povão. A cidade que é cortada pela famosa Avenida Dorival, cheia de comércios, logo se notabilizou pela variedade da vida noturna com os famosos bailes (Bailões).
No centro da cidade, na Praça Dom Feliciano, havia um trailer de lanches no começo dos anos 70; sem muito movimento, foi vendido no dia 1 abril de 1975 para o jovem casal Vianei Pereira e sua esposa Nara que compraram o discreto estabelecimento das calçadas da praça. Sem experiência alguma no ramo de alimentação, fizeram aos poucos surgir e popularizar a cultura de comer Xis nas calçadas da nossa cidade. Logo:
“Nossa, chegava sexta-feira lotava de carros no entorno do Xis, era o ponto de encontro para os pegas de carro do distrito industrial de Gravataí, vendíamos uma média de 400 xis nesse dia, às vezes ficávamos 72 horas abertos ininterruptamente, na chuva, no frio ou no calor de 40 graus”. Nara Pereira.
O fenômeno Gravataiense era de comer um xis antes dos bailes do Paladino e Alvirrubro ou ainda, na saída também fazer uma boquinha no auge da madrugada. Entre idas e vindas no ramo de alimentação, Vianei e Nara tiveram a parceria da Dona Olga e o seu Luiz Pereira no comando da chapa. No ano de 1995, Nara seguiu seu legado fundando a Tele-Nara, hoje já não está mais sob a administração da família, mas o Tele-Nara segue até hoje no ramo de xis e comidas rápidas, tornando-se o Xis mais antigo da cidade em atividade!
Seria impossível falar do universo dos lanches sem mencionar o Xis do Mano, na Avenida dos Estados que é lembrado por seu generoso tamanho, da mesma forma o famoso Xis do Paulinho na parada 63 próximo ao Snack, que está atendendo até hoje. Vai lá, Xis do Expresso’s Bar feito pelo Marcos Rodolfo Schramm tinha uma legião de fãs , Rei do Xis e o Xis Du Louco, dentre outros.
Em homenagem ao bloco de carnaval do Paladino, o nome do Xis foi batizado de Xis O Bacurau do Neri, que ficava inicialmente ali ao lado do hospital Dom João Becker, exatamente na frente da parada de ônibus, e tinha o Milton e Fábio de chapistas. Tempos depois nos anos 90, o Fábio montou o Xis Bacura passando o antigo Paladino, (Hoje Carrefour), as entradas e saídas da Festa do Mingau eram sagradas neste xis, bem como as alucinantes festas de Halloween. O Original Bacurau segue existindo ali na parada 79 com o nome de Bacurau Lanches.
O Xis do Moacir, sobrinho do Neri, que depois virou o Cia Do Xis, o melhor do mundo! Conheço diversas pessoas que encomendaram Xis da Cia de outros países como: México, Suíça e Argentina fazendo verdadeiros milagres para o xis chegar ao seu destino. A Cia do Xis marcou uma época muito legal da fase adulta e do começo de boemia da parada 79, não faço ideia de como é que o organismo dos jovens aguentava às vezes um Xis da CIA antes de ir para as festas e depois às 5h, 6h da manhã na volta das festas outro xis.
O preço era o maior atrativo do Xis do Seu João ali na frente do ponto de táxi do Nacional do Centro, antigo Supermercado Econômico.
Os anos de ouro da cultura do Xis foram nos anos 80 e 90, como o Xis do FALCÃO, na parada 68 da Figueira, ali em frente ao bailão do TIO SANTO, todo mundo tomava cervejas antes de entrar para Styllus.
Estou me arriscando demais em tentar citar alguns dos lanches mais famosos e históricos da cidade, se fôssemos promover a eleição do melhor xis de todos os tempos estaríamos começando a IIIª Guerra Mundial, cada um tem o seu tempero especial, sua memória afetiva; é essa paixão por Xis que transforma a cidade de Gravataí na Capital Mundial do Xis. Outro debate polêmico na cultura do xis é: comer com a mão ou no prato? Cada um com as suas preferências!