Amon Costa | As árvores da Praça contam a linda história da APAE e do Cebolinha em Gravataí

Amon Costa | As árvores da Praça contam a linda história da APAE e do Cebolinha em Gravataí
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Foto 1- 2021 -Praça Bispo Dom Feliciano, com o seu busto bem ao centro e as duas árvores de mais de 50 anos.

Eu sou muito curioso, minha mente não pára um segundo, às vezes eu me pego imaginando quem plantou cada árvore nas ruas da cidade. Quando era criança, lá nos anos 80, lembro de passar horas brincando e subindo em duas enormes falsas seringueiras, também popularmente chamadas de árvore-da-borracha; bem no meio da praça Dom Feliciano aqui no centro de Gravataí. Sim! Descobri quem foram os dois responsáveis por tal feito, que me permitiu brincar e usar toda minha astúcia nos mais altos galhos das árvores.

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No dia 12 de junho de 1969 a dupla Dorival Cândido Luz de Oliveira e Nilson Francisco Gomes plantaram simbolicamente duas pequenas árvores: Ficus elástica, mal sabiam que as árvores se desenvolveriam com o passar das décadas, criaram suas raízes e proporcionaram muita sombra e descanso ao busto do nosso Bispo Dom Feliciano. Uma metáfora do nascimento do movimento de inclusão das pessoas com deficiência em Gravataí.

Aquele ato no centro de Gravataí marcou a fundação da APAE (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais) situada na cidade. O movimento apaeano nascido no Rio de Janeiro, no ano de 1954, foi motivado pela chegada ao Brasil de Beatrice Bemis, funcionária do corpo diplomático dos Estados Unidos da América, mãe de uma criança com Síndrome de Down.

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Nos anos seguintes, espalhou-se pelo Brasil APAEs; pela primeira vez no Brasil, discutia-se a questão da pessoa com deficiência, com um grupo de famílias que trazia para o movimento suas experiências como pais e em alguns casos, também como técnicos na área.

Foto 2 e 3 – Os primeiros 7 alunos da classe especial no Dom Feliciano coordenados pela Irmã Ermelinda Garlet.

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Os primórdios da demanda educacional destas crianças foram nos anos 1960, quando o Secretário de Educação Nicolau Chiavaro Neto junto à escola Dom Feliciano iniciou a articulação da criação de uma classe especial. Em 1965 a diretora Madre Marta Bracinni encaminhou a Irmã Ermelinda Garlet para fazer uma especialização de educador para crianças com deficiência, um ano depois da formação da Irmã começou a funcionar a primeira turma da classe especial de Gravataí com 7 alunos em já em 1966.

Foto 4 e 5 – Em 1969 com Madre Marta Bracinni Diretora do Dom Feliciano e Ir. Ermelinda Garlet (de Branco).

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“Eu me lembro bem de bater de casa em casa para recolher assinaturas e sensibilizar as famílias de que era muito importante criamos uma APAE em Gravataí, muitas portas se fecharam, recebi muitos “não” até conseguir o número de assinaturas, as pessoas deixavam os deficientes em casa, com vergonha, escondendo da sociedade, ir para rua e lutar pelo meu filho foi o maior desafio da minha vida …”Maria Bernardina Gomes Dutra- Mãe do Maurício Dutra

O pilar fundamental para conscientização e da mobilização dos familiares foi a militância pela causa da Nair Oliveira, Edith Loff mães abnegadas pela inclusão dos seus filhos. Com a notícia das classes especiais do Dom Feliciano e a mobilização para criar uma escola especial em Gravataí, começaram a aparecer dezenas de famílias interessadas de outros bairros como: São Geraldo, São Vicente, Vista Alegre e a recém emancipada cidade de Cachoeirinha.

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Fizerem parte da primeira diretoria da APAE, José Walmir Machado, José Linck Dutra, Horácio Gomes, Dr. Floriano Torres, Dr. Geraldo Da Camino, Ulmerindo Albino Ferreira, Solon Morel, Arando Pereira Mendonça são alguns dos nomes que constituíram a primeira diretoria. Em 1969, o primeiro presidente da APAE foi o ex-prefeito Dorival C. L. de Oliveira.

Fotos 6 – Em 1970 logo depois que o prédio foi doado para APAE. Foto 7- Dia 12 de Outubro de 1971.

Em 1970 depois de muita luta burocrática e a mobilização de várias pessoas foi doado para a APAE o prédio incompleto que serviria de Hospital e que pertencia à União Operária de Gravataí, instituição essa organizada pelo médico Dr. Luiz Bastos do Prado, que acabou vindo à falência. Foi assim que a sede definitiva da APAE foi para a rua Antônio Francisco Fonseca.

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Foi uma honra receber o convite da Madre Marta Maria para ser ajudante da Irmã Ermelinda, me considero a primeira professora de Educação Especial de Gravataí, fui contratada pela Prefeitura de Gravataí e depois fui também a  primeira professora Estadual  de Ensino Especial em Cachoeirinha, 1970…” Professora Valéria Dutra

Foto 8- Abílio Alves dos Santos e Dorival Cândido Luz de Oliveira, 1977- Escola Especial Cebolinha. Foto 9- Em 1979 chá beneficente a Coordenadora pedagógica Mercedes e a Diretora Edith.

No dia 31 de agosto de 1970 nas dependências do prédio da APAE foi fundada a Escola Especial Cebolinha, com alunos oriundos das classes especiais do Dom Feliciano e alunos encaminhados das escolas regulares de Gravataí, tendo como diretora a Irmã Ermelinda.

A parceria entre as duas instituições, a APAE fazendo seu trabalho de assistência e a Escola Cebolinha fazendo a parte educacional foi fundamental para que nos anos 1970 e 1980 houvesse a consolidação da educação e da atenção para com as pessoas com deficiência. A maioria da população de Gravataí de fato não sabe que as duas instituições são independentes, quando se falava em APAE se pensava no Cebolinha e quando se falava na escola Cebolinha automaticamente pensávamos que era algo organizado pela APAE.

Em 1975 e 1976, assumiu como presidente da APAE o fundador Nilson Francisco Gomes e de 1985 a 1991 Mercedes Helena Vicentini Basler que modernizou a instituição com ampliações, parcerias e centenas de atividades; as duas instituições tiveram centenas de profissionais e ativistas dedicados uma vida inteira para construção das mesmas, fica impossível falar de todos em algumas poucas linhas mencionadas através da internet.

Foto 10 – Em 1979 aniversário de 10 anos da APAE com: Nair, Dep. Dorival, Prefeito Ely Corrêa, vice-prefeito Abílio, Caon, Ana, Diretora Mercedes e o Papai Noel Enio Fagundes. Foto 11 – Em 1981 1º Baile de Casais da APAE com: Nair , Dorival , Nilson, Marta , Mercedes e Jacira-

Para escrever esse artigo falei via WhatsApp com várias pessoas, fui com todo o cuidado até a casa dos meus vizinhos Chiquinho e Maurício e principalmente a Marta A’vila que é a maior responsável por ser a guardiã e organizadora das fotos e informações, ao chegar lá na sede da APAE/Cebolinha fui muito bem tratado pela Lígia Maristela Caliari, Gislaine Corrêa e principalmente pela Márcia Regina Nunes a atual presidente e mãe de ex-aluna, juntos mexemos nas fotos, arquivos e documentos como se estivéssemos lidando com um tesouro dos mais preciosos; afinal, naquele acervo estão registradas algumas páginas que comprovam o respeito e a importância da inclusão na cidade.  

Foto 12 – Em 1977 Chiquinho e a Professora Arary em um dos passeios. Foto 13- Em 1975 Dorival e sua filha Elizete e o Maurício.

Eu tive um primo chamado Coti, ele tinha Síndrome de Down e foi criado dentro de casa com poucos estímulos educacionais; porém, possuía uma habilidade ímpar com instrumentos de percussão, músico de primeira grandeza, na minha memória infantil não consegui perceber que ele era diferente, era apenas um adulto que gostava de brincadeiras, achava ele um adulto mais alegre do que os outros.

As árvores da praça Dom Feliciano são uma linda poesia da história da APAE e do Cebolinha, são as raízes mais profundas da inclusão, ao visitar as duas árvores lá na praça, temos a dimensão de que a luta frutificou e que seus galhos são tão enormes que já tocaram o chão novamente; uma árvore faz sombra para outra, certamente as raízes por baixo da praça já se entrelaçam, vivemos um outro momento da luta pela inclusão das pessoas com deficiência, as crianças escondidas, as famílias envergonhadas e o olhar das diferenças jamais retornarão aos quartos fechados. Como é bom saber que alguém, algum dia, em algum lugar plantou duas árvores. 

Foto 14 – Em 2009 seu Nilson Gomes e seu filho Gilmar ao lado da árvore que ele havia plantado em 1969. Foto 15 – Em 2021 da Ficus Elastica, aŕvore plantada pelo Dorival de Oliveira.

 

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