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- 10 de outubro de 2021
Amon Costa | A pré-história de Gravatahy
A cidade de Gravataí realmente é o lugar de caminhos e de passagens; das idas e vindas, estrada para chegar aos destinos mais longínquos. Não é de hoje que este espaço geográfico constitui a principal porta de entrada para o interior do estado e saída para o litoral.
A construção da Freeway em 1973, a estrada velha (ERS-030) de 1938, o caminho dos tropeiros no século XIX e muito antes que isso temos a nossa pré-história, os primeiros seres humanos que pisaram no solo fértil do Rio dos Gravatás.
Conhecemos um pouco da história da Aldeia dos Anjos, dos indígenas Guaranis que foram deslocados das missões para se instalarem no que é hoje o centro de Gravataí; até mais ou menos os pés do Morro do Itacolomi; este era o começo, lá em abril de 1763. Porém, a pergunta é: Eles foram os primeiros a estarem por aqui?
Há muito tempo, este vale já era um local riquíssimo de idas e vindas dos povos nômades pré-históricos do Rio Grande do Sul. Os primeiros povos a andarem por Gravataí por volta de 10.000 anos atrás, isso mesmo, antes do presente, e eram caçadores e coletores que viviam de forma igualitária em pequenos bandos dispersos por diversas áreas.
Os Jês (chamados de Kaingang) moravam no planalto e nos campos de cima da serra; mas foram encontrados vestígios da passagem deste povo ali pelo Morro do Itacolomi, Morungava e na divisa com Taquara. Eles costumavam construir cinco ou seis cabanas, com mais ou menos 25 famílias, eram bons caçadores e tinham o cuidado de apenas caçar animais machos, fazendo sempre a mudança do local de caçada para preservação dos animais da mata. Foram os Jês que entraram em conflito no século XIX com colonos alemães e italianos que acabavam matando animais indiscriminadamente e por esporte.
Os Jês faziam muitas cestas e utensílios de palha, para guardar o pinhão, milho, mandioca e batata doce. A planta caraguatá (Gravatá) era a preferida para fazer túnicas, por conta de ser uma planta abundante e muito fibrosa. Os grupos Jês destacam-se por sua complexa engenharia de terra com a construção de casas semi subterrâneas; montes que eram pequenos locais funerários e organizavam grandes cerimônias em suas aldeias, confira nas imagens abaixo:
Nessa divisa que temos com Viamão, ali pelo Banhado Grande, encontramos algumas aparições e vestígios dos pampeanos, conhecidos como os minuanos e charruas que viviam em grande número no sul do estado e no Uruguai. Os pampeanos construíram cabanas em áreas de banhado; principalmente onde houvesse bastante aves e peixes, eram nômades e trocavam de moradia em busca de alimento, fabricavam lanças, flechas, tacapes, boleadeiras, fundas e redes de pesca. Foram eles que chamavam suas mulheres de China – chinoca, trocaram experiências culturais com o Guaranis e também incorporaram o hábito de tomar mate; com o passar do tempo e a chegada de portugueses e espanhóis, bem como a introdução do gado e do cavalo, se tornaram excelentes cavaleiros e tropeiros.
Apesar de algumas tentativas, os charruas e minuanos jamais se converteram ao cristianismo e poucos foram viver nas reduções jesuíticas. Estes povos nos presentearam com as palavras: cancha, chiripá, poncho, charque, chiru, guaica, guampa, mate e pampa.
Vindos do Paraguai, há aproximadamente 2000 anos, os Guaranis, desceram o Rio Uruguai e criaram as suas tetami (aldeia em tupi-guarani), suas casas (coty), abriam grandes clareiras com queimadas nas matas (caa) para as roças (co). Os guaranis eram agricultores, cultivavam milho, feijão, fumo, algodão, pescavam, caçavam, eram bons no arco e flecha.
Esses grupos são caracterizados por maior sedentarismo, vivendo em aldeias fixas, nas quais praticavam agricultura e horticultura. Como inovação tecnológica surge a cerâmica, que é produzida em larga escala, destacando-se as grandes urnas funerárias; algumas das cerâmicas são exibidas no nosso Museu Agostinho Martha, conforme imagens abaixo:
Os guaranis eram extremamente guerreiros, em maior número e com tecnologias de sobrevivência e armas mais avançadas. Desta forma, invadiram o território competindo com os grupos existentes pela comida, influenciaram muito os outros povos que estiveram aqui no Sul há milênios.
Em Gravataí foi descoberto um Sítio Arqueológico no Arroio dos Ferreiros, com a presença de afiadores em canaleta, junto à nascente do Arroio dos Ferreiros em propriedade da Cyrela, antigo Seminário São José; assim, na área de conservação ambiental, portanto, estará preservado.
Os Guaranis nos deram uma série de palavras: tchê ou che, ambos os termos são muito usados por aqui, tendo o sentido de “meu”, principalmente referindo-se às relações de parentesco. Ainda, palavras como: biboca, capim, cutucar, gravatá, guri, maricá, piá, taquara, tatu e também nos deu o uso da erva mate e o chimarrão (caá-iari) são heranças guaraníticas.
Acreditem, caros leitores, o mais legal de pesquisar a história é, sem dúvida nenhuma, saber as origens, as marcas, os segredos; de certa forma, ainda aqui, não foram encontrados grandes sítios arqueológicos. São fragmentos e pequenos vestígios que mostram uma pontinha da nossa pré-história, porém, algo ficou marcado: Gravataí sempre foi um ponto de convergência geográfica, do encontro das culturas e ponto de passagem para as idas e vindas do interior ao litoral.