- Especial
- 19 de janeiro de 2020
Dona Rose, a empregada doméstica que pagou o IPTU de uma creche comunitária em Gravataí
O CTG Carreteiros da Saudade foi o palco da realização de um sonho para gravataiense Roseli Teresinha Meinerz. Em sua festa de 50 anos, a empregada doméstica, mãe e avó, pediu um presente especial aos seus convidados, ajudar a pagar o IPTU da Escola de Educação Infantil Cantinho Feliz, na Morada do Vale III, com a qual nunca teve relação.
A escola atende crianças entre três e cinco anos e meio, de famílias de baixa renda e, em muitos casos, a única alternativa para os pais que precisam trabalhar e precisam de cuidados com os filhos. Sem cobrar mensalidades, a instituição conta com o apoio da comunidade para se manter e oferecer quatro refeições por dia para os pequenos. A diretora administrativa, Margareth Borges conta que o custo é alto, mas a escolinha mantém pedagogo, nutricionista e todos os profissionais exigidos para dar o melhor atendimento aos alunos.
A escola terminou 2019 com 32 alunos. Alguns se formaram e devem ingressar no Ensino Fundamental, enquanto outros devem chegar. A estimativa da diretoria é ter entre 30 e 40 crianças este ano. Mas manter as contas em dia é bastante complicado, relata. “Estávamos com o IPTU atrasado, íamos para o terceiro ano sem conseguir pagar”, relata Margareth.
Veja como foi a formatura dos pequenos:
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Roseli, Rose para os amigos do CTG e da Paróquia Santa Ana, se define como uma pessoa festeira. E em 2019 já preparava a sua festa de 50 anos. Em meio à organização, uma decisão: aproveitaria a festa para ajudar uma entidade. Em setembro, os caminhos de Rose e da escolinha se cruzaram. Um amigo sugeriu a instituição para ser ajudada pela aniversariante. Rose conheceu o trabalho realizado na Cantinho Feliz e aceitou a proposta do amigo.
No sábado passado (11), 180 amigos festejaram o cinquentenário de Rose no CTG. Junto com o convite, cada pessoa recebeu a mesma mensagem:
Meta quase não foi alcançada
O objetivo era arrecadar R$3.500, para quitar o imposto devido pela escola. Mas, durante a festa, no momento de descobrir quanto havia sido arrecadado, veio a frustração. “Faltava muito. Tinha mais ou menos mil e setecentos reais. Chorei muito”, lembra Rose.
Mas ela não desistiu, junto com um amigo, foi ao microfone. Ambos explicaram a situação aos convidados, falaram sobre a dificuldade enfrentada pela escola. “Foi aí que o milagre aconteceu, o pessoal começou a dor mais, e conseguimos os R$3.500”, lembra a aniversariante, que chorou novamente, mas agora de emoção.
Durante a semana, a empregada se dividiu entre o trabalho e a emissão dos boletos para pagar a dívida da escola. Com multas e juros, o valor ultrapassou a quantia arrecadada e ela tirou do próprio bolso para pagar a diferença dos mais de R$4,1 mil. Na sexta-feira (16), após o trabalho, em Porto Alegre, ela foi até uma agência bancária e realizou o sonho.
Orgulhosa, Rose mostrou os recibos para a nossa reportagem, mas deixou claro que não buscava uma autopromoção. “Não queria me mostrar, mas acho que é importante para incentivar outras pessoas”, explica, revelando que o plano está dando certo e que outras três pessoas já lhe avisaram que planejam ação semelhante.