No abatedouro de casa, caseiro matou o patrão e jogou o corpo para os porcos comerem

No abatedouro de casa, caseiro matou o patrão e jogou o corpo para os porcos comerem
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Foto: HCP

Andando pela estrada de chão, Leonel Cabeleira Bitello, no distrito da Costa do Ipiranga, a tranquilidade dá o contraste as belas paisagens da localidade, ao cenário típico do interior, e a imensa hospitalidade dos moradores da região, que faz o visitante se sentir em casa. Na medida em que vamos nos afastando do perímetro urbano, é visível a mudança de sítios, para imensos campos, e sem contar o estreitamento da estrada, que revela o fim das moradias, dando acesso apenas a mata nativa, que cercam os bairros Neópolis até o Itacolomi.

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Numa espécie de armazém, (mercado dos dias de hoje), a pergunta sobre um morador causa estranheza, e em alguns, uma expressão de medo acompanhada de um profundo silêncio, calando uma possível resposta. A pergunta era a seguinte: “ Opa, bom dia! Estou longe da propriedade do seu Ademar Machado? ”. Sai sem reposta.

Cerca de 800 metros à frente, um morador responde, e da forma na qual todo mundo conheceu o caso que envolve Ademar. “Ah, o do caso dos porcos? ”. Foi assim rotulada a morte do estancieiro, brutalmente assassinado pelo seu funcionário, um caseiro de 46 anos, que após tentar decepar a vítima com o seu facão, jogou o corpo aos porcos no chiqueiro de Ademar. Crime ocorrido em 2015, e que ainda causa “arrepios” para quem ouve falar, ou também para quem conta a história.

A dona de casa Aline Mathias, de 29 anos, teve um convívio assíduo com o Adílio Mendes, já que eram vizinhos de frente. Lembrando da história, ela comenta que o caseiro chegou a ser convidado para o aniversário de um ano da filha mais nova, hoje com quatro anos. “Convidamos ele, vinha quase todos os dias aqui em casa, ajudava meu marido. Quando aconteceu isso, liguei para polícia e avisei que havia convidado ele. Vai que ele aparece lá”, contou Aline.

A primeira desconfiança

Todos os dias Adílio tirava um tempo das funções de tocar o gado, dar comida aos porcos, para ir conversar nas propriedades vizinhas. Ele chegava até a porteira do sítio de Aline e do esposo para um chimarrão, seja pela manhã ou no final de tarde. Também subia uma via lateral para ir até a casa de uma outra vizinha. E assim ele tocava a vida.

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“Ele vinha todos os dias, era quase de casa já. Só que um dia vimos que ele estava com uma tornozeleira eletrônica, e meu marido perguntou o que ele tinha feito, e ai começamos a ficar desconfiados, mas o seu Ademar falava que não tinha que se preocupar, porque conhecia o Adílio há anos.

Adílio Mendes é acusado de matar patrão em sítio e jogar corpo aos porcos | Foto: Polícia Civil | Divulgação

O caseiro contou ao marido de Aline que havia matado um homem a pedradas após uma briga. Fato que chamou a atenção do casal pela frieza em que o mesmo contava, mas que apontou a bebida como o fator principal para o crime atroz. Desde então a família Mathias, na época, pais de primeira viagem, começaram a privar as visitas de Adílio a sua propriedade.

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Uma das únicas vezes que se viu um tom de sentimento nas palavras de Adílio era quando falou em trazer sua filha e sua companheira para vir morar com ele na propriedade do patrão.  Nascido em Nonoai, no ano de 1967, pouco se sabia dele, os registros são apenas policiais, e começaram em 97 com crimes de lesão corporal, atentado violento, roubo e por último o indiciamento por homicídio doloso.

O patrão

Abrutalhado, Ademar gostava das coisas nos mínimos detalhes. Este era sempre os motivos das discussões e cobranças dele com seu funcionário, e futuramente, sem saber, seu assassino. Separado, e pai de três homens e duas mulheres, o bruto, mas bonachão, vivia uma vida tranquila no sítio Jericó, e tirava o dia para observar seus animais, ajudar Adílio e sentar embaixo de uma árvore araucária, na qual ele tinha como rito, nos domingos após o almoço, descansar na raiz. Os vizinhos desconhecem a amizade de anos entre a vítima e o autor, mas conforme a murmuração, Adílio teria trabalhado também para o irmão de Ademar, ganhando a confiança do patrão.

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Foto de Ademar Machado ficou como lembrança para os vizinhos | Foto: Divulgação

O crime no matadouro

No domingo, 7 de junho de 2015, Aline e o marido decidiram ir almoçar na casa de parentes na cidade de Canoas, e saíram cedo do sítio, mas o marido deveria voltar para tratar os animais, já que, além do almoço, passariam a tarde com os familiares. Naquele dia o esposo notou que Adílio não virá visitá-los, nem pela manhã que eles estavam em casa. “O Adílio trabalhava de segunda a sábado, e domingo era a folga dele. E todos os domingos ele ficava bêbado, esse também era um dos motivos que o Ademar ficava brabo, ele não queria que o funcionário ficasse incomodando os vizinhos, vindo a arranjar problema para ele”, lembra Aline, que fez aniversário um dia depois da barbárie.

Casa de Ademar ficou abandonada desde o dia do crime | Foto: Gabriel Siota Ganzer/Giro de Gravataí

Na manhã de segunda (08), o esposo de Aline estranhou que não havia atividades no sítio do vizinho, e o alvoroço dos porcos despertou curiosidade, já que eram mais de 20 animais. Quando chegou próximo do chiqueiro, viu um corpo dilacerado, e coberto de sangue e sujeira. Conforme o descontentamento de Ademar com seu funcionário, confessado ao vizinho, ele temeu que o patrão havia matado o caseiro, mas ao chegar próximo do corpo para espantar os animais ele se deparou com o corpo do vizinho, Ademar.

Conforme a perícia e o relato de Aline – que não pode chegar perto para ver a cena de horror que ali se passava, a vítima apresentava ferimentos de corte na região da nunca, que segundo médicos legistas, são golpes típicos de quem tinha por intenção, decepar a cabeça do patrão. No registro de ocorrência feito pela Brigada Militar (BM), Ademar estava com partes do rosto mordidas, sem o braço direito e sem o dedo da mão esquerda.

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Aline lembra que Adílio costumava, não muito longe de onde foi deixado o corpo, carnear alguns animais para o consumo, e foi justamente ali que a perícia localizou o dedo da vítima, confirmando que Adílio pretendia desmembrar o seu patrão para facilitar o descarte do corpo. “Há uns 15 metros do chiqueiro eles tinham uma “baia” aonde carneavam os animais para comer, e foi ali que o Adílio matou o Ademar”, conta Aline, que acompanhou a reconstituição da perícia para saber como foram os minutos finais de seu vizinho.

Aline mostra local aonde caseiro largou o corpo do patrão para os porcos comerem | Foto: Gabriel Siota Ganzer/Giro de Gravataí

Do local aonde ele tentou desmembrar o patrão, arrastou o corpo até o chiqueiro, deixando um rastro no jardim da casa. Roupas, os chinelos, tudo foi ficando pelo caminho. Seu facão foi encontrado embaixo de uma árvore, no meio do quintal. E no chiqueiro, seu rosto e sua caixa torácica eram consumidas pelos porcos, que chamou a atenção da polícia, mas que segundo os vizinhos, os animais só comeram os restos de Ademar pois ele costumava tratá-los com carne ao invés de ração.

Aline também conta que o caseiro fugiu após o crime, mas que acabou levando alguns pertences da vítima. “Essa vizinha mais de baixo da estrada viu ele, mas diz que só passou correndo, e foi a última vez que ele foi visto aqui. perdo do meio dia, depois que a perícia foi embora, entramos na casa e vimos que ele roubou algumas roupas do Ademar, perfumes e dinheiro”, contou.

A polícia também encontrou na residência as roupas que Adílio estaria usando no momento do crime, pois estavam ensanguentadas. Indignados com a morte do pai, os filhos precisaram ser contidos para que não colocassem fogo na casa aonde o caseiro habitava na propriedade, mas ela foi destruída dias depois, e o sítio permanece até hoje sem morador.

As coisas estranhas depois da morte

“Algumas coisas começaram a acontecer aqui. Sabemos que isso é meio normal, até mesmo por estarmos acostumados com ele, e esse crime brutal abre espaço para a imaginação, mas que aconteceram, acontecera!”, contou. Aline relata que nos primeiros dias, posterior a morte de Ademar, ficaram cuidando do sítio, já que a região sofria com invasões e assaltos a propriedades rurais.

Local aonde funcionava o chiqueiro aonde o corpo do patrão foi deixado. | Foto: Gabriel Siota Ganzer/Giro de Gravataí

Certo dia, pela manhã, ela notou que as janelas da casa de Ademar estavam abertas, e resolveu fechá-las. No outro dia, a mesma coisa; janelas escancaradas. Pensando que Adílio pudesse estar de volta, ou então algum saqueador, ela e o marido encampanaram e ficaram atentos de sua casa para a casa do vizinho, mas as janelas continuaram a abrir sozinhas. Já ficamos com os olhos fixo lá, do jeito em que elas abrem, tem que empurrar forte, e naturalmente elas se abriram”, disse.

O assovio com os cachorros da família Mathias também intriga Aline e o Marido até os dias de hoje. “Todas as vezes que o Ademar vinha aqui para tomar um chimarrão, um café, ele entrava na porteira, os cachorros iam para avançar e ele fazia um som de assovio, e depois da sua morte, por três vezes ouvimos os mesmos sons de quando ele vinha, o assovio dele, o latido dos cachorros pela porta da frente da casa. Era a mesma coisa. Inacreditável”, resumiu ela.

Na árvore que Ademar costumava descansar a mesma coisa. Até quando não tinha vento ela ficava abalançando bastante, fico arrepiada em contar. Muitas coisas começaram a acontecer por aqui”, finalizou.

Homem foi confundido duas vezes com Adílio  

Um ano depois do crime, a comunidade tentava esquecer a barbárie ocorrida com Ademar, quando a notícia instalou a insegurança na região. “O Adílio tá de volta, foi visto trabalhando em uma casa aqui na outra estarda”, conta testemunhas que lembram dos boatos de que o matador dos porcos estaria nas redondezas, e pulando de propriedade e propriedade, atrás de emprego, ou da próxima vítima.  

Em abril de 2016 um chamado para a Delegacia de Homicídios de Gravataí dava conta de que Adílio estaria trabalhando em uma outra propriedade, na estrada Dionísio Cardoso de Lima, há cerca de 3km do local de seu crime brutal. “Pronto, quando ficamos sabendo que ele tava de volta, nem dormir conseguia mais”, ressaltou Aline.

Polícia Civil e Brigada Militar (BM) já realizaram buscas na propriedade aonde Adílio havia sido visto, mas a informação caiu em descrédito. “Por duas vezes vieram aqui e prenderam o “Joãozinho”, conta o proprietário do sítio na qual o acusado estaria trabalhando. “Esse meu funcionário trabalha há anos para mim, e confesso que não vi semelhança nele com este matador. Ele tem problema mental, “é bobinho”, e além de não ser ele, não teria capacidade disso. Depois de consultarem documentos, comprovaram que não era ele. Depois disso os problemas dele se agravaram, e ele retornou para a casa de familiares. Era até perigoso ele ficar aqui”, contou o homem que preferiu não se identificar.

Judiciário negou pedido de prisão pelo crime

Com as provas cabais deixadas no local do crime a polícia investigou e não teve dúvidas. Adílio matou o patrão! O inquérito havia sido fechado no mesmo ano, no qual a Delegacia de Homicídios indiciou o acusado por homicídio doloso, e o inquérito foi remetido ao Ministério Público (MP). Por sua vez, o MP, ao analisar que na citação de defesa o mesmo não havia sido localizado, pediu a prisão preventiva do acusado, mas que foi negada pela juíza em Gravataí.

Conforme informações extraoficiais, o MP aguarda um recurso da decisão da juíza por não ter concedido a prisão. Mesmo sem o pedido, Adílio segue foragido, mas pelo rompimento da tornozeleira eletrônica. A polícia pede que qualquer informação sobre o paradeiro dele, seja imediatamente informado as autoridades policiais. A delegacia de Homicídios atende pelos telefone 3945-2741 ou WhatsApp (51) 98608-9976.

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