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- 5 de junho de 2019
Luis Felipe | Anabel e Bordignons sem medo de abraçar o socialismo
Domingo passado (02), no terraço do Sindilojas, o ato de filiação da ex-vereadora Anabel Lorenzi finalizou um movimento político que eu havia anunciado em dezembro de 2018. O que eu, nem Anabel, sabíamos à época, era o destino que levaria a professora a encerrar seu ano sabático. “O movimento de saída requer um segundo movimento. O que fazer? Ir para um partido pequeno e refazer todo o caminho, uma construção que requer muito tempo e não ter viabilidade eleitoral?
Como enfrentar essa conjuntura que ataca os direitos das pessoas? Concorrer à vereadora e continuar na oposição? Não fazer nada? Eram as dúvidas que permeavam o consciente de uma das mulheres mais importantes da política local e que por duas oportunidades foram compartilhadas comigo e permaneceram em sigilo até agora. No domingo da filiação, muito mais dos bastidores foi trazido à luz para os presente e mostro agora para os leitores.
A ideia original e o mensageiro
No segundo discurso mais esperado da noite, o ex-prefeito Daniel Bordignon, entre citações à Stalin, revelou que foi sua esposa, a vereadora Rosane Bordignon que o instigou: “E por que não apoiamos a Anabel?” Para quem ainda não sabe, Bordignon segue com os direitos políticos suspensos até setembro de 2020, o que inviabiliza sua candidatura, porém sonha retornar à prefeitura, com o nome limpo, em 2024. Inclusive com a palavra de Anabel de que ela não concorre a reeleição, em caso de vitória em 2020.
No decorrer de seu discurso, o ex-prefeito revelou que foi no dia 27 de março, data em que a justiça negou sua ação rescisória (medida com a qual Bordignon tentava reduzir sua pena e participar já da próxima eleição) que fez o primeiro contato com Anabel, após tentar o contato pela via oficial, através do vereador Paulo Silveira, presidente municipal do PSB, que, segundo Bordignon, nunca passou os recados.
Enfrentando dificuldades, porque Anabel jamais respondeu as mensagens no WhatsApp, Bordignon escalou o vereador Dilamar Soares (PSD), amigo e ex-companheiro de chapa de Anabel na eleição suplementar de 2017, que passou a levar os recados entre as duas lideranças, até que ela aceitou conversar. Como prêmio, o vereador Dilamar recebeu neste domingo a do presidente estadual do PDT, deputado federal Pompeu de Matos, a garantia de que o partido está de portas abertas para ele também. Dilamar que chegou a ser cogitado como o candidato a prefeito deste campo, tentará a reeleição para o terceiro mandato na Câmara pelo PDT.
Chapa de duas mulheres. mais que um sonho, uma revolução
Ficou a cargo de Tânia Feijó, presidente estadual da Ação da Mulher Trabalhista (organização das mulheres do PDT), o anúncio de que a vereadora Rosane Bordignon será a candidata à vice-prefeita. Rosane, que recebeu mais de 44 mil votos na eleição de 2017, não escondia a felicidade de receber Anabel no partido e mais do que isso, passar adiante a tarefa de ser candidata à prefeita. “É uma felicidade que me toma hoje. Vamos fazer um governo com 50% de mulheres nos postos de comando, assim como fez Ciro Gomes no Ceará” discursou a vereadora que foi ovacionada pelas feministas presentes.
A filiação de Anabel é, segundo as palavras de Bordignon, o reencontro de militantes históricos, que sempre estiveram no campo político da esquerda, mesmo que adversários eleitorais. Juntos planejam a construção de uma união de lideres dos movimentos sociais que aglutine o campo que está afastado e sem uma liderança, mas que representa a resistência à pauta conservadora que despreza os educadores. Segundo Anabel, a história exige deles mais do que votos, exige posição.
O primeiro discurso
“A reflexão me trouxe ao PDT, eu já me sinto em casa”, avisou Anabel em seu primeiro discurso após assinar a ficha de filiação que foi abonada por todas as lideranças que compunham a mesa oficial. Ao olhar para todos os presentes, Anabel cita mais uma vez a utopia. “Este é o time da utopia. Lideranças que lutam todos os dias por um mundo novo”. “É a utopia que me une ao Daniel Bordignon”.
Enumerando causas e pautas, Anabel transforma as convergências e divergências em uma soma matemática para chegar ao resultado, para ela, positivo desta aliança com seu adversário em três eleições. “Não vivemos de ganhar eleições, mesmo com as derrotas (ponto de convergência entre Anabel e Bordignon nas mesma últimas três eleições), Daniel, Rosane e eu nunca paramos de fazer política”. Para Anabel, há desmonte dos serviços públicos nas três esferas de poder e os ataques aos direitos civis cobram dela uma atitude de resistência e uma ação politica.
Como se colocasse uma gigantesca pedra sobre o passado de intensa troca de farpas, Anabel afirma reconhecer que Daniel Bordignon é uma importante força política da cidade. Afirma que são dois socialistas de coração e muita coragem e encerra, tão enigmática como esteve nas últimas semanas, “O caminho é mais importante do que o próprio destino, se a candidatura não acontecer, só esta noite já me deixou muito feliz”.
Para mim, um recado evidente ao ex-prefeito de que se após todos estes anos afastado do poder e somando inúmeras derrotas, entre as judiciais e as eleitorais, ele não evoluiu ao passo de tornar-se uma pessoa mais tranquila e de fácil convivência ao invés do contumaz construtor de adversários, Anabel é livre o suficiente para abrir mão de qualquer projeto que apresente falhas de conduta ou moral, afinal faltam ainda 15 meses para a eleição e como eu já escrevi, o que hoje é dado como certo, em 2020 pode ser lembrado como uma alucinação coletiva.
