Padre Fabiano | O dia em que a Terra parou

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O ano era 1977, o cantor Raul Seixas lançava a música “O dia em que a Terra parou”, com melodia forte, contagiante e letra apocalíptica, na qual o famoso músico baiano, morto em 1989, cantava um dia em que ninguém saía de casa, ninguém. Raul Seixas foi um dos muitos músicos da minha adolescência, sempre achei suas letras fortes e profundas. Gostava dele. Essa canção em especial era uma de suas mais famosas. Teria sido uma profecia do ano 2020? Teria o Raulzito enxergado 43 anos a frente? O que diria ele, se estivesse vivo? Estaria no grupo de risco, pois teria 74 anos.

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O ano de 2019 terminou com uma notícia alarmante: uma nova doença assolava a China, 31 de dezembro foi quando houve a notificação à Organização Mundial de Saúde. Estamos a seis dias de completar três meses da primeira notificação, e já são 408.869 casos e 18.236 mortos – eram enquanto eu escrevia este artigo (fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51718755). Um vírus novo, sem vacina, sem tratamento. A única alternativa eficiente até o momento é o isolamento social, pois está comprovado que o contágio se dá de pessoa a pessoa, pelo contato com gotículas da saliva, do espirro, que ficam no ar. É preciso manter uma distância mínima de 2 metros das pessoas, o que impede as aglomerações.

Os infectologistas são unânimes. Assim, os governos não viram outra solução a não ser decretar quarentena, em alguns lugares por tempo indeterminado. Shoppings, restaurantes, parques, casas noturnas, igrejas, tudo fechado. No Brasil, a campanha #ficaemcasa domina as redes sociais. O que vemos ao redor do mundo são megalópoles com suas ruas e estradas vazias, noites silenciosas onde antes o barulho entrava madrugada adentro. Estamos vivendo os dias em que a terra parou.

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Não são decisões fáceis. Eu não queria estar na pele de nossos governantes nem civis. Decretar o confinamento não é tranquilo, devido a suas consequências econômicas mas também psicológicas – ficar confinado por tempo indeterminado afeta o psicológico, tanto para quem está com a família como para quem mora sozinho. É uma solução difícil, dura, mas muito necessária. Contudo, seria possível pensar em pontos positivos de tudo isso? Eu penso que sim.

Na Europa, há semanas o confinamento está decretado. Semanas com menos carros nas ruas, semanas com muitas empresas fechadas. Pensem nos níveis de dióxido de carbono que deixaram de ser jogados na atmosfera. Pensem o quanto o ar está mais puro, o quanto a natureza está respirando melhor. A sociedade desacelerou. Estamos com tempo. Estamos sendo “obrigados” a conviver com nossas famílias. Os pais estão sendo “obrigados” a passar mais tempo com seus filhos, os esposos estão tendo mais tempo para si. Nossa sociedade ultrarrápida está mais tranquila. Algumas pessoas me dizem que estão tendo mais tempo para rezar, para lerem os livros que sempre quiseram ver, para pensarem mais em si.

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Não estou com isso louvando a pandemia. Muito antes pelo contrário. Todos os dias rezo para que Deus nos livre dessa ameaça, e voltemos à nossa vida normal. Mas, como seguidor de Jesus de Nazaré, o vencedor da morte, o Ressuscitado, não posso deixar de ver o lado positivo de tudo isso. Creio que sairemos melhores de tudo isso. Sairemos pessoas novas. Claro que teremos as consequências, mas procuro olhar pelo lado positivo. Não quero ser mais um profeta da desgraça; desses já tem muitos nas redes sociais.

Semanas atrás, escrevi sobre a década se inicia. Quando escrevi aquela coluna, o coronavírus já estava entre nós, mas ainda não com a proporção de hoje, nem tinha chegado ao Brasil. Por isso, aquele texto tem um tom muito otimista. Mas, se eu escrevesse hoje, não perderia o otimismo. Uma nova década começou, não da forma que gostaríamos. Levaremos algum tempo para nos recuperarmos, mas a humanidade é guerreira, e já se recuperou de outras tragédias e outras pandemias. Talvez em 2030, ou 2040, um jovem que ouvir Raulzito, dirá: “Eu lembro dos dias em que a Terra parou.”

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