- Cultura
- 24 de janeiro de 2023
Em livro de poesias, escritora de Gravataí versa sobre a representatividade negra
Conhecida pelo projeto Lanceirinho Negro, a escritora e presidente do Clube Literário de Gravataí, Angela Maria Xavier Freitas, apresentará, em breve, seu mais novo trabalho: “Tornando-se”, uma coletânea de poesias, em versão pocket. Esta é a primeira obra poética da autora, que buscou inspiração na própria jornada, da infância à vida adulta.
Conforme Angela, que também é professora e pesquisadora, o título é alusivo à frase “ninguém nasce negra, torna-se negra”, da filósofa Lélia Gonzalez. Frente a isso, o leitor já tem a pista dos principais temas que encontrará nos versos da poetisa: representatividade, ancestralidade e vivências.
Na introdução do livro, a autora admite que tinha “medo de escrever poesia”, pois admirava e respeitava os poetas, mas não se sentia preparada ainda para compartilhar seus textos. Essa percepção mudou na pandemia, quando começou a organizar a coletânea.
Tornando-se será lançado no Dia Internacional da Mulher (8/3), às 19h, em um sarau no Clube Social Negro Seis de Maio. A publicação será vendida a R$ 20,00 e havendo necessidade de frete, haverá acréscimo de R$ 15,00. O pagamento poderá ser feito via pix 690.307.400-78.
A obra conta com capa e ilustrações do artista visual Waldemar Max, selo Cavalgando o Vento (CoV), revisão e supervisão editorial de Carlos Albani. A revisão do leitor foi feita por Borges Netto, membro do Clube Literário, também apoiador da publicação.
Angela participa no dia 27 de janeiro, às 9h, do Sarau Feminista e Antirracista, evento que integra a programação do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. A atividade será promovida no Auditório Dante Barone, na Assembleia Legislativa do RS.
Alguns versos de Angela Xavier…
Ancestralidade
Habita em meu peito
herança de antepassados,
uma tal de ancestralidade,
presente em tudo que faço.
No ar que respiro,
no sorriso acolhedor,
trago no coração
o batido do tambor.
Minha cultura é chama,
que jamais enfraquece,
essência sublime
revelada em prece.
Sou criança destemida,
teimosa por natureza.
Quero resgatar da história,
a verdadeira nobreza.
África: berço de tudo.
Orgulho que transcende,
palpita fora do peito,
coração independente…
Em batalha…
Morri em batalha.
Meu sangue forjou teus heróis…
Nos olhos carregava o reflexo da coragem,
necessária desde o nascer.
Teus vultos históricos me escravizaram,
violentaram minha cultura.
Minha essência resistiu.
Morri em batalha.
Meu ideal era nobre,
a razão do meu despertar a cada manhã.
Somente meus irmãos pássaros me entenderiam…
Morri em batalha.
Nenhuma condecoração recebi,
“apenas” a certeza de minha dignidade.
Se os teu heróis dormiram naquela noite?
Pouco importa.
Deles só quero distância…
E ofereço meu mais sincero desprezo.
Morri em batalha.
Ancestralizei-me.
Hoje sou poeira cósmica
e habitante da eternidade.
Meu clamor ecoa
pelos confins de toda a terra.
O meu ideal proliferou
nos corações das novas gerações.
Talvez ninguém saiba,
Agora posso afirmar com convicção:
Renasci em batalha…