- Polícia
- 15 de julho de 2019
Delação leva polícia a concluir inquérito sobre a execução de ‘Godzilla’ no Caveirão da Morte em Gravataí
Foi em junho de 2015, na Operação Clivium, que um dos mais audaciosos planos de guerra na disputa de facções pelo comando do tráfico de drogas foi apresentado ao país. O ‘Caveirão da Morte’ era o veículo especial da facção comandada pelo residente da Rua da Ladeira, no bairro Morada do Vale II.
Sem os encostos traseiros, o Honda Civic foi adaptado com chapas de aço para fazer a proteção dos matadores em caso de um revide promovido pelos rivais, já que no Vale uma coisa era certa; “quando sai o caveirão, alguém ia morrer”, resumiu na época da apreensão o delegado Eduardo Hartz.
No porta-malas, um detalhe também chamava a atenção do veículo sedan de cor preta. Furos espalhados na lataria teriam sido feitos para escoar o sangue das vítimas. Três mortos já haviam sido identificados através de uma perícia feita pelo IGP. Entre as identidades estava a de Luís Antônio Oliveira Alves, o Godzilla – executado a tiros em abril daquele mesmo ano, no qual seu corpo foi localizado pela polícia no bairro Barnabé.
A delação e as revelações
Mesmo confirmando seu assassinato e sabendo para quem o ‘Caveirão’ servia, a polícia nunca tinha conseguido apontar e indiciar os responsáveis. No entanto, o caso, que estava parado na Delegacia de Homicídios de Gravataí foi retomado. Conforme o delegado Eduardo do Amaral, titular da Homicídios, a investigação analisou a delação premiada de dois traficantes ligados à Ladeira, e que aceitaram falar na época da Clivium com a condição da redução de suas penas.
Bastava a polícia apurar maiores detalhes e descobrir a motivação para a morte de Godzilla, já que ele seria um dos gerentes do tráfico e mantinha uma estreita relação com o ‘cabeça’ da organização criminosa de Gravataí. Em meio as delações, uma cita a traição de Godzilla com o patrão.
“Eles relatam que foi por conta de uma traição. O Godzilla começou a pegar droga de outro fornecedor e passou a vender, só que estava vendendo no território da Ladeira. Quando descobriram o patrão mandou o matador, responsável por operar o caveirão, executar Luís Antônio (Godzilla)”, conta Amaral, que já encaminhou o inquérito ao judiciário.
Para o delegado, o indiciamento por homicídio qualificado do chefe da Ladeira e de seu matador evita a impunidade e contribui para o enfraquecimento das organizações criminosas. “Primeiro é importante para mostrar que este crime não ficou impune, que a justiça foi feita. Outro é o enfraquecimento das facções, que conseguimos auxiliar para que estes dois, que são de alta periculosidade, permanecessem presos”, finalizou Amaral.
A maior operação policial da história de Gravataí
A Operação Clivium foi desencadeada na manhã do dia 25 de junho de 2015 com o objetivo de desarticular uma das maiores organizações criminosas da Região Metropolitana. Comandada pelo morador da Rua da Ladeira, a Clivium (ladeira em Latim), teve sua investigação montada em 11 meses e contou com o apoio de 612 policiais, terminando o ano como a maior operação da história de Gravataí, e a maior da última década no RS. Ao todo, 107 mandados de prisão foram cumpridos e 60 pessoas foram presas. Entre eles, gerentes, vendedores e matadores da facção.
Foram recolhidos também um caminhão cegonha, cinco motos e mais seis carros, incluindo veículos de luxo e blindados. Ao todo, a Justiça autorizou o sequestro de 30 veículos ligados a integrantes do bando. A suspeita é de que os automóveis eram utilizados como forma de lavagem de dinheiro. O chefe da Ladeira segue preso na Cadeia Pública de Porto Alegre.